Sobre mães jovens e filhos
Por uma dessas coincidências que ocorrem vez por outra, comemoramos no mesmo domingo, 13 de maio, a Abolição da Escravatura e o Dia das Mães. Na época da assinatura da Lei Áurea, a princesa Isabel foi chamada de “a mãe dos cativos”. Infelizmente, por falta de planejamento, não da princesa, acredito, e sim da conjuntura, os escravos foram libertados, mas não amparados.
A eles, tudo foi negado: uma condição mínima de emprego, moradia, educação, integração à sociedade. As consequências dolorosas desse período da nossa história ainda são sentidas, 124 anos depois.
A data também propicia a informação de que entre as mães brasileiras, cerca de 20% são adolescentes, sendo mais da metade de jovens negras ou pardas e vindas de famílias pobres, de acordo com levantamento da ONG Visão Mundial, de outubro de 2011. Delas, 49% estão no Norte e Nordeste.
Avanços para comemorar
Em relação ao Dia das Mães, a queda de 20% nos índices de gravidez na adolescência entre os anos de 2003 e 2009 é um bom motivo para se comemorar.
Segundo a Visão Mundial, essa ocorrência foi mais frequente entre jovens de 15 a 19 anos. Um mês depois, em 16 de novembro de 2011, os indicadores sociais do último Censo do IBGE confirmaram a informação. Em 2000, 19% dos nascimentos se davam entre mulheres de 15 a 19 anos, sendo que esse percentual caiu para 18% em 2010.
A mortalidade, tanto das crianças quanto das próprias mães adolescentes é a grande preocupação de organizações como a Visão Mundial e a Save the Children, associada à Fundação Abrinq, no Brasil.
No final de abril, o IBGE anunciou que a mortalidade infantil caiu quase pela metade na última década – 47,5% entre 2000 e 2010 – e que a maior queda foi justamente no Nordeste: 58,6%.
O aumento da escolaridade e a melhoria na renda da população são os fatores que justificam esse índice na região, a despeito de ela ainda ter o maior percentual de mortes de menores de um ano de idade no país: 18,5 óbitos por mil crianças nascidas. No Censo de 2000, esse número era de 44,7 óbitos por mil crianças nascidas.
Logo em seguida vem a região Norte, com 18,1 óbitos por mil crianças nascidas. Há dez anos, esse número era de 29,5 óbitos por mil nascimentos na região.
Números para refletir
Em 2004, a organização Save the Children divulgou um relatório sobre a situação das mães no mundo. No tocante ao Brasil, o documento dizia que 17% das adolescentes entre 15 e 19 anos estavam casadas ou já haviam se casado alguma vez e que o índice de mortalidade infantil relativo a mães com menos de 20 anos era de 5,7 a cada mil nascimentos.
O relatório dizia que bebês de mães adolescentes corriam 50% mais risco de morte antes de completar um ano do que os nascidos de mulheres com idade acima dos 20 anos. Com esse quadro, o Brasil se colocava em 45º. lugar entre 119 países de uma lista anual sobre a maternidade.
A pesquisa da Visão Mundial (de outubro de 2011), com base em dados do SUS e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revelou que a cada 24 horas, nove crianças com menos de um ano de idade, filhos de adolescentes, morrem no Brasil. Da mesma fonte, em 2009, morreram 42.684 bebês, 20% deles filhos de meninas de 10 a 19 anos.
No início de maio deste ano, a Fundação Abrinq/Save the Children divulgou análise sobre a redução da mortalidade infantil na última década, lembrando que, a despeito do resultado positivo no geral, o país não pode desviar sua atenção das populações menos favorecidas, em especial aquelas do semiárido nordestino.
Segundo a organização, de um estudo que realizou em 37 municípios (35 em Pernambuco e dois na Bahia), somente 10 tiveram taxa de mortalidade infantil menor que as médias do Brasil e do Nordeste.
Tanto a Visão Mundial quanto a Fundação Abrinq/Save the Children desenvolvem campanhas nacionais no sentido de reduzir os índices de mortalidade de mães e filhos, com especial atenção às regiões que apresentam indicadores mais altos.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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