03/01/2010 - 11h26

Responsabilidade social: ainda há muito a fazer

Na coluna da semana passada, procurei mostrar um balanço do que a responsabilidade social fez no segundo semestre de 2009. Lembro agora, através de alguns exemplos, que ainda há muito que fazer.

Sócia do BNDES na "lista suja"
Em junho, o governo federal incluiu na "lista suja" do trabalho escravo a Brenco, empresa da qual o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem 20% do capital. Entre o fim de 2008 e início de 2009, o BNDES colocou R$ 1 bilhão na empresa para implantar unidades de processamento de cana e plantação de lavoura em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, e, assim, passou a fazer parte do conselho de administração.

O aporte financeiro se deu meses após fiscais terem encontrado trabalhadores em situação degradante em Goiás e Mato Grosso. A Brenco negou as acusações e entrou na Justiça, conseguindo liminar que impede o ministério de incluí-la no cadastro.

Empresa brasileira, com investidores norte-americanos, a Brenco informou na época que ia investir, até 2015, R$ 5,5 bilhões para implantar dez unidades, "o que lhe permitirá uma capacidade de moagem de 44 milhões de toneladas por safra".

Criada em 2004 pelo Ministério do Trabalho, a "lista suja" informa quais as empresas e pessoas "flagradas com trabalhadores em situação análoga à escravidão".

O deputado do castelo
No início de julho, o Conselho de Ética rejeitou o parecer que pedia perda de mandato do deputado federal Edmar Moreira, conhecido como o "deputado do castelo". É bom não esquecer, entre outras, esta pérola dita em 6 de maio por Sérgio Moraes (PTB-RS) deputado federal, então relator do caso: "Estou me lixando para a opinião pública. (...) Vocês [imprensa] batem, mas a gente se reelege. (...) Todos sabemos que ele [Moreira] foi boi de piranha".

Ou ainda esta, do próprio Edmar Moreira (sem partido-MG), em 20 de maio, a respeito do seu castelo ao se defender no conselho: "Quis o destino que fosse em formato de castelo, poderia ter formato de iglu, piramidal".

Carne sem origem
No início de julho, a imprensa denunciou que o "comércio de carne bovina omite origem do produto". Enquanto supermercados diziam que o "consumidor não tem como saber procedência exata" e que "suspenderam compra de fazendas do Pará", foi encontrada carne de frigorífico daquele Estado "à venda em loja na capital paulista".

Professor como garoto-propaganda
Também em julho, saiu na imprensa que "escola usa professor para promover produto". Segundo as notícias, as redes COC e Dom Bosco ofereciam seus 4.800 docentes para ações de marketing que incluiam distribuição de brindes na volta às aulas. As escolas se justificaram dizendo não cobrar nada e que "a ideia é agradar aos alunos e criar um envolvimento maior com as suas ações".

Segundo a proposta das escolas encaminhada ao mercado publicitário, "os professores -'promotores de sua marca'- podem atuar em ações de merchandising nas portas de vestibulares nas quais distribuem brindes patrocinados (como chocolates, sucos e chicletes) e vestem camisetas com as marcas. Além disso, em sala de aula, os docentes podem dar produtos com cartões de boas-vindas na volta às aulas ou distribuir atividades extracurriculares no ensino infantil com o logotipo do patrocinador".

De acordo com matéria em jornais, "Recentemente, por exemplo, alunos do COC ganharam biscoitos recheados que acompanhavam um jogo de formar palavras trazendo impressa a marca da guloseima. Em outras ocasiões, fabricantes de chocolate distribuiram amostras com o objetivo de 'dar energia' aos estudantes.

* Com Lucila Cano