26/02/2010 - 05h56

A nossa saúde nas mãos das máfias farmacêuticas

De vez em quando, aparecem na imprensa matérias mostrando a diferença de preços de remédios de uma farmácia para outra, inclusive entre genéricos, criados justamente para baratear o custo em especial para aposentados e pessoas de menor posse.

Há depoimentos principalmente de aposentados que dispõem de mais tempo para pesquisar preços, sendo que alguns transitam entre cidades, porque a economia compensa o tempo gasto e até mesmo despesas com condução.

Aproveitando o 7 de março, Dia Mundial da Saúde, cito matéria reproduzida pelo site Envolverde (25/9/2009) e que foi escrita por Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol.

Jogo sujo contra novos medicamentos e genéricos

Com o sugestivo título de "Máfias farmacêuticas", o texto fala a respeito das "preocupantes conclusões do informe final publicado pela Comissão Européia, no dia 8 de julho, sobre os abusos em matéria de competição no setor farmacêutico" e que se encontram na internet.

Segundo o texto, "no comércio de medicamentos, a competição não está funcionando, e (...) os grandes grupos farmacêuticos recorrem a todo tipo de jogo sujo para impedir a chegada ao mercado de medicamentos mais eficazes e, sobretudo, para desqualificar os genéricos, muito mais baratos".

As consequências disso são que "o atraso no acesso do consumidor aos genéricos se traduz em importantes perdas financeiras, não apenas para os próprios pacientes, mas para a assistência social a cargo do Estado (ou seja, os contribuintes)".

"O período de exclusividade e proteção da patente do remédio original vence após uma dezena de anos, quando, então, outros fabricantes têm direito de produzir os genéricos, que custam cerca de 40% mais barato. A OMS (Organização Mundial da Saúde) e a maioria dos governos recomendam o uso de genéricos porque, por seu menor custo, favorecem o acesso equitativo à saúde das populações expostas a doenças evitáveis".

Uma nota de rodapé esclarece: "Recordemos que 90% dos gastos da grande indústria farmacêutica para o desenvolvimento de novos medicamentos estão destinados a 'doenças de ricos', que atingem apenas 10% da população mundial".

Um mercado de 70 bilhões de euros

Para a IMS (Intercontinental Marketing Services) Health (19/3/2000), o mercado mundial de medicamentos representa cerca de 70 bilhões de euros, e uma dezena de empresas gigantescas controlam metade desse mercado, sendo "seus lucros superiores aos obtidos pelos poderosos grupos do complexo militar-industrial".

Segundo Carlos Machado ("A máfia farmacêutica. Pior o remédio do que a doença", 5/3/2007), "para cada euro investido na fabricação de um medicamento de marca, os monopólios ganham mil no mercado".

Assim, diz o Informe da Comissão Européia, "os cidadãos têm de esperar, em média, sete meses mais do que o normal para ter acesso aos genéricos, o que se traduziu, nos últimos cinco anos, em um gasto extra desnecessário de aproximadamente 3 bilhões de euros para os consumidores e em 20% de aumento para os sistemas públicos de saúde".

A saúde é um problema sério, mas que nem sempre merece dos governos a atenção necessária. Por isso, é louvável o esforço de Barack Obama em reformar o sistema de saúde dos EUA, que deixa sem cobertura médica 47 milhões de cidadãos. Lá, os gastos com saúde representam o equivalente a 18% do PIB.

* Com Lucila Cano