Topo

Alegria no caos

Lucila Cano

24/01/2014 06h00

Um grupo de jovens escolheu fazer do 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo, um bom motivo para o trabalho voluntário em uma escola. Para eles, escola limpa, pintada, bem conservada e com uma comunidade atuante só pode contribuir para que ela também seja uma boa escola.

Com esse objetivo em mente, os participantes do grupo “Alegria no Caos” resolveram preparar um volta às aulas colorido e especial para as crianças que estudam na Associação de Apoio à Infância e Adolescência Nossa Turma.

A escola funciona dentro da Ceagesp - a Central de Abastecimento do Estado de São Paulo que mais parece uma cidade. Por lá circulam diariamente milhares de pessoas, entre trabalhadores e compradores, sem falar da movimentação de caminhões e do incessante trabalho de carregar e descarregar mercadorias.

Cerca de 500 crianças e adolescentes, filhos de funcionários da Ceagesp e de moradores carentes da região frequentam a escola. Depois da passagem da turma da “Alegria no Caos”, disposta a pintar suas paredes no feriado, certamente alunos e professores retomarão as aulas com mais alegria.

Com o apoio da ONG Melhoramundo e a ajuda de muitos voluntários, a Associação Nossa Turma é das primeiras beneficiadas pela ação de um grupo de amigos que, de maneira despretensiosa, quer fazer gentilezas e conquistar sorrisos, mas não só isso.

Fazer mais pela cidade

André Saldiba, idealizador do projeto “Alegria no Caos”, diz que o grupo não quer apenas sonhar com crianças sorrindo: “Queremos tornar isso uma realidade, hoje, aqui e agora. Um grupo de amigos, como é o nosso caso, é capaz de crescer e fazer muito pela cidade”.

Há poucos dias, por exemplo, os jovens souberam de um incêndio que atingiu uma comunidade carente em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Rapidamente se mobilizaram, juntaram algumas doações e levaram leite e fraldas descartáveis para os moradores.

O grupo não tem planos definidos, nem regras associativas. O próprio nome surgiu ao acaso, quando Saldiba reuniu amigos e amigos dos amigos com a ideia de promover ações de solidariedade e atos de gentileza na cidade. Um dos amigos perguntou se a ideia seria como levar alegria no caos e assim ficou: “Alegria no Caos”.

Sem número fixo de participantes, receptivo a novos voluntários e com liberdade de cada ação contar com um grupo diferente, com mais ou menos pessoas, a turma não se restringe aos que aparecem. Há quem colabore com doações, comprando algum item ou até cuidando da produção, preparando materiais para que uma ação aconteça.

Flores por sorrisos

A primeira intervenção do pessoal do “Alegria no Caos” foi pouco antes do Natal, em 20 de dezembro. Por volta das 19h, um grupo de aproximadamente 30 amigos se reuniu no vão livre do MASP para combinar a ação: distribuir rosas em troca de sorrisos.

O objetivo era simples. Se na época de final de ano não era possível mudar o trânsito, que ao menos se mudasse o astral das pessoas. Por isso a escolha da avenida Paulista, cenário de uma grande concentração de pessoas e com trânsito intenso, “caótico”, como diriam alguns.

Foram distribuídas mil rosas entre pedestres e motoristas. Todos os presenteados retribuíram com sorrisos e muitos se interessaram em saber da ação do grupo. Um vídeo registrou alguns momentos e reações: Uma senhora beijou a jovem que lhe deu uma rosa; um rapaz retribuiu a flor com um sorriso e o comentário “você já alegrou a minha noite” e uma garota, surpresa com a gentileza, disse: “Hoje, a gente não ganha mais nada”.

Sei que, como o grupo “Alegria no Caos”, existem outros pelo país envolvidos com causas sociais e com ações de solidariedade. São grupos de jovens que acreditam que a união faz a força e a gentileza faz a diferença.

Através de suas ações e do trabalho voluntário, eles escolheram ser agentes de transformação da sociedade que temos hoje para uma sociedade melhor. Vamos torcer para que se multipliquem.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.