Topo

Clima favorável a mudanças

Lucila Cano

04/04/2014 11h29

Nossos pais não receberam aulas de educação ambiental. Mas herdaram de seus antepassados o gosto pelas hortas domésticas, pelos pequenos pomares e pelos jardins bem cuidados.

Um pé de manjericão no quintal significava ter o prazer de um perfume inconfundível no molho do macarrão de domingo. Não tinha nada a ver com crises de consciência a respeito da escassez de alimentos no mundo.

É certo que tampouco nós fomos educados para entender e manter uma relação de equilíbrio entre progresso e natureza. Ao contrário de nossos pais, que foram menos atingidos pelo volume de informação de que dispomos, não podemos negar que, se não sabemos, ao menos já ouvimos falar das crises ambientais que vêm por aí.

Melhor do que nós, as novas gerações tomam contato com a educação ambiental na sala de aula e levam o entusiasmo de suas descobertas para casa.

Vale a pena atentarmos para os ensinamentos que nos chegam dos jovens instrutores ambientais. Eles são os principais interessados em um planeta mais estável para a vida e nós devemos essa herança a eles. Temos capacidade de aprender e transformar nossa relação com a natureza. Só precisamos praticar.

Equilíbrio

No início, falava-se em 10 países. Depois, o número de países envolvidos na busca do avião desaparecido na rota Malásia/China subiu para 26. Se não houve êxito na localização de possíveis destroços, houve a confirmação do malfeito humano. Radares identificaram grandes quantidades de lixo no Oceano Índico.

Em outras oportunidades, menos dramáticas, mas igualmente tristes, expedições oceanográficas denunciaram ilhas de lixo no Pacífico e no Atlântico. E a gente que se gabava de viver no planeta azul!

Há poucos dias, a ONU encerrou mais um painel do clima. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) é realizado periodicamente desde 1988 e reúne cientistas de todo o mundo. As avaliações desses especialistas sobre as alterações climáticas do planeta servem de guia para que governos busquem soluções sustentáveis. Em outras palavras, para que continuemos progredindo, mas em equilíbrio com a natureza.

Tal equação parece ser o maior de todos os desafios para o ser humano, porque transcende a ação dos governos. Por mais que façam – e estão aí para servir aqueles que os escolheram como seus representantes –, precisamos considerar que eles podem tomar decisões erradas. Por outro lado, se não houver uma transformação nos hábitos de consumo de cada um de nós, dificilmente conseguiremos viver em harmonia com a natureza e com os outros seres humanos.

Há quem diga que as pessoas só mudam de atitude quando alguma coisa lhes afeta o bolso. A iniciativa funciona, é claro, e deveria ser usada com mais rigor para que aqueles que jogam lixo em qualquer lugar entendam a dimensão do estrago do seu gesto. Deveria valer para quem polui as ruas, mas também os rios, os oceanos e o ar.

A punição pela multa em dinheiro é um passo. Precisamos avançar mais e entender que muito pode ser feito para minimizar os danos ambientais, se cada um de nós tiver atitudes em defesa do clima. A começar das mais simples, aquelas que aprendemos com as crianças. Pois será a somatória dessas ações que produzirá grandes resultados.

O exemplo pela educação

Os alertas para as consequências da irresponsabilidade ambiental são cada vez mais frequentes. Tudo indica que podemos ser agentes e ao mesmo tempo vítimas de um “efeito dominó” de proporções difíceis de prever.

As notícias sobre o recente relatório do painel de mudanças climáticas da ONU listam os prováveis danos causados pelo aquecimento global. Eles vão da escassez de água e de alimentos a questões como o aumento da pobreza e de conflitos. 

A educação parece ser o caminho mais seguro e eficiente para evitarmos situações extremas.  Se crise também é oportunidade de inovar, este pode ser o momento para uma revisão de práticas. O clima está difícil, mas, por isso, favorável a mudanças.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.