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Nada mais atual

Lucila Cano

10/04/2015 06h00

“Pequenas picadas: grandes ameaças” foi o mote da campanha de prevenção de doenças transmitidas por insetos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou em abril de 2014, quando da comemoração do Dia Mundial da Saúde (7 de abril). Nada mais atual.

Há um ano, portanto, a OMS fazia um alerta, ressaltando, na época, que a doença que mais crescia em número de vítimas no mundo era (e parece que continua sendo) a dengue.

Um milhão por ano era o número estimado de mortes por doenças transmitidas por insetos em todo o mundo, com destaque para a dengue que, segundo a OMS, aumentara 30 vezes nos últimos 50 anos.

O que poderia facilitar a proliferação da dengue que, em ciclos de maior ou menor incidência, persiste entre nós há anos? No ano passado, as informações da OMS para a imprensa já nos davam boas dicas: “A globalização do comércio e deslocamentos rápidos entre continentes, assim como mudanças no meio ambiente, como alteração do clima e urbanização, têm exercido grande impacto na transmissão de doenças transmitidas por vetor, inclusive causando seu aparecimento em países onde eram antes desconhecidas”.

Espírito voluntário

O principal voluntário no combate à dengue é quem já passou pela doença. Ele é seguido de perto por familiares que o assistiram no período crítico e que também sabem o quanto é prejudicial a picada de um mosquito quase imperceptível.

Os voluntários estão em campo, cuidando muito bem de suas casas e fazendo o possível para orientar outras pessoas. Isso significa levar os procedimentos básicos de prevenção a lugares antes improváveis, como igrejas e templos evangélicos.

Para quem acompanha o vai e volta da dengue todo ano, as recomendações para que não se deixe água parada em vasos de plantas, em pneus largados no meio ambiente e em qualquer outro recipiente sem tampa parecem óbvias demais. No entanto, há situações que fogem do controle e, por isso mesmo, é preciso que as pessoas estejam sempre alertas. Pesquisas recentes apontam que os criadouros continuam sendo maioria em endereços residenciais.

É importante também estender o olhar para o que acontece fora de casa. O perigo pode morar, por exemplo, em lajes a descoberto, seja em casas ou em prédios. As poças d’água que ficam depois de chuvas não evaporam de imediato. O mesmo acontece em calhas que não são limpas constantemente. Folhas caídas impedem o escoamento da água e, pronto, lá se forma mais uma pequena piscina para o mosquito da dengue. Até mesmo lixeiras públicas, mal tampadas, ou sem tampa, podem ser coletoras de água e se transformar em ninho para o depósito de ovos do Aedes Aegypti.

Líderes comunitários têm importante papel a cumprir dentro do perímetro de suas bases e devem solicitar que terrenos vazios, embora cercados, sejam abertos para inspeções periódicas. A ação do vento e de pessoas irresponsáveis carrega lixo para detrás dos muros e, onde há lixo, sempre há condições para a retenção de água.

Horizonte ampliado

O Estado de São Paulo é de longe o de maior incidência da dengue no atual surto da doença. A estiagem prolongada na região Sudeste foi apontada como um dos fatores determinantes para isso. Muitos armazenaram água, fosse da chuva, fosse das torneiras, mas não tamparam os recipientes. 

No entanto, a doença avança para outros estados. Nas manchetes da semana, chamou a atenção o número de casos suspeitos de dengue na Paraíba, que subiu mais de 119% no primeiro trimestre de 2015, em relação ao mesmo período do ano passado.

Sim, o Aedes Aegypti de laboratório, criado para transmitir uma bactéria que impede que as larvas desenvolvam o vírus da dengue, já está em teste. Sim, uma vacina contra a dengue também segue em testes. Mas, como guerra é guerra, quatro tipos de dengue continuam a desafiar a saúde pública. É preciso estar atento e, ao menor sintoma, procurar um posto de atendimento. A reincidência da doença é um perigo.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.