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Solidariedade engrandecida

Lucila Cano

27/11/2015 06h00

Nestes últimos dias do mês de novembro, um grupo especial de pessoas ganha ainda mais destaque entre os adeptos do voluntariado. São os doadores de sangue, sempre lembrados e homenageados por ocasião do dia 25 de novembro. A data registra o Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue.

É óbvio que não existe dia certo para a doação de sangue, embora a necessidade dos bancos de sangue seja maior em algumas épocas do ano. Nas regiões mais frias do país, o inverno inibe a boa vontade de muitos doadores e os estoques dos bancos são drasticamente reduzidos.

Períodos de férias, como o do próximo verão, que já bate às nossas portas, são igualmente críticos, mas por motivos diversos. Doadores saem de férias e o volume de doações cai. O grande fluxo de veículos nas estradas é fator de risco para que haja mais acidentes e, portanto, aumente a demanda por sangue em hospitais e unidades de pronto-socorro. Grandes eventos esportivos, shows, festas populares como o Carnaval, e qualquer outra aglomeração de pessoas, sinalizam que os bancos de sangue devem estar preparados para atender mais casos, se preciso for.

Aquém da média desejável

Há ainda outro importante fator a lembrar e ele não é sazonal. O número de doadores no Brasil está aquém do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Segundo a OMS o ideal é que o número de doadores de um país varie de 3% a 5% do total da população, enquanto nosso índice gira em torno de 2%.

Por outro lado, quem doa uma vez por vontade própria parece que continuará firme em sua convicção de ajudar quem precisa.  De acordo com dados da Fundação Pró-Sangue, cerca de 87% das pessoas que procuram a instituição são doadores voluntários. Outros 13% são doadores vinculados a determinada situação.

Outro estímulo para os doadores está no bom uso do material colhido. Uma única doação pode beneficiar de três a quatro pessoas, o que, por si só, engrandece a solidariedade de cada doador. Pois com um gesto individual e intransferível, cada doação pode contribuir para ajudar vítimas de acidentes, pacientes que passam por cirurgias e também aqueles submetidos a inúmeros outros procedimentos, como a quimioterapia.

Além disso, desde 2013 o Ministério da Saúde ampliou a faixa etária dos doadores de sangue, permitindo que pessoas com até 69 anos de idade, mas em boas condições de saúde, pudessem se integrar ao grupo da boa prática.

Valor incalculável

Ao contrário de medicamentos, o sangue não é um produto à venda, qualquer que seja o valor que se queira atribuir a ele. Por isso, a doação é tão importante e sempre necessária.

O sangue é o alimento da vida humana. Não envelhece e é rapidamente reposto no organismo do doador, em prazo de dois a três dias, exatamente na mesma proporção que foi doada. As restrições de idade, para mais de 69, ou para menos de 16 anos, são em função do bem-estar do doador idoso, ou para preservar a constituição física ainda frágil dos jovens.

Também é bom termos em mente que o sangue é, vamos dizer, o mais democrático dos bens humanos. A sua qualidade e o benefício que pode levar a outra pessoa independem da cor, do sexo, da idade, do credo, da classe social e até do partido político de quem doa.

A OMS e os hemocentros do país orientam os doadores sobre procedimentos básicos, como a não ingestão de bebida alcoólica no dia anterior à doação; não fumar ao menos duas horas antes da coleta; ter peso igual ou acima de 51 quilos; estar bem alimentado e descansado; não ter contraído anteriormente doenças como Hepatite B, Hepatite C, Chagas, Sífilis, HIV e HTLV.

Após o parto, mulheres devem aguardar entre 90 e 180 dias para doar. Em condições normais, o intervalo entre doações para as mulheres é de 90 dias. Já para os homens, as doações podem ocorrer a cada 60 dias.

Se você puder, seja um doador voluntário de sangue. A prática só faz bem a quem doa e a quem recebe, em qualquer época do ano.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.