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Estilo de vida

Em Nova York, como em São Paulo, é possível levar as bicicletas no trem, seguindo as regras do metrô - Alex Cairncross
Em Nova York, como em São Paulo, é possível levar as bicicletas no trem, seguindo as regras do metrô Imagem: Alex Cairncross

Lucila Cano

04/07/2014 06h00

Cada vez mais americanos que vivem nas áreas metropolitanas bem servidas de transporte público – metrô e ônibus – deixam de usar carros particulares para a locomoção diária.

Notícia melhor não poderia haver para o equilíbrio ambiental nas grandes cidades, uma vez que os veículos movidos a gasolina e diesel são altamente poluidores. 

Ainda não podemos seguir o exemplo americano à risca. Não dispomos de meios coletivos suficientes para substituir o transporte individual motorizado. Tampouco apostamos nas bicicletas. Além de vias insuficientes, os entraves ao uso passam pela topografia acidentada dos centros urbanos; pela falta de sinalização; pela insegurança e pela má educação no trânsito.

Mas, a despeito de tantos problemas, algumas cidades investem em mais faixas para bicicletas, as caronas solidárias aumentam e até a ampliação do rodízio em dias de jogos do Brasil na Copa foi aplaudida pela maioria da população da cidade de São Paulo.

Enquanto não dispomos de transporte coletivo adequado, a busca de alternativas para amenizar os transtornos e os gastos provocados pelos congestionamentos é uma realidade. E, também, um sintoma de que começamos a tomar consciência de que é preciso mudar o modo de consumir e de viver. Mesmo que, por enquanto, isso decorra da pressão do caos no trânsito.

Tendências

Os temas da sustentabilidade já estão incorporados ao nosso cotidiano e muita gente hoje entende melhor os apelos de preservação do planeta e de seus recursos naturais.

Ainda há um longo caminho a percorrer para que se alcance uma condição de equilíbrio, sem radicalismos, pois o que temos de fato é uma população mundial que não pára de crescer, ocupar e explorar o planeta.

Água e energia são utilizadas em quantidades cada vez maiores para suprir as necessidades básicas e supérfluas de todo mundo. A forma como utilizamos, ou desperdiçamos esses bens, acaba influindo na qualidade, na quantidade e no preço que pagamos para morar, comer, vestir, estudar, trabalhar, passear.

Por isso, as tendências comportamentais podem fazer grande diferença para que mais e mais pessoas vivam bem com menos. Explicar que a exposição prolongada à água quente pode prejudicar a elasticidade da pele talvez surta mais resultados do que simplesmente sugerir um banho de quatro minutos em favor da economia de água e energia.

Não se trata de ironia, mas de uma verdade que muitos desconhecem. Por sinal, é o conhecimento que, daqui para frente, pode e deve ditar tendência de vida.

A propaganda ensina

Digo isso porque acredito que para uma grande parcela da população exemplos de atitudes pró-preservação mereçam ser abordados de outra maneira. De que adianta dizer não em tempo integral? É preciso que as pessoas entendam o seu papel cidadão no ciclo da vida.

A informação pautada em números que mostram a evolução dos desastres ambientais decorrentes dos excessos do consumo é fundamental, mas insuficiente para que alcancemos resultados mais expressivos.

Na campanha em defesa do meio ambiente, precisamos de uma somatória de esforços de todos os elementos formadores e influenciadores do comportamento, que provoquem mudança de hábito e um novo estilo de vida.

Por mais que isso leve tempo, só estaremos formando cidadãos conscientes quando as suas atitudes forem ditadas pelo entendimento, pelo bom senso e pela crença de que estão fazendo o melhor para si mesmos, para a sua família, para o seu país.

Quem diria que um dia tantos brasileiros saberiam cantar o hino nacional (ou ao menos parte dele) e o cantariam com tanta emoção, com tanta convicção? Pois é, a propaganda ensina até as criancinhas que cantar o hino é participar de uma grande festa pela vitória, pelo sucesso.

Mesmo que nem todos entendam o significado daquelas palavras, mesmo que o time tropece em campo, esses brasileiros dificilmente esquecerão a letra do hino, porque a lição foi fácil de aprender.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.