Topo

Criatividade social

Lucila Cano

01/06/2012 06h00

Criatividade tem a ver com estratégia, com maneira de pensar inusitada, que desperta a atenção e que é reconhecida quando, além do brilho, funciona e produz resultados. A criatividade está presente em tudo, embora passe despercebida para a maioria das pessoas.

Está certo que alguns nascem feitos, o que significa ter sorte, talento, inteligência acima da média. Com criatividade, esses privilegiados ficam ainda melhores. Quanto aos demais mortais, o exercício da criatividade também ajuda muito e a todos é permitido. Porque quanto mais se pratica, assim como a ginástica que molda o corpo, a criatividade areja a mente e rende benefícios.

A criatividade é mais lembrada no futebol, nos campos das artes e da comunicação, na gastronomia e até na política. Ela está sempre associada a atividades artísticas, mas é elemento diferenciador daqueles que são bem-sucedidos também nas matérias ditas exatas.

Para copiar e multiplicar

Ao social, a criatividade se aplica muito bem e tem dado mostras de ideias e programas que deveriam ser copiados e multiplicados. Há poucos dias, uma reportagem na televisão exibiu como funciona a coleta solidária na periferia de Caxias do Sul (RS).

Como a periferia da cidade se estendeu por terrenos acidentados, muitos locais eram inacessíveis aos caminhões de coleta de recicláveis. A prefeitura fez um acordo com agricultores da região, comprando a produção de frutas e verduras por preço justo. De outro lado, chamou os moradores a levarem os recicláveis para as praças dos bairros que participam do programa. Isso ocorre quinzenalmente e a cada quatro quilos de material reciclável corresponde um quilo de alimentos, direto do produtor para o consumidor.

Segundo a reportagem, a prefeitura de Caxias do Sul toca esse programa com R$ 40 mil mensais e atende 1.500 famílias. Mais de 220 toneladas de frutas e verduras foram trocadas por cerca de 900 toneladas de recicláveis desde o início da ação, em 2009. Atualmente, a cidade recicla quase 25% do lixo que produz. Eis aí um programa criativo. Resolveu um problema da prefeitura, beneficia agricultores e cidadãos em geral, cuida do meio ambiente e mantém a cidade limpa.

Cultura e informação

Em São Paulo, uma parceria da Editora Unesp com a prefeitura e a Imprensa Oficial do Estado resultou no projeto “De mão em mão”, que está distribuindo livros gratuitamente em alguns terminais de ônibus da cidade.

O projeto data de 2011, quando foram distribuídos 11 mil livros de “Missa do galo”, de Machado de Assis. Neste ano, o número de exemplares cresceu para 40 mil, sendo 20 mil do título “Contos paulistanos”, de Antônio de Alcântara Machado, e 20 mil de “A nova Califórnia e outros contos”, obra de Lima Barreto.

Não há prazo para a devolução dos livros e, supondo-se que ele passe pelas mãos de ao menos três pessoas por família, fica a esperança de o projeto sensibilizar 120 mil leitores.

No Rio de Janeiro, a realização da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, inspirou a vereadora Tânia Bastos a criar um projeto de lei que obriga o executivo municipal a produzir uma cartilha sobre o evento.

A proposta é levar aos alunos da rede municipal e aos funcionários do município do Rio um informativo que explique os temas e acordos firmados na reunião. Segundo a vereadora, a cidade vai parar durante três dias e nada mais justo do que informar a todos sobre os acontecimentos.

Na verdade, o Brasil inteiro precisa ser informado dos avanços da Rio+20 por todos os meios apropriados e de acordo com os recursos disponíveis.

Assim como os exemplos aqui citados, há uma imensidade de ideias fervilhando nas cabeças pensantes do país. Algumas melhores, outras piores, nem todas passíveis de realização e de resultados, mas todas bem-vindas ao caldeirão da criatividade.

Se desde pequenos fossemos estimulados a exercitar a criatividade, a nossa história se faria com mais leitores, mais inventores, mais cientistas, mais empreendedores, mais transformadores sociais.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.