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Papéis de mãe

Ashlee Wells Jackson/Divulgação
Imagem: Ashlee Wells Jackson/Divulgação
Lucila Cano

09/05/2014 05h00

O mês em que as mães são homenageadas é propício para nos lembrarmos do papel da mulher em atividades que suplantam a condição da maternidade tal e qual a conhecemos.

A mãe social, por exemplo. Trata-se de uma profissão regulamentada por lei (7.644/87), com direitos trabalhistas garantidos. O nome tem carga emocional, embora, na prática, identifique mulheres dispostas a trabalhar em tempo integral em unidades de assistência a crianças.

As ocupações das mães sociais são semelhantes às de coordenadoras ou cuidadoras em creches, orfanatos e outras instituições de abrigo e educação de menores.

O que faz a diferença no caso da mãe social é que ela reside em uma casa que lhe é confiada por uma instituição assistencial para viver com um grupo de até dez crianças, como se fossem seus filhos. O objetivo é proporcionar aos menores em situação de vulnerabilidade social um ambiente familiar no qual possam receber atenção, orientação e cuidados pessoais. 

Neste sentido, e contando com a dedicação de muitas mães sociais, o trabalho das Aldeias Infantis SOS Brasil é o mais conhecido no país. Presente em 12 Estados e no Distrito Federal, a instituição recebe crianças e adolescentes que por negligência, discriminação, abuso e exploração tiveram seus vínculos familiares fragilizados ou rompidos.

Nas Aldeias Infantis SOS Brasil, a candidata a mãe social deve ter mais de 25 anos, ser solteira, viúva ou divorciada, sem filhos menores ou dependentes, ter no mínimo primeiro grau completo e disponibilidade para morar em um dos núcleos. A capacitação de uma mulher para a tarefa de mãe social é de cerca de dois anos.

Doação 

Em todo o país, mães doadoras se mobilizam diariamente para suprir os bancos de leite de hospitais e maternidades. Os beneficiários são recém-nascidos prematuros, bebês que estejam abaixo do peso, que necessitem de cuidados especiais e ainda aqueles cujas mães são incapazes de amamentá-los por algum problema de saúde.

A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano presta informações importantes para orientação de quem precisa e de quem quer doar leite, além de outros dados. Pesquisando o site, por exemplo, é possível saber que de janeiro deste ano até o momento, o país conta com pouco mais de 33 mil doadoras para mais de 40 mil receptores.

Outras mulheres doam parte do seu tempo para atividades voluntárias com crianças (e muitas vezes com as mães das crianças) em instituições assistenciais. Muitas nem mães são, mas tomo a liberdade de chamá-las de “mães diaristas”, dispostas a partilhar atenção, carinho, o que sabem e o que podem fazer pelas crianças e suas famílias.

Identifico ainda no grupo das doadoras, as “mães à distância”. São aquelas que, impossibilitadas de agir presencialmente, não se furtam a tricotar, bordar, costurar e colocar em prática habilidades que produzem enxovais de bebês e roupas.

Vocação para a multiplicidade

No final de 2011, quando do encerramento da Década do Voluntariado (a ONU criou o Ano Internacional dos Voluntários em 2001), uma pesquisa da Rede Brasil Voluntário realizada pelo Ibope Inteligência apontava maioria feminina (53%) nas ações de voluntariado no país.

Diante desse percentual, a atuação de homens e mulheres me parece bastante equilibrada, embora em algumas regiões, principalmente em cidades do interior, a presença feminina seja mais expressiva.

Seja por instinto materno, seja por outras circunstâncias, como formação religiosa ou cultural, o fato é que mulheres desempenham inúmeros papéis em sua vida cotidiana. A vocação para a multiplicidade confirma a extensão do papel de mãe à prática do voluntariado.

Isso é bom para todos os que se beneficiam de cada palavra, cada gesto, cada ação de mulheres a serviço do voluntariado. Isso é exemplo para todos que têm muito que aprender com as mães voluntárias.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.