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Samuel Wainer Jornalista e empresário brasileiro

Data incerta, 1912, Bessarábia

2/09/1980, São Paulo (SP)

Da Página 3 Pedagogia e Comunicação

28/10/2005 14h16

A crônica do jornalismo brasileiro moderno é a crônica da vida de Samuel Wainer. Criador de alguns dos mais importantes órgãos da imprensa brasileira, ele foi o único jornalista sul-americano presente no julgamento dos generais de Hitler, em Nuremberg, Alemanha, em 1945, e tornou-se uma lenda viva na história e nos rumos da imprensa nacional.

Sua importância política veio da participação como jornalista e intérprete do segundo governo Getúlio Vargas, de quem se tornou amigo.

Na década de 1950, fundou o jornal "Última Hora", no Rio de Janeiro, num tempo em que a informação escrita tinha muito poder. Wainer não escondia que era jornalista e também empresário preocupado com a sobrevivência de seu jornal: deixou claro que sua motivação estava atrelada a um pedido do governo Vargas.

Em 2005, foi relançada sua autobiografia, "Minha Razão de Viver: Memórias de Um Repórter", que já havia sido publicada parcialmente em 1987. Desta vez, o livro revelou sua verdadeira nacionalidade: Samuel nasceu na Bessarábia, que foi parte do Império russo e depois uma das repúblicas da ex-União Soviética, situada na Europa Oriental. E as perseguições aos judeus fizeram sua família emigrar para o Brasil, quando ele tinha seis anos de idade.

Mas por que isso era tão importante a ponto de precisar virar segredo?
No jogo político de forças contra Vargas, seus inimigos estavam obcecados em provar que Samuel, de origem judaica, não era brasileiro. Tinham, assim, a intenção de impedi-lo de dirigir uma empresa jornalística, atividade proibida por lei a qualquer estrangeiro - e o caso acabou tema de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado Federal. Foi por isso que 45 grandes intelectuais brasileiros assinaram um documento provando que Wainer tinha nascido na rua da Glória, no bairro paulistano do Bom Retiro.

Assim, segundo a vontade de Samuel, a verdade só poderia ser revelada 25 anos depois de sua morte, em setembro de 2005, quando todos os depoentes também já teriam falecido, segundo ele calculava.

O jornalista não escreveu suas memórias. Ditou-as em forma de entrevista a dois colegas - Sérgio de Souza e Marta Góes. As fitas gravadas foram transcritas duas décadas mais tarde, pela filha de Samuel com a colunista Danuza Leão, Pinky Wainer, e o texto foi organizado por Augusto Nunes, ex-redator chefe da revista "Veja".

Envolvido em acusações de corrupção, Wainer acabou por morar na França. Franco como sempre, em suas "Memórias" ele confirma ter recebido dinheiro de esquemas ligados ao governo Jango Goulart.

No entanto, além de sua sinceridade, o mais importante sobre ele é o fato de ter liderado uma revolução na imprensa brasileira do ponto de vista gráfico, de conteúdo e salarial. A Última Hora era um jornal ágil, movimentado, tinha várias edições por dia. E os repórteres de Samuel eram bem pagos - o que, segundo o escritor Fernando Morais, despertou o ódio de alguns donos de jornal, que tradicionalmente pagavam pouco.

"Um jornal vibrante, uma arma do povo", era o slogan do jornal que tinha como padrinho o presidente Getúlio Vargas e publicava colunistas como Chacrinha, Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) e Nelson Rodrigues.

O sucesso da "Última Hora" durou 20 anos: sobreviveu à morte de Vargas, à renúncia de Jânio, mas não à ditadura militar (1964-1985): em 1971, o jornal fechou as portas.

Segundo o escritor Affonso Romano de Sant'Anna, o livro de memórias de Samuel deveria ser adotado para o estudo da história contemporânea do Brasil e da relação entre o poder, a corrupção e o jornalismo.

Quando Wainer morreu, era colunista da "Folha de S.Paulo" e membro de seu conselho editorial. Em suas palavras: "Vivi uma experiência humana completa ao cumprir uma trajetória que me permitiu conhecer a ascensão, a glória e a queda".