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Informação e aquecimento

Lucila Cano

25/10/2013 09h51

A cartilha do etanol (www.etanolverde.com.br) diz que “no ciclo de produção, desde o cultivo da cana-de-açúcar até o escapamento dos veículos, a emissão de gases de efeito estufa pelo uso do etanol é 90% inferior à gerada pela gasolina!”.

A publicação procura responder questões frequentes de quem é leigo no assunto como, por exemplo: qual a melhor relação custo/benefício, se do álcool ou da gasolina; a ameaça do cultivo da cana-de-açúcar em áreas da Amazônia; a escassez de alimentos, caso algumas culturas sejam substituídas pela cana e assim por diante.

O site tem um marcador, o “carbonômetro”, que registra o número de quase 190 milhões de toneladas de CO², que correspondem à quantidade de emissões evitada pela frota brasileira de carros flex desde março de 2003 até janeiro de 2013.

Outra curiosidade é a calculadora CO² que simula a quantidade de CO² emitida pelo uso dos combustíveis (gasolina ou etanol).

Como todos sabem, CO² é símbolo do gás carbônico, um dos responsáveis pelo efeito estufa que provoca o aquecimento global. Quanto maior a emissão de CO², maior o aquecimento e maiores os danos ambientais: grandes períodos de seca, tempestades, degelo polar, inundações. Além disso, temos que considerar os danos à saúde dos seres humanos e animais, igualmente afetados por temperaturas muito acima ou abaixo da média.

Conforto igual a consumo

Cada vez mais cientistas e ambientalistas insistem na necessidade da mudança de hábitos de consumo, para que haja uma diminuição da quantidade de CO² na atmosfera. Outros, entretanto, alegam a autorregeneração do planeta, sem que precisemos deter o crescimento.

Não sabemos com quem está a razão, embora sejamos testemunhas e, às vezes, protagonistas, de situações críticas de mudanças ambientais mais e mais constantes, mais e mais violentas.

A maior parte da população brasileira passa ao largo do que toda essa conversa de aquecimento global significa. A maioria que vive nas cidades está às voltas com problemas do seu universo particular. Na cesta de preocupações estão a dificuldade e o tempo perdido para ir e vir do trabalho; a má alimentação; o sono atrasado; as dívidas; os sonhos reprimidos de consumo. Como convencer essas pessoas a viajar menos e comprar menos para diminuir o aquecimento global? Nossos modelos de conforto se resumem ao consumo.

Nos extremos da sociedade urbana, os mais abastados dependem dos blindados ou de escoltas motorizadas para se defenderem da violência, enquanto os menos favorecidos não têm água encanada nem esgoto tratado na porta de casa. Quanto de gases de efeito estufa esses extremos produzem?

Nas áreas rurais, já é possível transformar em energia o gás metano provocado pelo gado. Mas, como nas cidades, falta explicar ao homem do campo o que fazer para reduzir o aquecimento global em várias ações do seu cotidiano.

O crescimento da população em todo o mundo provocou uma desordem ambiental grave. Não temos como voltar o filme. Talvez, sim, possamos desacelerar.

A comunicação pode ajudar

Não é de hoje que muitos cientistas estudam maneiras menos poluentes de desenvolvimento e como aplicá-las à indústria, à produção de bens, ao consumo e aos padrões de conforto. A indústria automobilística, por mais que os automóveis sejam alçados a “vilões” da história, é das que mais avançaram em pesquisas e aplicações práticas para a redução dos gases de efeito estufa. O mesmo ocorre em muitas outras atividades.

De outro lado, a comunicação pode ajudar no entendimento e na adesão dos cidadãos. É preciso que haja um esforço coletivo para prestar informação clara, direta e simples sobre o que cada um de nós pode fazer para evitar os perigos do aquecimento global. Bom seria se essa fosse uma missão de todos, não só no noticiário, mas no diálogo das novelas, na entrevista do artista famoso, na declaração do jogador de futebol, no site de moda, na embalagem de alimentos.

Reduzir o aquecimento global é mudar o jeito de viver e, para isso, quanto mais informação, melhor.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna