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Olho vivo e atenção redobrada

Lucila Cano

22/05/2015 06h00

Todo ano, as instituições voltadas para a educação e proteção de crianças e adolescentes intensificam ações e campanhas em torno do 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

A mobilização é necessária e precisa ser cada vez mais ampliada. Segundo informações da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, o Disque 100 registrou 21.021 denúncias no primeiro trimestre de 2015. Isso equivale a mais de 230 denúncias por dia.

Casos de negligência, violência física e violência psicológica foram os mais citados. A violência sexual foi a quarta violação mais comunicada ao serviço da Secretaria que garante o sigilo do informante. Foram 4.480 casos entre janeiro e março de 2015.

A maioria dos agressores mora na mesma casa das vítimas e as meninas continuam sendo as mais agredidas. O total de registros revelou que em 58% dos casos, pai e mãe eram os principais suspeitos das agressões e que 45% das vítimas eram meninas. Delas, 20% tinham entre 4 e 7 anos de idade.

Difícil, mas não impossível

Não é só a falta de informação que impede famílias e agentes formadores – professores, líderes comunitários e religiosos - de abordar o tema da violência e abuso sexual no trato com crianças e adultos.

Não saber como falar, nem como orientar atitudes preventivas, é um grande empecilho no cotidiano das pessoas. Por isso, a informação aliada à sensibilização pode ser o caminho para dar mais visibilidade a assunto tão sério e produzir resultados.

Não por acaso, a Caravana Siga Bem, que anualmente busca a adesão de caminhoneiros para a sua campanha de prevenção nas estradas do país, vem adotando com sucesso a encenação de peça teatral nos postos por onde passa.

Outra iniciativa digna de nota e de aplauso começou a ser elaborada pelo Canal Futura em 2013 e resultou em duas séries de filmes educativos: “Que exploração é essa?” e “Que abuso é esse?”.

Vale a pena conferir os episódios (cerca de 6 minutos cada um) de cada série pelo YouTube do Canal Futura. Trata-se de um trabalho primoroso, feito com muita delicadeza, que usa o recurso da animação de bonecos para expor a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes de maneira que todos compreendem.

Quem quiser saber mais sobre as duas séries e, inclusive, acessar os links dos episódios, pode fazê-lo através do site da Fundação Abrinq/Save the Children (www.fundabrinq.org.br).

Ação em rede

A Fundação Abrinq/Save the Children foi criada em 1990 e, desde então, trabalha em defesa dos direitos e da cidadania de crianças e adolescentes. Atuando nos eixos da Educação, Saúde e Proteção, a Fundação sempre liderou ou inspirou projetos relevantes.

Um desses projetos é a Rede Nossas Crianças, formada em setembro de 1999 com a missão de mobilizar, articular e capacitar organizações sociais de atendimento a crianças e adolescentes para que influenciem as políticas públicas nas áreas da infância, adolescência e juventude, e tenham uma ação transformadora da situação de vulnerabilidade social dessa população.

Mais de 166 organizações sociais integram a rede e atendem mais de 61 mil crianças, adolescentes e jovens em 46 municípios.

Os programas da Abrinq e instituições parceiras, do Canal Futura e da Caravana Siga Bem somam-se aos esforços de muitas organizações e empresas conscientes do seu papel social no Brasil.

É preciso que a sociedade redobre sua atenção para com as crianças e jovens e abra olhos e ouvidos para se inteirar mais de suas necessidades. As boas ações sempre lembradas no 18 de maio devem prosperar durante o ano.

Na prática, todo dia é dia de combate à violência e exploração sexual de crianças e adolescentes. Todo dia é um bom dia para prestar mais atenção aos menores e dialogar com eles.

A internet tem informação de qualidade para aperfeiçoar o diálogo e o Disque100 é um canal seguro para impedir o avanço dos agressores.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.