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Quem quer ser um professor?

Lucila Cano

18/10/2013 06h00

A Coréia do Sul é sempre lembrada como exemplo de excelência no ensino. Quase toda a população é alfabetizada e mais de 60% dos jovens têm nível universitário. A valorização do professor parece ser o segredo de sucesso do modelo asiático que paga bons salários e que, em contrapartida, exige formação superior em nível de mestrado, a começar por quem leciona em educação básica.

Não podemos, nem devemos comparar o país de cerca de 50 milhões de habitantes e de pouco mais de 99 mil km² com o Brasil. Mas podemos, e devemos, nos inteirar das práticas educacionais que dão certo na Coréia do Sul para, por que não, analisar a sua viabilidade por aqui.

Assim como na Ásia, há boas práticas de ensino em outros países que deveriam ser melhor conhecidas por nós. Na Finlândia, por exemplo, onde todas as escolas são públicas, os professores são selecionados entre os melhores de cada turma de graduados. A atenção ao aluno ultrapassa os limites da sala de aula. Inclui alimentação e cuidados de saúde a cargo de médicos e dentistas.

Bons exemplos

Além daqueles de excelência em infraestrutura, não faltam exemplos de bons métodos de ensino. A Escola da Ponte, em Portugal, exportou para nós uma educação mais humanizada. Derrubou as paredes das salas de aula e um jeito convencional de estudar. O método admirado no Brasil é seguido pela ONG Projeto Âncora, criada há 18 anos e sediada em Cotia, na Região Metropolitana de São Paulo. Este ano, a organização está entre as semifinalistas da 10ª edição do Prêmio Itaú-Unicef/Regional São Paulo.

No Ceará, em Eusébio, a Associação Estação da Luz é outro projeto que começou em 2004 como creche, aplicando o programa do indiano Sathya Sai Baba de educação em valores humanos. Hoje, as atividades se estendem a crianças, jovens e até mesmo adultos, através de incentivos à educação, cultura, esporte e profissionalização. Em 2012, com o seu Projeto Educare, a associação foi a vencedora do Prêmio Criança da Fundação Abrinq/Save the Children.

Esses são apenas alguns bons exemplos entre muitos que existem no Brasil, mais por iniciativa de ONGs quase sempre mantidas por empresas e/ou empresários.

Quando o governo federal se compromete a investir mais na educação com os recursos advindos da exploração do pré-sal, tais contribuições deveriam ser vistas com carinho. Educação de qualidade implica altos investimentos. Mas, além do dinheiro, nosso país precisa de uma grande transformação no sistema de ensino.

Vocação para o sacerdócio

Quem quer ser um professor? Todos acham a profissão belíssima, um “verdadeiro sacerdócio”, mas fogem dela como nunca antes neste país. Há um déficit anunciado de cerca de 700 mil professores para suprir as demandas do ensino fundamental e do ensino médio.

Sabemos, por notícias recentes, que há escolas fazendo rodízio de aulas por falta de professores de ciências exatas, como química e física. Neste 15 de outubro, professores trocaram a comemoração do seu dia por manifestações em favor de salários mais dignos.

Não são só os salários que estão defasados. O respeito aos professores também. Eles são vítimas de muitas formas de violência, entre elas a falta de oportunidade para estudar mais. Esta é uma profissão em que estudar é preciso, sempre.

O Ministério da Educação procura fazer sua parte, mas parece caminhar em descompasso com a urgência que temos. Em setembro lançou o programa “Quero ser professor, quero ser cientista” que, inicialmente, oferecerá 40 mil bolsas de estudo para despertar a “vocação” de docente entre estudantes do ensino médio da rede pública.

Só se sai bem em qualquer profissão quem gosta do que faz. Ser professor é exercer uma profissão digna, bonita e relevante para o país. Para começar, precisamos trocar o sentido de “vocação” pela valorização de nossos professores. Acredito que, assim, o dinheiro do pré-sal será melhor empregado e nossos estudantes, em todos os níveis, terão condições de se preparar não só para o trabalho, mas para a vida.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.