Topo

Começar de novo

Lucila Cano

02/01/2015 06h00

Por mais que a gente se esquive, olhar pelo retrovisor de um ano que se encerra é inevitável. Ingressamos em 2015 com a lembrança de feitos e desfeitos e com a esperança de que daqui para frente tudo será melhor.

A esperança é o grande combustível do ser humano. Cotidianamente, evocamos a esperança para a conquista dos desejos mais íntimos. Mas, quando a meia-noite de um dia nos convida a brindar o desconhecido, a surpresa, o desafio de um novo ano, ela ressurge universal e mais revigorada.

Renovar objetivos

Assim, em nome da esperança, torcemos para que o compromisso dos países membros da ONU com os oito Objetivos do Milênio, definidos em 2000 e com prazo até o final de 2015, traga bons resultados para a humanidade.

Sabemos que esses objetivos não serão de todo alcançados, mas assim como a esperança, eles nos instigam a agir, a tomar atitudes.

Acabar com a miséria e a fome parece missão impossível em um mundo de desigualdades econômicas. Por isso, esse objetivo se manterá em destaque na próxima agenda da ONU. Em setembro deste novo ano, uma reunião dos líderes globais proporá novas metas por mais 15 anos, até 2030.

Garantir educação básica de qualidade para todos também é objetivo audacioso frente a populações que impedem meninas de estudar em países do sul da Ásia e da África, ou em países da América Latina que ainda têm milhões de crianças fora da escola. Mas, não fosse o anseio da educação para todos, estaríamos nós reivindicando este direito cada vez mais?

Promover a igualdade entre os sexos e valorizar as mulheres é outra meta a ser continuada. Nas culturas mais intransigentes, a violência contra a mulher é escancarada, da proibição de dirigir ao apedrejamento público. Em outros pontos do planeta ela permanece velada. Exalta a beleza em concursos de “misses”, enquanto maquia oportunidades de carreira e restringe salários.

Renovar atitudes

Reduzir a mortalidade infantil e melhorar a saúde de gestantes são objetivos complementares. O primeiro depende, e muito, de serviços de saneamento. Água potável e esgoto tratado evitariam doenças que ainda vitimam milhões de crianças em todo o mundo. O segundo, como quase todos os objetivos deste início de milênio, depende da educação, em primeiro lugar, e de serviços básicos de saúde.

Mulheres jovens precisam ser orientadas para evitar os riscos da gravidez precoce. A morte no parto persiste em regiões muito pobres e carentes de serviços de saúde. Mulheres em geral precisam ser assistidas no curso da gravidez, com cuidados pré e pós-natais.

No âmbito da saúde, o sexto objetivo do milênio lembra a necessidade de combatermos a AIDS, a malária e outras doenças. Recentemente, o combate ao vírus ebola juntou-se a esse rol de tarefas urgentes. A despeito dos avanços, principalmente no tratamento da AIDS, o conjunto de fatores como miséria, ignorância, ausência de saneamento e de serviços básicos de saúde cria ambientes propícios às epidemias mundiais.

O respeito ao meio ambiente e à qualidade de vida decorrente desse propósito segue ameaçado. Todos os dias a Natureza nos dá mostras de que tomamos a direção errada. E esse é um objetivo que depende de todos nós. Temos a obrigação de preservar mananciais, evitar o desmatamento, cuidar da destinação do lixo, reciclar, consumir menos e plantar mais. Temos a obrigação e o direito de pressionar nossos dirigentes para que cuidem de nosso patrimônio natural.

Por fim, temos um oitavo objetivo que prega a parceria mundial para o desenvolvimento através de ajuda humanitária, do comércio justo e de medidas como a redução de preço de remédios, o acesso à internet e a ampliação de ofertas de trabalho para os jovens.

Logo saberemos, por um relatório da ONU, onde avançamos e onde regredimos. Teremos, então, mais uma oportunidade de renovar esperanças e atitudes, começar de novo.