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Novos enfoques para a conservação

Lucila Cano

02/10/2015 06h00

De 21 a 25 de setembro passado, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza realizou em Curitiba (PR) o VIII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), que reuniu palestrantes nacionais e internacionais.

O evento deste ano homenageou os 25 anos da Fundação e trouxe a público novos enfoques para a conservação da natureza.

A seguir, alguns trechos de palestras que chamaram minha atenção e que, acredito, são de fato importantes para partirmos da teoria para a prática.

Tudo vem da natureza

Em sua apresentação, o biólogo George Schaller registrou que o Brasil tem menos de 13% do seu território em áreas protegidas e expôs suas ideias de maneira clara e contundente.

Sobre o Cerrado, por exemplo, o conservacionista americano de 82 anos lembrou que o bioma já perdeu 80% de sua cobertura original e que hoje tem apenas 8,2% do seu território protegido: “E para quê? Para plantar soja que futuramente será usada para alimentar os porcos da China. Será que essa é a maior preocupação do Brasil?”, questionou ele.

A crise hídrica que afeta o Sudeste do país também foi abordada por Schaller: “São Paulo, por exemplo, está sofrendo com a crise da água porque não existem florestas suficientes nos arredores dos mananciais para produzir água”. “Tudo que queremos e precisamos vem da natureza e muitas vezes nos esquecemos disso”, afirmou ele.

Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) participou do CBUC pela primeira vez e apresentou a Rede de Biodiversidade e Florestas, que é integrada por 40 instituições, federações de indústrias, associações setoriais e empresas.

Segundo Elisa Romano Dezolt, especialista de políticas e indústrias da CNI, “O trabalho desses grupos visa discutir ações de defesa do interesse do setor industrial em várias temáticas, como recursos hídricos, resíduos sólidos, florestas e clima, além de capacitação”.

Inspiração

Sue Gardner, diretora do Programa de Gestão de Parques Golden Gate (EUA), trouxe para o CBUC uma visão prática do voluntariado envolvendo crianças e jovens e atribuiu o sucesso de um programa a seis elementos: oferecer um senso do propósito; trabalhar em equipe; oferecer incentivo econômico (mesmo que pequeno); incluir um componente de aprendizado; integrar trabalho e diversão; e oferecer desafios físicos e mentais.

Segundo ela, oferecer um senso do propósito é importante porque ele permite que os jovens vejam a importância do seu trabalho e como eles podem fazer a diferença. Além disso, incluir um componente de aprendizado em um programa não apenas fornece aos líderes a oportunidade de ensinar sobre as áreas protegidas e o meio ambiente, como também sobre liderança, trabalho em equipe e habilidades práticas.

“Eu também acredito ser muito importante considerar as formas que escolas podem se envolver de maneira mais efetiva, oferecendo mais estudos sobre educação ambiental (não apenas ciência), exigir serviço comunitário, e desenvolver parcerias e toda uma estrutura que permita a estudantes se engajarem de forma prática, aprendendo fora da sala de aula”, disse ela.

O cineasta e produtor brasileiro Fernando Meirelles abordou a necessidade de uma nova forma de comunicar temas ambientais. Para ele, “A comunicação, não apenas do cinema, quando se fala de meio ambiente, tem sido muito bio-desagradável e eco-chata. É preciso mostrar para as pessoas a importância da conservação da natureza sem focar apenas no catastrófico”.

Para encerrar, uma bela passagem da palestra da ambientalista e ex-senadora Marina Silva: “A inspiração é essencial para uma vida significativa. Ela nos faz criativos e capazes de superar limites e barreiras de uma realidade dura”. De acordo com ela, essa máxima vale para os indivíduos e para as coletividades. “Uma nação pode inspirar-se. Aliás, deve. Só assim encontrará as melhores soluções para suas crises e tornará sua história significativa na humanidade”, afirmou.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.