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Tempo de faxina

15.fev.2013 - Cerca de 1.300 kg de lixo foram recolhidos do fundo do mar na praia da Barra, em Salvador, em uma ação de limpeza promovida por mergulhadores - Dorivan Marinho/Agência A Tarde
15.fev.2013 - Cerca de 1.300 kg de lixo foram recolhidos do fundo do mar na praia da Barra, em Salvador, em uma ação de limpeza promovida por mergulhadores Imagem: Dorivan Marinho/Agência A Tarde

Lucila Cano

19/09/2014 06h00

Um dia é pouco para a faxina de nascentes, rios, praias e lagoas. Mas é importante para mobilizar as pessoas e repercutir a necessidade de manter nossas águas limpas.

É isso que ocorre todo ano no terceiro sábado de setembro. O Dia Mundial da Limpeza de Rios e Praias se realiza em data móvel e, apesar disso, é um dos maiores eventos mundiais de voluntariado. A depender das localidades, participação dos moradores e apoios de empresas e organizações de defesa ambiental, o dia é marco inicial de uma ação se estende por uma semana ou mais.

Segundo a ASSU, Associação Socioambientalista “Somos Ubatuba”, presidida pelo ambientalista Caio Marco Antonio, “a vivência em um mutirão de limpeza ambiental é inesquecível e transformadora, principalmente para as crianças”.

À frente de projetos de desenvolvimento sustentável para o município do litoral norte paulista desde 1999, a ASSU assumiu a coordenação do Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias no Brasil em 2010 e estima que, a cada ano, mais de 10 mil voluntários participem do evento no país.

Catar e catalogar

Além do processo de educação ambiental e envolvimento dos voluntários com a limpeza, a ação tem o objetivo de catalogar o lixo encontrado. Todos os dados obtidos são enviados para o Centro de Conservação dos Oceanos para análises estatísticas e, depois, são encaminhados para a Comissão Intergovernamental Oceanográfica da ONU.

Junto a instituições parceiras e com base nessas informações, a Comissão tem a responsabilidade de desenvolver estratégias para a despoluição de rios e oceanos, engajar a indústria para apresentar soluções, acionar governos para a revisão de legislações ambientais, buscar o apoio de lideranças, aprofundar e disseminar o conhecimento científico.

A tarefa é desafiadora e, assim como a ASSU, muitas organizações se movimentam em defesa dos oceanos pelo Brasil, como o Instituto Ecológico Aqualung e o Centro de Estudos do Mar Onda Azul, ambos no Rio de Janeiro.

Neste sentido, as redes sociais são as grandes aliadas do Dia da Limpeza ao convocar voluntários de todas as partes do país.

Lembrança da Rio+20

A Região Sudeste enfrenta uma seca que antes só parecia abater o Nordeste. A falta de água é um dos piores problemas da região no momento. Mas, a partir de uma visão otimista da situação, essa crise tem efeitos pedagógicos. Os leitos secos de rios e córregos expuseram o lixo da atuação predatória do homem com exuberância vergonhosa. Resta agora, além de limpar, reforçar a educação ambiental e, por que não, punir os predadores.

Quando da realização da Rio+20, em junho de 2012, os eventos paralelos denominados Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável aproximaram especialistas do Brasil e do exterior de representantes da sociedade. O resultado foi um legado de propostas para que reflexões se efetivem em ações.
Sabemos que, dos males, o plástico é o grande vilão dos oceanos (e rios, também) em suas diversas apresentações, como canudos de refrigerantes, sacos, tampas e até minúsculas partículas que os peixes e outros animais marinhos confundem com alimentos.

Os participantes da última rodada dos Diálogos propuseram o lançamento de um acordo global para salvar a biodiversidade marinha em alto-mar; evitar a poluição dos oceanos pelo plástico por meio da educação e da colaboração comunitária; desenvolver uma rede global de áreas marinhas protegidas internacionais; criar mecanismos de governança global dos oceanos para preservar a biodiversidade e os recursos genéticos em um cenário de crescente nacionalização do ambiente marinho.

Sylvia Earle, fundadora da Fundação Mission Blue e participante dos debates, registrou, em poucas palavras, um período de 20 anos de inércia quanto à proteção dos oceanos: "Na Eco 92, acreditava-se que os oceanos eram infinitos. Hoje, sabe-se muito bem que isso não é verdade, e ainda não fizemos nada. Essa pode ser a nossa última chance".

*Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.