29/01/2010 - 06h36

Após educação, crédito é o mais importante na inclusão social

Não sei quem criou a frase, mas eu já a vi várias vezes: "Se um banqueiro pular a janela, pule atrás dele porque deve ser algum negócio muito bom".

Trata-se de uma crítica aos bancos que, de modo geral, e não importa a situação que o país esteja vivendo, sempre ganham muito dinheiro. Por isso, costumo ler todas as entrevistas de banqueiros, assim como de grandes empresários, no mínimo para poder questionar depois com argumentos mais consistentes.

Uma das mais recentes foi a entrevista que Fábio Colletti Barbosa, presidente do Grupo Santander Brasil e da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), deu ao informativo eletrônico do Instituto Ethos (10/6/2009). Ela me esclareceu muitas coisas e me levou a refletir.

A autorregulamentação dos bancos

Um ponto interessante foi o que ele falou do Sistema de Autorregulação Bancária, criado em setembro de 2008 pelos 15 maiores bancos atuantes no Brasil:

"A autorregulação bancária é um sistema de normas, criado pelo próprio setor, com o propósito básico de criar um ambiente ainda mais favorável à realização dos quatro grandes princípios que o orientam: 1) ética e legalidade; 2) respeito ao consumidor; 3) comunicação eficiente; e 4) melhoria contínua. Nesse sistema, os bancos estabelecem uma série de compromissos de conduta que, em conjunto com as diversas outras normas aplicáveis às suas atividades, contribuirão para que o mercado funcione de forma ainda mais eficaz, clara e transparente, em benefício de todos os envolvidos no processo: o próprio setor, seus consumidores e a sociedade, como um todo. O propósito maior do Sistema de Autorregulação Bancária é promover a elevação generalizada dos padrões de qualidade dos serviços prestados pelos bancos que o integram. Assim, ao contribuir para um melhor funcionamento do setor, como um todo, os consumidores deverão ser diretamente beneficiados por esse processo."

O fator mais importante para a inclusão social

Que as nossas taxas de juros são das mais elevadas do planeta todo mundo sabe. Por isso, não achei nada de novo na resposta que Fábio Barbosa deu a respeito das perspectivas para a redução das taxas de juros no Brasil:

"As perspectivas são de continuidade do processo de redução da taxa básica, a Selic, que comanda as taxas finais. À medida que a economia brasileira consolida as conquistas dos últimos anos, a tendência é o crédito se expandir e tornar-se mais acessível."

Mas o que veio em seguida me chamou muito a atenção: "O respeitado semanário inglês The Economist publicou um artigo mencionando um estudo que revelava que o crédito, depois da educação, é o fator mais importante para a inclusão social".

Então, pergunto, porque os bancos não baixam essas taxas? E aí entram questões bem concretas de que o discurso do governo e dos bancos a respeito de juros está em direção totalmente oposta à da revista inglesa.

Uma amiga foi ao banco pedir um empréstimo com os juros para aposentados. Como a prestação a ser paga só pode comprometer no máximo 30% do que o aposentado recebe, o número de prestações a serem pagas ia para cerca de 60 meses (cinco anos), fazendo com que, no final, os juros fossem o de qualquer empréstimo bancário.

O correto seria aplicar os juros para aposentados sobre o valor total emprestado e aí dividir esse valor em quantas prestações fossem necessárias para ela pagar a dívida sem ultrapassar os 30% do que recebe como aposentada.

Ou seja, se o crédito é uma forma de inclusão social, os juros deveriam variar de acordo com a verdadeira situação econômica da pessoa. Seja para financiar estudo, a compra de uma casa, o projeto de um microempresário ou qualquer outro tipo de necessidade.

* Com Lucila Cano