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Um projeto em defesa dos vira-latas

O vira-lata Jack Cano - Arquivo pessoal
O vira-lata Jack Cano Imagem: Arquivo pessoal

Lucila Cano

22/08/2014 06h00

Jack Cano é o mais novo membro da família. Aos dois meses de vida foi adotado por meu sobrinho Gustavo e, nesta semana, completou seis meses. Criado com todo carinho, faz muitas estripulias, típicas da infância, mas está sendo treinado e já obedece a vários comandos.

Jack é um cão sem raça definida que, assim como os seus irmãos, aguardava por adoção em um abrigo no interior de São Paulo. Por sorte, ou por seu olhar meigo e carente, foi resgatado de uma condição comum a mais de 30 milhões de animais domésticos no Brasil.

A estimativa é de 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães abandonados, segundo informações do site www.vira-latas.com, uma das plataformas do projeto “Vira-Latas – os verdadeiros cães de raça”, idealizado pelo publicitário, escritor e cineasta Tiago Ferigoli em 2008.

Desde então, o projeto se desdobra em ações, como um livro (Ediouro), uma coleção de roupas, um selo filantrópico e um filme documentário, além do apoio a quatro ONGs que cuidam de animais abandonados.

Ser “vira-lata”

No momento, e com a parceria da plataforma de crowdfunding Kickante, o projeto “Vira-Latas – os verdadeiros cães de raça” procura obter suporte financeiro para o lançamento do filme do mesmo nome em cinemas do país. A partir de R$ 10 e com direito a recompensas pela colaboração, as adesões podem ser feitas no endereço: www.kickante.com.br/vl.

O filme está pronto. Tem 80 minutos, trilha original e participação de 22 personagens que atuam em organizações privadas, públicas e até individualmente pela defesa dos animais, contra os maus tratos e o abandono. Entre eles, alguns nomes conhecidos são os de Ronnie Von, Danilo Gentili e Heródoto Barbeiro.

Tiago Ferigoli conta que a ideia é despertar a atenção de todos os segmentos da sociedade para a situação de descaso com seres vivos: “O meu interesse surgiu quando compreendi que ‘vira-lata’ não é o animal, mas a sua condição de abandonado, miscigenado, que sofre preconceito e que precisa lutar para sobreviver. Questões que em nada têm a ver com o animal, mas conosco”.

“O ser ‘vira-lata’ existe, independente da espécie, devido a uma total falta de políticas, leis e, principalmente, educação", diz Ferigoli. "Eu me identifiquei com o tema quando percebi que, através das minhas ferramentas de trabalho, poderia criar algo que pudesse, de alguma forma, aproximar as pessoas deste assunto. Particularmente, vejo a figura do cão como sendo o melhor amigo do homem, o animal mais próximo de nós. No filme tento explicar essa proximidade que, aliás, vai muito além do que a maioria de nós imagina”.

Amadurecimento

Ao retratar cães de rua para produzir seu livro, a princípio só de fotos, Ferigoli foi fundo na questão do abandono e acabou complementando as imagens com um texto. Na época, mal sabia ele que esse texto se transformaria no pré-roteiro do filme.

O livro foi bem-sucedido e abriu caminho para Ferigoli montar uma equipe e tornar o seu projeto mais conhecido. Viabilizar o filme foi mais difícil. Tanto, que entre uma ação e outra, surgiu a ideia de uma coleção de roupas com as fotos dos cães estampadas e o selo VL, com o objetivo de arrecadar fundos para a produção.

“As roupas se tornaram a peça mais importante da campanha, como uma forte ação viral do projeto, de conscientização e, claro, filantrópica”, diz Ferigoli. E emenda: “Veja como são as coisas. Se o filme tivesse sido lançado em 2010, como previsto, não teríamos as roupas e todas as boas consequências que trouxeram. Embora tenhamos enfrentado inúmeras dificuldades, o tempo foi bom para o amadurecimento do projeto. Hoje existe uma expectativa muito maior de público. Por isso, acredito muito no lançamento do filme”.

Em breve, e com a ajuda de todos os que quiserem mudar a relação de nossa sociedade com os cães abandonados, o documentário “Vira-Latas – os verdadeiros cães de raça” estará em cartaz.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.