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A saúde em primeiro lugar

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Imagem: Thinkstock

Lucila Cano

08/08/2014 10h01

Nós nos acostumamos a dizer que a educação, ou melhor, a falta de educação, é o maior problema do Brasil. No entanto, os resultados de pesquisas eleitorais que agora tomam bom espaço do noticiário nos surpreendem com outra informação. Nas maiores capitais do país, a saúde está em primeiro lugar nas reclamações dos eleitores.

A educação não foi excluída, mas aparece em terceiro ou quarto lugar nas listas de direitos pretendidos, sendo, de alguma forma, classificada em condição de menos urgência.

A assistência à saúde não pode ser postergada. O cidadão que aguarda por uma cirurgia ou por uma prótese há meses e até anos deixa de produzir e de contribuir para a máquina da saúde. Mais que uma pessoa inválida para o trabalho, ele se transforma em uma despesa para o Estado, sem falar nos prejuízos emocionais que terá pelo resto da vida e que nenhum seguro será capaz de ressarcir.

Quantos de nós já não passaram por momentos de extrema angústia, sem saber o que fazer diante de um problema grave de saúde, porque o convênio quebrou, porque o hospital não tem leitos suficientes, porque o posto de saúde foi invadido na madrugada e roubaram os computadores, porque os remédios não chegaram a tempo?

Esses são apenas alguns exemplos que vivi ou presenciei. Sei de outros ainda mais sérios e tristes, porque a assistência à saúde, além de aplacar a dor, é o que resgata a vida da morte, o que nos contempla com mais um tempo. Não pode ser adiada.

E a educação?

À primeira vista, a ausência de educação não deve ser impedimento para o trabalho, a despeito de só abrir portas para subempregos. Também não parece interferir nas relações afetivas, na formação de famílias, nos anseios por bens de consumo e moradias próprias. Mas, sem dúvida, prejudica a concretização dos sonhos,  corrompe os relacionamentos, retarda a evolução de um país e do seu povo. Não apenas em realizações materiais, mas em todos os sentidos que, na natureza, deveriam colocar o ser humano em um patamar elevado.

Uma leitura mais reflexiva do papel da educação pode nos ajudar a entender que ela nunca deixou de ser a prioridade máxima, aquela que antecede todas as demais carências, inclusive a da saúde. Mas, por ser mais subjetiva conceitualmente, é claro que Saúde e Segurança disparam na frente quando somos confrontados com a realidade, a vida que vivemos no dia a dia.

No sentido de sua amplitude, a Educação não tem limites. Vai além da escolaridade e abre janelas e fronteiras para o conhecimento e para valores e princípios que qualificam os seres humanos para melhor.

Onde há educação, a ética deve prevalecer e, assim, reduzir malfeitos e desvios de investimentos destinados, muitas vezes, para a saúde. Onde há educação, a solidariedade deve guiar atitudes e, assim, evitar que enfermos sejam abandonados à morte em portas de hospitais.  Onde há educação, o ser humano deve ser respeitado.

E nós?

Em termos globais, a desnutrição, a escassez de alimentos, a falta de saneamento e os vírus e doenças decorrentes da combinação desses fatores são os principais inimigos da saúde. Mas há a outra ponta, a dos excessos (obesidade, tabagismo, alcoolismo, drogas), que só faz aumentar o número de vítimas, principalmente as de doenças crônicas. Essas são, inclusive as mais onerosas e dolorosas, não só para pacientes, mas também para os seus familiares.

Se o segredo da vida mais saudável está no equilíbrio, e se muitos defendem a tese de que o cidadão um pouco mais escolarizado seja mais responsável por comportamentos preventivos de saúde, isso não exime governos e instituições privadas de devolverem aos contribuintes e clientes o que lhes é de direito, qualquer que seja a ordem da sua lista de reivindicações: educação, saúde, segurança, transporte, infraestrutura...

Afinal, contribuímos com impostos e pagamentos particulares elevados por bens e serviços sempre prometidos.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.