Histórias que mudam a história

Para marcar a passagem do Dia Nacional do Cego em 13 de dezembro, a Fundação Dorina Nowill, de São Paulo, divulgou informações sobre as suas atividades e relatou o exemplo de Laís Nascimento, 25 anos, atendida pela instituição há um ano e meio.

No Rio, a Urece, ONG formada por deficientes visuais que ensinam futebol para outros deficientes visuais, comemorou o 3 de dezembro, Dia Internacional do Deficiente, com a conquista do segundo lugar no Prêmio Shell Iniciativa Jovem de empreendedorismo. A primeira colocação foi para a Nós Todos Filmes, também do Rio. A empresa é parceira da Urece e se dedica à comunicação acessível para pessoas com deficiência visual e auditiva.

A história da Laís

Laís foi diagnosticada com um glaucoma logo que nasceu. Enxergou até os 22 anos, quando perdeu a visão subitamente. No relato publicado pela Fundação Dorina Nowill, ela diz: “Estava trabalhando, quando a pressão do meu globo ocular aumentou. Desmaiei e perdi a visão no mesmo momento. Fiquei meio desorientada, mas recebi muito apoio da minha família quando soubemos que a vida seria diferente”.

Ela passou por quatro cirurgias sem sucesso. Com o apoio da mãe, ingressou na fundação e conta: “Frequento a fundação há um ano e meio e a tudo que é oferecido eu me candidato. Fiz a reabilitação para aprender a me locomover sozinha pela cidade, fazer os cursos e manter minha independência. Na Fundação Dorina, fiz o curso de Informática, de Rotinas Administrativas e estou terminando o curso de Avaliação Olfativa para Pessoas com Deficiência Visual”.

Laís é a representante de turma no curso de Avaliação Olfativa e tenta participar de todas as atividades propostas pela instituição: “Meu maior sonho é voltar ao mercado de trabalho. Então, me envolvo em todas as formas que percebo que poderão enriquecer meu conhecimento e na Fundação Dorina tenho tido muitas oportunidades”.

Duas alunas do curso de avaliação olfativa criaram a fragrância da colônia Amor, produzida pela empresária Tania Bulhões. O resultado da venda é revertido para a Fundação Dorina Nowill que, anualmente, atende cerca de 1.500 deficientes visuais.

A história do prêmio da Urece

Há algum tempo escrevi sobre a Urece e o trabalho de seus fundadores, portadores de diferentes deficiências, com predomínio da deficiência visual, que ensinam futebol e outros esportes para pessoas cegas ou com visão subnormal.

Quando criaram a Urece em 2005, os rapazes bons de bola perceberam que não eram tão bons para gerir a associação. Buscaram capacitação no programa Shell Iniciativa Jovem de empreendedorismo. O programa é contínuo, com duração de 12 meses para cada turma e direcionado a jovens de 20 a 34 anos.

Em 2009, a Urece criou a primeira equipe de futebol para mulheres cegas e enfrentou dificuldades para manter o esporte no país. Os rapazes logo entenderam que precisavam agir para a transformação social e romper preconceitos. Ingressaram em organizações, como a Rede do Esporte pela Mudança Social e a Street Football World Brasil. Estiveram na ONU, para discutir o futuro das pessoas com deficiência no mundo e foram selecionados para receber apoio dos projetos de responsabilidade social da Fifa.

Durante a Copa do Mundo, o time da Urece trabalhará para oferecer serviços de audiodescrição em português para deficientes visuais nos estádios do Mineirão (BH), Nacional de Brasília (DF), Maracanã (RJ) e Arena São Paulo (SP).

Com o crescimento da associação, a questão administrativa voltou a preocupar. Novamente, o pessoal da Urece se inscreveu no programa Shell Iniciativa Jovem, para refazer o seu plano de negócios e planejar o futuro.

Tanto empenho resultou em mais conhecimento e em uma grande satisfação. O programa promoveu uma feira de negócios que recebeu 1.400 inscritos. Entre os 34 finalistas, a Urece conquistou o segundo lugar do Prêmio Shell Iniciativa Jovem de empreendedorismo. Para completar, a Nós Todos Filmes ficou em primeiro lugar.

*Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.