19/03/2010 - 17h29

Estamos destruindo nossa economia, cultura e valores?

"O Culto do Amador - Como blogs, My Space, You Tube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores", Andrew Keen, - (RJ: Zahar, 2007).

Já devo ter falado desse livro. Mas acho que foi pouco. Pois através dele é possível obter uma visão bastante crítica do que anda acontecendo com a explosão da internet, blogs, twitter, facebook e outras invenções dentro desse universo da rede.

Não saio em defesa dele, nem é o propósito desta coluna. No entanto, é importante saber o que expressa esse livro, para se refletir a respeito das nossas facilidades de comunicação.

É comum ouvirmos ferrenhas críticas e previsões quanto ao mundo da internet. Mas nunca vi nada igual a esse livro. A começar pelo título: "O Culto do Amador". É bem isso que ele quer mostrar: qualquer um que tenha um espacinho na web se julga dispor do que se convencionou chamar poder da comunicação. A expressão nasceu do duro trabalho de jornalistas em busca da informação, não importa onde ela esteja. E sempre foi graças aos esforços desses profissionais que a notícia foi construída e colocada ao alcance de milhões de pessoas.

Mas esse amador que nunca fez e nem sabe fazer nada no universo da comunicação se julga um profissional, porque em instantes alcança bilhões de pessoas pela instantaneidade da internet. E assim começa o culto a ele. Reverenciamos alguém que não fez nada, a não ser colocar na rede uma infomação qualquer, quase sempre sem nenhum valor.

A destruição do que se leva uma eternidade para construir
Revistas, das fontes de informação mais confiáveis que existem, estão em dificuldades por causa de blogs e sites gratuitos, que oferecem classificados igualmente grátis.

No primeiro trimestre de 2006, os lucros despencaram em todas as principais empresas jornalísticas dos EUA: 69% na New York Times Company, 28% na Tribune Company e 11% na Gannett, a maior empresa jornalística dos americana. San Francisco Chronicle perdeu 16% dos leitores só no 2º e 3º trimestres de 2005 e, em 2007, a Time Inc. dispensou quase 300 pessoas em especial redatores de revistas como Time, People e Sports Illustrated.

O gratuito está custando uma fortuna: Google, YouTube, MySpace, Craiglist e outros dificilmente substituirão o que estão destruindo "em termos de produtos produzidos, empregos criados, renda gerada ou benefícios concedidos" [o custo da democratização: eu+eu=0].

A matéria de capa da Business 2.0, de julho de 2006, perguntava "quem eram as pessoas 'mais importantes' na nova economia" e a resposta era "VOCÊ! O Consumidor como Criador" [o tradicional, revista impressa, louvando sua própria destruição].

A pessoa do ano para a Time em 2006 também foi VOCÊ!: "Sim, você. Você controla a Era da Informação. Bem-vindo ao seu mundo". "VOCÊ! Está tanto encomendando quanto resenhando os livros na Amazon.com, fazendo lances e leiloando bens na eBay, comprando e projetando videogames na plataforma Xbox da Microsoft, colocando e respondendo anúncios na Craiglist."

Cada anúncio gratuito na Craiglist é um anúncio pago a menos em algum jornal. Cada visita à Wikipedia é um cliente a menos para uma enciclopédia profissionalmente pesquisada e editada, como a Britannica, por exemplo.

"... inteligência artificial é um substituto pobre para o gosto". Nenhum software pode substituir "a confiança implícita que depositamos numa crítica de cinema".

Até setembro de 2004 não havia YouTube, enquanto sites gerados pelos internautas, como Wikipedia e MySpace, eram segredos bem guardados no Vale do Silício. Hoje 100 milhões de clipes são vistos por dia no YouTube e o MySpace, fundado em julho de 2003, tem mais de 98 milhões de perfis. Isso criou o neologismo "egocasting" (to egocast = ler, assistir e ouvir unicamente a mídia que reflete os próprios gostos e opiniões).

Com Lucila Cano