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Jovem Amigo da Criança

Lucila Cano

15/08/2014 06h00

Sempre que posso, volto a falar da Fundação Abrinq, uma das mais respeitadas e combativas organizações em defesa das crianças no Brasil. Criada em 1990, a Fundação Abrinq passou a representar a organização internacional Save the Children no Brasil em 2010 e da união de ambas surgiram ainda mais ações em torno da educação, proteção e saúde das crianças.

Uma dessas ações é o Prêmio Jovem Amigo da Criança, destinado a jovens de 18 a 30 anos que queiram fazer a diferença na vida das crianças. Lançado primeiramente em 2013, o prêmio está em sua segunda edição, com inscrições abertas até 22 de agosto.

O regulamento e todas as informações para quem quiser participar do prêmio estão no site www.jovemamigo.org.br e, embora eu esteja dando a informação meio em cima da hora, não poderia deixar de falar dos desdobramentos de uma ação como essa. Torço para que, a exemplo do que ocorreu no ano passado, o Prêmio Jovem Amigo da Criança revele talentos inspiradores, como o jovem Marcel Siqueira, vencedor da primeira edição.

História para contar e recontar

Quem é de Manaus talvez já conheça a história do Marcel. Ele me foi apresentado pelo material de divulgação da Fundação Abrinq/Save the Children para o prêmio. Curiosa, fui atrás de saber mais e cheguei à conclusão de que, mesmo para quem já a conhece, esta é uma história que vale a pena contar de novo.

Estudante de engenharia na Universidade Federal de Manaus, Marcel Siqueira recebeu o Prêmio Jovem Amigo da Criança em novembro de 2013, aos 19 anos de idade.

Em entrevista para a Rádio Nacional da Amazônia, Marcel contou ser voluntário na Casa Vidha, de Manaus, que presta assistência a crianças portadoras de HIV. Ele seguiu os passos da mãe, que trabalha na instituição. Assim, começou a dar aulas de inglês e matemática para as crianças da casa, desde que tinha 13 anos.

Marcel soube, por meio dos colaboradores da casa, que as crianças assistidas não gostavam de tomar os remédios e que era fundamental para os bons resultados do tratamento que horários e doses prescritas fossem corretamente seguidos.

Ele pensou em ajudar a resolver o problema e lembrou-se do "Cascão", o famoso personagem das histórias em quadrinhos de Maurício de Sousa, que as crianças adoram e que é sempre invocado na hora do banho. Foi assim que Marcel criou o Pedrinho, um garoto que não gostava de tomar remédios, mas que precisava deles para combater os vilões do seu organismo.

"Destruindo Vihlões", com "h" no meio do nome, em alusão ao vírus, é o título da história em quadrinhos criada por Marcel. Como desenhar não é o seu forte, ele pediu ajuda a uma amiga da faculdade e ela, em dois dias, concluiu a tarefa com êxito.

Desdobramentos

Marcel inscreveu seu projeto no Prêmio Jovem Amigo da Criança, passou pelas etapas de avaliação e saiu-se vencedor. Com o prêmio recebido, pode imprimir 50 cópias de "Destruindo Vihlões", as quais, naturalmente, foram distribuídas para as crianças da Casa Vidha.

Mas, a história não fica por aí. Logo em seguida, ele conseguiu patrocínio do Creci-Manaus, o Conselho de Corretores de Imóveis de Manaus, para impressão de 2.000 exemplares da história do Pedrinho. Também recebeu um prêmio da Humanitarian Foundation, outra organização internacional com atenção voltada para a infância.

Na entrevista da rádio, Marcel revelou ter o sonho de apresentar para a Unesco traduções de sua história em quadrinhos em outros idiomas, como inglês, espanhol e francês, já vislumbrando a possibilidade de ajudar crianças de muitos outros países a enfrentar as doenças com menos sofrimento e mais disposição para os tratamentos.

Enquanto os seus sonhos vão sendo concretizados, esse Jovem Amigo da Criança segue estudando e organizando feiras de ciências, uma de suas atividades preferidas, segundo disse.

Espero que, assim como o Marcel, a Fundação Abrinq/Save the Children nos traga muitos outros jovens amigos das crianças.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.