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Sonhar acordado

Lucila Cano

07/02/2014 06h00

Doações de dinheiro, agasalhos, brinquedos e alimentos ainda são muito necessárias em sociedades tão desiguais quanto a nossa. Mas, de certo modo, elas são realizadas a distância, sem a presença física do doador. Com a prática crescente do voluntariado, a filantropia agora também possui a marca da doação pessoal. Mais do que qualquer outro item material, o voluntário doa atenção, carinho, trabalho, cuidados.

Como diz o comercial do cartão de crédito, isso não tem preço, mas se materializa em leituras, brincadeiras e festas nos asilos, orfanatos e hospitais; mutirões de reformas e construção de casas; criação de brinquedotecas e de hortas comunitárias; aulas de reforço escolar; oficinas de artesanato e muito mais.

Um bom exemplo é uma ação de voluntariado jovem que reafirma a importância da filantropia para quem dá e para quem recebe. Assim é a ONG Sonhar Acordado, que cultiva valores e princípios de cidadania nos voluntários e nas pessoas que eles beneficiam.

Bom para quem dá e para quem recebe

Criada em 1998 por jovens de Monterrey, México, a Sonhar Acordado chegou ao Brasil no mesmo ano e hoje possui unidades em várias cidades. Com base nos valores da amizade, respeito, sinceridade e solidariedade, a ONG quer agregar jovens dispostos a fazer o bem, criar elos de responsabilidade social e ajudar no desenvolvimento de uma nova sociedade em benefício de crianças de baixa renda.

O objetivo aparentemente ambicioso é o que move jovens (em Campinas são cerca de 450 voluntários fixos) a mensalmente participar de três programas contínuos: Sonhando Juntos, Amigos para Sempre e Preparando para o Futuro.

Os voluntários que atuam no programa Sonhando Juntos são capacitados para desenvolver atividades educativas e recreativas com crianças portadoras de doenças crônico-degenerativas. Essa tarefa desafiante é realizada junto às equipes médicas responsáveis pelos pacientes e procura identificar os sonhos ou desejos dessas crianças. Sempre que um sonho é descoberto, todos se mobilizam para realizá-lo da maneira mais especial possível.

Durante pelo menos um ano, os jovens participantes do programa Amigos para Sempre doam horas do seu tempo para desenvolver atividades que estimulem as crianças a apreender valores, a partir de laços de amizade e da construção de um ambiente saudável. Eles ouvem e são ouvidos. Trocam histórias e brincadeiras e, assim, aproximam dois universos distintos, tendo por objetivo expandir horizontes e criar perspectivas de futuro.

O programa Preparando para o Futuro é destinado à formação pessoal e profissional de adolescentes na faixa entre 13 e 16 anos, que estejam em situação de risco social. Nessa atividade, os voluntários motivam e orientam os adolescentes para que eles adquiram as competências necessárias para a inclusão social e a inserção no mercado de trabalho.

Natal, Dia do Sonho e Superação

Além dos programas contínuos, a Sonhar Acordado realiza duas grandes festas – Natal e Dia do Sonho – e promove campanhas, como a de Superação, na qual os voluntários se unem em atividades de construção em comunidades carentes.

Por não possuir uma fonte de renda fixa, é nas festas e eventos beneficentes que a ONG recebe apoio de patrocinadores. O Dia do Sonho, por exemplo, é uma festa na qual instituições parceiras reúnem suas crianças em uma grande área (geralmente um estádio). Com atenção permanente dos voluntários, as crianças podem vivenciar um dia mágico, com atividades lúdicas, esportivas e culturais.

Na região de Campinas e Valinhos, a Sonhar Acordado atua junto a 10 instituições assistenciais. Mas ela também está no Rio (onde tudo começou), Fortaleza, Brasília, Curitiba e outras cidades do país.

Fica a dica para quem começa a descobrir que sonhar vale a pena e a frase de Paula Usier, uma das diretoras da Sonhar Acordado em Campinas: “O rapaz ou a moça fazem da responsabilidade social uma pauta para o próprio cotidiano. O trabalho voluntário cultiva valores para o resto da vida”.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.