Topo

Projetos das mulheres no Nordeste

Lucila Cano

26/06/2015 06h00

Em 17 de junho, Dia Mundial de Combate à Desertificação, a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, premiou o Projeto Mulheres na Caatinga, da Casa da Mulher do Nordeste, ONG que trabalha pelo empoderamento das mulheres nos estados do Nordeste.

O Projeto foi conduzido por 210 agricultoras que vivem na microrregião do Pajeú, ao norte do estado de Pernambuco, e que atuaram na recuperação da vegetação em áreas degradadas da caatinga. O esforço conjunto resultou no plantio de mais de 46 mil árvores nativas da região no período de dois anos e permitiu alguns desdobramentos: a ampliação de dois viveiros de mudas; construção de 210 fogões agroecológicos; oficinas e seminários para educação ambiental e formação feminista; e até um programa de rádio, o “Fala Mulher”, para divulgação das atividades do grupo.

Com o apoio de patrocinadores como a Petrobras (Programa Petrobras Socioambiental) e de ONGs internacionais, como a ActionAid, a Casa da Mulher do Nordeste promove ações sociais, como o Projeto Mulheres na Caatinga, e incentiva a autonomia econômica e política das mulheres. Criada em 1980, tem sede em Recife, Pernambuco, mas seus projetos também se expandem em rede com outras organizações e grupos sociais no Maranhão, Ceará, Paraíba, Piauí e Bahia.

Tecendo um Nordeste Solidário

Esses Estados, por exemplo, recebem o Projeto Tecendo um Nordeste Solidário, que em sua segunda fase de implantação capacitou diretamente 150 moradoras de áreas rurais e urbanas. A meta é atingir mais 250 mulheres até março de 2016.

Indiretamente, no entanto, o número de mulheres beneficiadas pela multiplicação de conhecimentos chega a ser quadruplicado. Em duas frentes, as participantes do Projeto têm acesso a estudos sobre questões que afetam o seu protagonismo em sociedade e também a oficinas de capacitação para a atividade econômica.

Assim, essas mulheres debatem cidadania e desigualdades de gênero, raça, classe e etnia, entre outros temas da realidade. Já, para entender de negócios e fortalecer a sua capacidade produtiva e técnica, além de garantir o seu desenvolvimento profissional, elas dispõem de várias oficinas.

Os cursos incluem gestão de produção, melhoria da qualidade de produtos e agregação de valor, plano de negócios, atendimento a clientes, marketing e comunicação e, inclusive, tecnologia da informação, com o objetivo de divulgar os seus produtos pela internet.

A ecologia está presente nessa formação e é fundamental para orientar as mulheres a produzir e comercializar produtos agroecológicos tais como: hortaliças, frutas, polpas de frutas, adubo orgânico, roupas, acessórios e objetos de decoração feitos com fibras, palha e cascas de frutas e plantas nativas.

Trabalho e cidadania

O Projeto Tecendo um Nordeste Solidário ainda fornece assistência técnica e social para que as mulheres produtoras das redes estaduais obtenham informações sobre programas governamentais aos quais elas possam atender como fornecedoras. Entre eles estão o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

O fomento à cidadania e a capacitação para o trabalho caminham juntos, com ênfase para o atendimento de mulheres que se encontram em situação de pobreza ou risco, de maneira que elas possam recuperar sua autoestima e tornarem-se senhoras de suas conquistas.

Agregadoras das famílias e em muitos casos também provedoras dos seus lares, as mulheres têm plenas condições de influir na discussão e implantação de políticas públicas, ou na melhoria daquelas já existentes.

Em sua primeira fase, entre 2011 e 2012, o Projeto Tecendo um Nordeste Solidário envolveu diretamente 300 produtoras locais. Com a disseminação de conhecimentos pelas redes, naquela etapa mais de mil mulheres foram beneficiadas indiretamente.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.