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Crianças precisam de segurança

Lucila Cano

28/08/2015 06h00

A prevenção de acidentes com crianças e adolescentes é tema frequente desta coluna graças às informações da ONG Criança Segura, que desde 2001 monitora como os acidentes evoluem no Brasil.

Acidentes ainda representam a principal causa de mortes de crianças e adolescentes na faixa etária de 1 a 14 anos. Nesse período, as crianças passam por fases, desde a total dependência de seus responsáveis diretos até a compreensão de orientações gerais sobre segurança, além de outros aprendizados.
 
Se transmitidas de maneira afetuosa e objetiva, mas também através do exemplo dos adultos, as medidas de prevenção serão entendidas e praticadas por crianças e adolescentes.
 
Uma criança de quatro anos precisa da mão amiga do pai para atravessar a rua com segurança. Um adolescente de 14 anos pode conviver sozinho com o trânsito da cidade, se aprendeu a respeitar a sinalização com a orientação e o exemplo dos pais.
 
O carinho, a atenção, o amparo e o diálogo que pais dedicam a seus filhos são importantes instrumentos de prevenção. As crianças são mais frágeis fisicamente e não reconhecem o perigo. Necessitam de supervisão ativa.
 
Lembremos, no entanto, que a prevenção de acidentes não é responsabilidade exclusiva dos pais ou responsáveis por crianças e adolescentes, como professores e outros cuidadores. Acidentes são uma questão de saúde pública que também envolve governantes e o comprometimento deles com leis, infraestrutura e ambientes seguros para todos.
 

Os números mais recentes

 
Os especialistas da ONG Criança Segura identificaram que houve uma redução no número de mortes por acidentes e um aumento no número de hospitalizações de crianças e adolescentes de até 14 anos. A análise baseia-se em dados do Ministério da Saúde relativos apenas à rede pública de saúde. Não dispomos, portanto, do número de internações em hospitais particulares.
 
Assim, entre 2012 e 2013, a mortalidade por acidentes de crianças e adolescentes de até 14 anos teve uma redução de 2,24% em relação à média dos últimos anos no país. No levantamento anterior, de 2011 a 2012, a redução foi de 0,89%.
 
Os acidentes foram responsáveis por 4.580 mortes em 2013 e mais de 122 mil hospitalizações em 2014 de meninos e meninas de 0 a 14 anos. Os acidentes de trânsito, que incluem atropelamentos, passageiros de veículos, motos e bicicletas, representaram 38% dessas mortes, seguidos de afogamento (24%), sufocação (18%), queimaduras (6%), quedas (5%), intoxicação (2%), armas de fogo (1%) e outros casos não especificados (6%).
 
É importante observar, segundo relato de Gabriela de Freitas, coordenadora nacional da ONG Criança Segura, que “O atropelamento sempre foi o maior vilão dentre os acidentes de trânsito que envolviam os pequenos, mas quando estudamos a evolução dos dados dos últimos 13 anos, notamos uma  grande queda dos atropelamentos, que não necessariamente tem a ver com maior conscientização de segurança viária, mas muito mais com a mudança no estilo de vida e incentivo para uso do carro. Por outro lado, as mortes que envolvem um veículo, como carro ou motocicleta, estão crescendo”.
 

O quadro das hospitalizações

 
Em 2014, mais de 122 mil crianças de até 14 anos foram hospitalizadas em decorrência de acidentes. De acordo com o Datasus, essas internações corresponderam a gastos do governo brasileiro da ordem de R$ 83 milhões.
 
Os acidentes que mais levaram crianças à hospitalização diferem daqueles que são os principais responsáveis por óbitos - trânsito, afogamento e sufocação -, o que não significa que sejam menos graves.
 
Na análise das internações em 2014, quedas (47%), queimaduras (16%) e mordidas de animais (12%) foram as principais causas de acidentes. No entanto, a somatória de outros tipos de acidentes registrou 21% das hospitalizações. Foram eles: efeitos da natureza, queda de objetos, sequelas de outros acidentes, explosões, contato com ferramentas e objetos cortantes.
 
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.