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Patrimônio verde

4.jun.2013 - Rio Una corta a reserva ambiental da Jureia, em Peruíbe, no litoral sul de São Paulo. A estação ecológica reúne espécies endêmicas e vegetação da Mata Atlântica, que hoje tem menos de 8,5% da sua área original, segundo levantamento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) - Juca Varella/Folhapress
4.jun.2013 - Rio Una corta a reserva ambiental da Jureia, em Peruíbe, no litoral sul de São Paulo. A estação ecológica reúne espécies endêmicas e vegetação da Mata Atlântica, que hoje tem menos de 8,5% da sua área original, segundo levantamento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) Imagem: Juca Varella/Folhapress
Lucila Cano

23/05/2014 06h00

Uma maneira de chamar a atenção das pessoas para temas que demandam mudança de atitudes é a criação de datas comemorativas. A ONU encabeça essa tarefa muito bem e, ano a ano, divulga o seu calendário, sempre acrescido de novas oportunidades em defesa de causas sociais e ambientais.

O Dia Internacional da Biodiversidade é uma dessas datas. Ele relembra a Convenção da Diversidade Biológica, documento aprovado em 22 de maio de 1992 e depois assinado por países que participaram da Rio-92, no início de junho daquele ano, no Rio de Janeiro.

Já em 27 de maio, a data comemorativa é nacional, mas não menos importante. O Dia Nacional da Mata Atlântica começou a ser lembrado a partir de 2001, em alusão a uma carta na qual o padre Anchieta (hoje Santo Anchieta) relatou aspectos das florestas brasileiras.

De nossas florestas, a Mata Atlântica é a mais degradada. Por acompanhar a linha costeira do país, estendendo-se do Nordeste ao Sul, foi a primeira a ser abatida pelo colonizador. Anos depois, continuou sendo a primeira a sucumbir à exploração urbana, uma vez que mais da metade da população brasileira vive em solo que um dia foi da floresta.

Era assim, ficou assim

A Mata Atlântica cobria área superior a 1,3 milhão de quilômetros quadrados ao longo de 17 estados. Segundo a ONG SOS Mata Atlântica, atualmente restam 8,5% de remanescentes florestais com mais de 100 hectares. Somado a frações de floresta nativa em áreas acima de 3 hectares, esse percentual totaliza 12,5% do que já foi a floresta.

Ainda assim, trata-se de uma área em que a biodiversidade é das mais pródigas, abrigando, por exemplo, 383 espécies de animais das 633 ameaçadas de extinção no Brasil.

Viveiro de mais de 20 mil espécies de plantas, das quais 8 mil são consideradas nativas, a Mata Atlântica influencia a qualidade da vida. Não só a fauna e a flora, mas também mais de 118 milhões de habitantes são seus beneficiários.

Neste período em que a escassez de água castiga o Sudeste do país, e mais especificamente o Estado de São Paulo, é bom lembrar que sete das nove bacias hidrográficas brasileiras estão localizadas na região da Mata Atlântica. Responsável pelo controle do clima e pela regulagem do fluxo de mananciais hídricos, o que resta da floresta hoje testemunha o resultado de um desenvolvimento desordenado.

Proteção tardia

Em 14 anos, os políticos que ascenderam ao Congresso deviam estar muito ocupados para desviarem a sua atenção para o patrimônio verde, pois esse foi o tempo em que o Projeto de Lei da Mata Atlântica tramitou no Legislativo. A lei 11.428 e o decreto 6.660, que regulamenta a lei, datam de 2006 e 2008, respectivamente.

Antes disso, a Constituição Federal de 1988 elegeu a Mata Atlântica como Patrimônio Nacional e a Unesco - órgão da ONU para a Educação, Ciência e Cultura – reconheceu parte da Mata Atlântica como Reserva da Biosfera, a partir de 1991. 

Esses reconhecimentos implicam apoio e recursos financeiros para programas de conservação, pesquisa, monitoramento, educação ambiental e desenvolvimento sustentável. Mas, infelizmente, não impedem a ação de depredadores.

Por isso, as unidades de conservação são de fundamental importância para a proteção do patrimônio natural brasileiro na Mata Atlântica e nos demais biomas do país. É isso o que vem fazendo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), por meio de seus 11 centros de pesquisa e gestão de 312 unidades federais de conservação.

Para encerrar, uma curiosidade. Em 2006, o livro “Avaliação do conhecimento da biodiversidade brasileira”, organizado pelo biólogo Thomas Lewinsohn, professor titular do Instituto de Biologia da Unicamp (SP), indicava entre 170 mil e 210 mil espécies descritas de plantas, animais e microorganismos existentes no Brasil. Estimava, no entanto, que o número real fosse 2 milhões de espécies.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.