05/03/2010 - 06h03

Balanço social: mais forma do que conteúdo

Em maio de 2005, escrevi aqui que, segundo o Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), "a função principal do balanço social é tornar pública a responsabilidade social da empresa. Isso faz parte do processo de pôr as cartas na mesa e mostrar com transparência para o público em geral, para os atentos consumidores e para os acionistas e investidores o que a empresa está fazendo na área social".

Eu seguia dizendo que "desde o início do século 20 há manifestações a favor desse tipo de comportamento. Mas somente a partir dos anos 60, nos EUA, e no início da década de 70, na Europa - particularmente na França, Alemanha e Inglaterra -, iniciou-se uma cobrança por maior responsabilidade social das empresas e consolidou-se a necessidade dos balanços sociais".

Lei de 1977 tornou o balanço obrigatório

Na França, em 12 de julho de 1977, foi aprovada a lei 77.769, que tornava obrigatória a realização de balanços sociais periódicos para todas as empresas com mais de 700 funcionários. Esse número caiu depois para 300 funcionários.

No Brasil, na década de 80, a Fides (Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social) criou um modelo de balanço social. Mas, só no início dos anos 90 algumas empresas passaram a fazer balanços sociais com as ações em prol da comunidade, do meio ambiente e dos funcionários. O balanço social da Nitrofértil, estatal da Bahia, feito em 1984, é considerado o primeiro do Brasil. O do Sistema Telebrás, em meados da década de 80, e o do Banespa, em 1992, compõem a lista dos balanços sociais pioneiros no país.

Inicialmente, no Brasil, o balanço social era voltado para o público interno. Ele passou a se voltar para o público externo em meados dos anos 90, com o movimento pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor e a Campanha contra a Fome, promovida por Herbert de Souza (Betinho), já falecido, e o Ibase.

No Brasil, fala-se muito em modelo de balanço social. A exemplo dos balanços patrimoniais, algumas empresas fazem luxuosos balanços sociais, que dificilmente são lidos por alguém mais além das pessoas que o fizeram e uns poucos da própria empresa que pagou pelo calhamaço. Em meados de 1997, Betinho e o Ibase passaram a chamar a atenção para um modelo único e simples de balanço social. O Ibase desenvolveu um em parceria com empresas públicas e privadas e lançou, em 1998, o Selo Balanço Social, fornecido às empresas que publicam anualmente o balanço.

Modelo global

Em 1997, foi criado nos EUA o GRI (Global Reporting Initiative), adotado pela ONU em 2002 e que virou uma instituição independente, com sede em Amsterdã, na Holanda.

Segundo a revista Exame (17/6/2003), o objetivo do GRI "é disseminar indicadores de sustentabilidade aplicáveis globalmente. A cada dois anos, o GRI consulta 2.000 pessoas espalhadas por 75 países - empresários, investidores, consultores, sindicalistas, pesquisadores e ambientalistas - para rever e ajustar seus índices". Em 2002, 135 empresas usaram os indicadores do GRI em seus relatórios anuais. Nos primeiros cinco meses de 2003, esse número passou a 253, em 26 países. Em 2005, estimava-se em 600 as empresas que usavam o modelo.

Para a Folha de S.Paulo (30/6/2009), "Os relatórios de sustentabilidade são um meio de informação cada vez mais demandado pela sociedade para conhecer a realidade das empresas, inclusive no que diz respeito aos seus problemas". No entanto, da mesma forma que em outros países, muitas empresas brasileiras que publicam balanços "ainda não incorporam as práticas relatadas às suas estratégias de negócios", segundo Ernst Ligteringen, presidente mundial da GRI.

No fundo, isso significa uma preocupação com a forma do balanço, para dar satisfação a uma lei, e não com o conteúdo do relatório. Esse, sim, deveria ser desenvolvido como uma análise para que pudessemos ver o real desempenho social das empresas.

* Com Lucila Cano