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Um mundo mais gentil para você

Lucila Cano

27/12/2013 06h00

Todo mundo gosta de ser bem atendido. Um garçom simpático, uma recepcionista atenciosa, um porteiro sorridente fazem toda a diferença no bar, no restaurante, no hotel, no saguão de entrada de empresas e demais edifícios comerciais.

É por isso que entre todos os setores produtivos, o de serviços é o que mais se destaca por investir no desenvolvimento de seus colaboradores. Não apenas para que eles aprendam as técnicas e os procedimentos corretos das funções que exercem, mas para que entendam a importância do bom relacionamento e o coloquem em prática no cotidiano.

Gentileza dá resultado, conquista a fidelidade de clientes, gera um clima de camaradagem entre os colegas de trabalho e faz bem para quem é gentil. Raramente, um sorriso e uma atenção não são retribuídos da mesma forma.

Em falta

Faz tempo que não escrevo sobre a gentileza. É que ela anda tão em falta que a gente até se esquece de que o mundo fica bem melhor com ela. Bastou uma caminhada pelo parque para me lembrar disso: O casal de idosos andava a passos lentos para atravessar a faixa de ciclistas. Os dois nem se deram conta de que um ciclista vinha pedalando devagar, bem perto deles. O rapaz percebeu que os idosos estavam desatentos e parou para esperar que saíssem da faixa. Mas não esperou o suficiente. Faltou paciência. Chamou a atenção dos idosos, que se sentiram ofendidos e, assim, começou um bate-boca desnecessário para uma bela manhã de sol.

Nunca me dei ao trabalho de contar, embora me sinta tentada às vezes. Raros são os que agradecem com um sinal de cabeça ou de mão a cada vez que dou passagem para os seus carros na rua. Por sinal, mais raros ainda são aqueles que dão passagem para os outros carros.

"Bom dia", "boa tarde" ou "boa noite" em elevador parece coisa de extraterrestre, ou já ficou fora de moda. Quase ninguém se cumprimenta ao entrar, muito menos ao sair do elevador.  Por falar em elevador, o que também ocorre em entrada e saída de metrô, ninguém mais espera sair quem está dentro para depois entrar. Nos edifícios comerciais, deixar que mulheres e pessoas mais velhas entrem primeiro no elevador é coisa do passado. Já caducou. Agora, é cada um por si e quem perder a vez que espere o próximo.

Responder e-mail, então, é uma questão de conveniência, principalmente no ambiente de trabalho. Se o que se pede é do interesse do destinatário, ele responde. Se não for do seu interesse, ele simplesmente ignora. As pessoas preferem fazer de conta que não receberam uma mensagem a responder sim ou não a uma solicitação, por mais simples que ela seja.

Sei que generalizo. Não é assim com todo mundo. Há exceções e elas são cada vez mais notadas, justamente por isso: o que deveria ser regra de bons costumes e convivência social está se tornando exceção.

Em transformação

Essas situações são apenas algumas de uma extensa lista de oportunidades que temos todos os dias para demonstrar entendimento, respeito, cordialidade e que deixamos de aproveitar. Tudo indica uma prevalência do individualismo quando, na verdade, precisamos cada vez mais uns dos outros.

As pressões de um mundo que valoriza o poder e o consumo embaçam a visão, tolhem o entendimento e reduzem as pessoas a máquinas de fazer coisas. Talvez por isso ninguém mais tenha tempo para ser gentil. Talvez por isso tantos se surpreendam com gestos simples, como o aperto de mãos entre Barack Obama e Raúl Castro no funeral de Nelson Mandela.

Em um mundo de conflitos sociais, desigualdades, indefinições, desrespeito à liberdade, precisamos de mais e mais apertos de mão, abraços e muitos beijos.

Aproveito o momento propício para a confraternização de ano novo e deixo ao leitor o meu agradecimento por sua companhia, com votos sinceros de que estejamos sempre dispostos a nos transformar em pessoas melhores; que tenhamos a coragem de assumir nossos erros e aprender com eles; que possamos ouvir mais e agradecer mais; que sejamos mais gentis.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.