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Responsabilidade social e ética

Lucila Cano

12/12/2014 06h00

Provavelmente nunca saberemos o número exato de voluntários, seja no Brasil, seja no mundo. A razão para isso é simples: muitas ações são isoladas ou individuais. Uma delas ocorre com frequência ao final de um ciclo escolar: o colega de classe que sabe mais dedica algumas horas livres para ajudar um amigo a se preparar para as provas. Tem também aquela do neto que se coloca à disposição da avó para levá-la às compras, ao banco e onde mais ela precisar.

As situações são ilimitadas, pois o que caracteriza o voluntariado é a relação tempo livre e disposição, mais conhecimento e/ou habilidade. O resultado é igual a uma ação para atender a uma necessidade de alguém ou de um grupo.

As informações de que dispomos são fornecidas pelo que podemos chamar de voluntariado organizado, aquele que reúne e registra as ações de funcionários de empresas, alunos de instituições de ensino, membros de ONGs e de entidades religiosas.

Mas, mesmo que seja parcial, qualquer levantamento sobre o trabalho voluntário é bem-vindo. Pois, pelo que podemos acompanhar, trata-se de um impulso para que mais e mais voluntários se descubram e se beneficiem de um dos mais gratificantes prêmios que existem: sentir-se útil.

Uma data para festejar

Em 5 de dezembro de 2011, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgou o Relatório sobre o Estado do Voluntariado no Mundo, em comemoração ao décimo aniversário do Ano Internacional dos Voluntários. O documentou citou um estudo da Universidade John Hopkins, que estimou haver cerca de 140 milhões de voluntários em todo o mundo.

Dados de mais de 130 países foram reunidos no relatório, que destacou a importância do voluntariado na prevenção de conflitos e na ajuda humanitária frente a desastres naturais. Outro destaque foi para as novas maneiras de agir, como o voluntariado online, decorrente do intenso uso das redes sociais.

Há alguns dias, no mesmo 5 de dezembro em que se comemora o Dia Internacional do Voluntariado, a Fundação Itaú Social divulgou resultados de pesquisa realizada pelo DataFolha, o que nos permitiu atualizar os dados do voluntariado no Brasil.

Foram ouvidas 2.024 pessoas em 135 municípios entre os dias 9 e 12 de setembro deste ano, trazendo-nos uma amostra representativa de todas as regiões do país. Assim, ficamos sabendo que três em cada dez brasileiros já fizeram alguma ação voluntária e que a falta de tempo é o maior empecilho alegado por quem poderia ser voluntário.

A pesquisa mostrou que 28% dos brasileiros já participaram de trabalhos voluntários, embora os declarados voluntários ativos sejam 11% deles, aproximadamente 16,4 milhões de pessoas.

Perfil de voluntário

Esse contingente poderia ser ainda maior, dadas as carências do país, mas, de acordo com a pesquisa, alguns resultados são estimulantes: sete em cada dez brasileiros afirmam que doar dinheiro ou coisas não substitui a atividade voluntária; homens e mulheres se dedicam ao voluntariado em pé de igualdade (51% são homens e 49%, mulheres); cerca de metade dos voluntários possuem ensino superior completo e dois em cada cinco pertencem às classes econômicas A e B; mais da metade dos voluntários ativos têm entre 35 e 50 anos de idade.

Entre os jovens, no entanto, chama a atenção o fato de que oito em cada dez indivíduos na faixa de 16 a 24 anos nunca terem se envolvido com voluntariado. Curiosamente, outro resultado da pesquisa indica que a maioria da população de 16 anos ou mais discorda de que ajudar quem precisa é papel do governo e que as pessoas não têm obrigação de fazer atividade voluntária.

Para quem nunca pensou a respeito, é sempre bom lembrar que ser voluntário é uma iniciativa pessoal, ditada pela consciência, que pode ser tomada a qualquer tempo e em qualquer idade. Há uma gama de boas coisas a fazer e muita gente precisando de ajuda, às vezes bem perto, na vizinhança.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.