Mais perto dos leitores
O apego ao livro foi fortalecido no Brasil com a chegada de D. João VI e de sua família real em 1808. Com eles, veio a Imprensa Régia, cujo primeiro livro editado foi “Marília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga, e veio a Real Biblioteca Portuguesa, uma verdadeira joia da Coroa.
Instalada no Hospital da Ordem Terceira do Carmo, a biblioteca foi transferida para seu local definitivo em 29 de outubro de 1810. Em sua nova casa recebeu o nome de Biblioteca Nacional e é até hoje um dos mais belos edifícios do Rio de Janeiro.
Por isso, e apropriadamente, o 29 de outubro celebra o Dia Nacional do Livro.
Passados 204 anos, poderíamos ter mais bibliotecas públicas além das 6.062 registradas pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas em julho deste ano. A extensão do território e o tamanho da população brasileira demandam muito mais. Tanto que, em muitos casos, a carência pelo espaço cultural público é suprida pelas bibliotecas comunitárias, escolares, universitárias, especializadas e de empresas.
A maioria desses projetos, inclusive, revela o amor de seus criadores pelos livros e a crença inabalável no poder transformador que eles têm.
Vaga Lume
Desde 2001 a Amazônia é beneficiada por bibliotecas comunitárias da Associação Vaga Lume, sediada em São Paulo. A organização foi formada por três amigas - Sylvia Guimarães, Laís Fleury e Maria Tereza Meinberg - após uma visita à região.
Do desejo de levar conhecimento às comunidades mais isoladas do país, elas criaram o projeto Expedição Vaga Lume e, desde então, esse trabalho vem sendo reconhecido no Brasil e no exterior.
Três ações impulsionam a expedição: a doação de estruturas para bibliotecas comunitárias, a formação de voluntários como mediadores de leitura e o incentivo à gestão comunitária da biblioteca. Assim, já foram formadas bibliotecas em 160 comunidades de 23 municípios da Amazônia Legal, nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
O projeto levou mais de 83 mil livros para a região e se consolida em atividades complementares de valorização da cultura local, como rodas de histórias e o registro das mesmas em livros artesanais, desenhos e artesanatos de cada localidade.
Investir no desenvolvimento das pessoas através dos livros é exemplo a ser seguido e, assim como as criadoras da Vaga Lume, muitos brasileiros se desdobram em iniciativas – algumas curiosas – para multiplicar bibliotecas e facilitar o acesso de todos à indescritível viagem do conhecimento que é a leitura.
Pelos textos desta coluna, inclusive, já passaram bibliotecas originais, como a do T-Bone, o açougue cultural de Brasília, um dos primeiros a chamar atenção e até a motivar outros projetos diferenciados.
Números que animam
Em São Paulo, entre 23 e 31 de agosto, a Bienal Internacional do Livro promoveu uma programação intensa em parceria com o SESC e atingiu mais de 700 mil pessoas. Os números divulgados pela Câmara Brasileira do Livro, responsável oficial do evento, são grandiosos.
A bienal apresentou 300 expositores, representados por 750 selos editoriais e contou com a presença de 186 autores nacionais e 22 estrangeiros. Despertou o interesse de leitores de todas as partes, camadas sociais e idades, sendo que, só entre os mais jovens, recebeu 120 mil alunos de 2 mil escolas.
Mesmo que ainda nos faltem bibliotecas públicas, sabe-se lá até quando, é animador saber que os negócios do setor cresceram de 30% a 40% em relação à bienal anterior e que leitores e livros estão cada vez mais próximos.
Pesquisa do Datafolha para a Fundação Itaú Social, divulgada em outubro de 2012, mostrou que 96% dos entrevistados achavam importante (20%) ou muito importante (76%) incentivar crianças de até cinco anos de idade a gostarem de ler.
Como já fez no ano passado, neste outubro de 2014 a fundação retomou a campanha para que adultos leiam para crianças, com a meta de distribuir 4,4 milhões de livros.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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