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Mutirão de limpeza

Funcionário procura por possíveis focos do mosquito Aedes aegypti - Venilton Kuchler/ANPr/Divulgação
Funcionário procura por possíveis focos do mosquito Aedes aegypti Imagem: Venilton Kuchler/ANPr/Divulgação
Lucila Cano

11/12/2015 06h00

Em Pernambuco e agora também no Espírito Santo, o exército sai às ruas em companhia de agentes de saúde pública para orientar a população no combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor responsável pela dengue, febre chikungunya e zika.

Enquanto isso, em São Paulo, o Instituto Trata Brasil divulgou no final de novembro resultados de pesquisa sobre saneamento básico em áreas irregulares de 13 grandes municípios do Estado.

Aparentemente, as duas situações não têm nada a ver entre si, mas só aparentemente.

Os casos de microcefalia associados à incidência de mulheres grávidas antes acometidas pelo zika vírus foram primeiro notados em Pernambuco, mas não são exclusivos, nem restritos ao polo nordestino.

O sonho da maternidade vem se tornando pesadelo nos lares brasileiros, à medida que avançam as investigações sobre o surto de microcefalia, pois o número de casos cresce em Pernambuco, mas já registra uma expansão pelo país.

Como agravante ao medo instalado, alguns especialistas já declararam que a microcefalia também pode ocorrer em função de muitos outros fatores, como a desnutrição, por exemplo.

Lata de lixo

Uma reflexão sobre o pânico que nos atinge, seja direta ou indiretamente, leva-nos aos criadouros do mosquito transmissor que, como já dito outras vezes em diferentes textos sobre a dengue, se alastram além quintais, calhas, caixas d’água e vasinhos de plantas das casas.

Os criadouros também estão nas vias públicas, nos terrenos baldios, no lixo acumulado nas esquinas de nossas cidades, nas lixeiras públicas mal cuidadas, em cada vasilhame atirado na beira de córregos ou qualquer outro curso d’água.

Admitamos ou não, o fato é que a cultura da via pública como “lata de lixo” persiste entre nós. Como se não bastasse o mau hábito da população, a falta de saneamento básico contribui para a miséria e a fragilização da saúde.

Exemplo disso está no texto de apresentação do Instituto Trata Brasil que menciono na introdução desta coluna e do qual tomo a liberdade de reproduzir dois dos parágrafos iniciais: “A falta de saneamento básico assola milhões de brasileiros, como apontam os últimos dados do SNIS 2013 (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico). Menos da metade dos brasileiros está conectada às redes de coleta de esgotos e apenas 39% dos esgotos gerados são tratados. Além disso, há mais de 30 milhões sem acesso à água tratada. A carência do saneamento básico atinge a todos, mas é certo que os maiores impactos estão nas famílias de baixa de renda, muitas delas residentes em locais denominados ‘aglomerados subnormais’, ou simplesmente áreas irregulares.

“O Censo Demográfico do IBGE, realizado em 2010, mostrou que no Brasil existiam 6.329 assentamentos irregulares perfazendo mais de 3 milhões de domicílios nesses aglomerados. Neles residiam cerca de 11,4 milhões de pessoas, sendo que a maioria desses brasileiros normalmente não dispõe de um dos serviços públicos mais essenciais: saneamento básico. As Regiões Metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes abrigavam 88,2% dos domicílios em aglomerados subnormais e apenas 11,8% em municípios isolados ou em Regiões Metropolitanas com menos de 1 milhão de habitantes.”

Mãos à obra

Onde não há saneamento, o mosquito Aedes aegypti encontra terreno fértil para a sua reprodução. Onde não há saneamento, a população se torna refém de doenças de toda ordem. E como esse problema nacional não será resolvido de imediato, precisamos reagir com o que temos. Ao bater de porta em porta, exército e agentes de saúde precisam alertar as pessoas sobre o que fazer dentro e fora de casa. A limpeza é fundamental para o sucesso desta empreitada e também depende dos serviços de limpeza pública em todos os municípios. O desafio é grande, mas pode ser enfrentado se todos, sem exceção, se dispuserem a limpar a casa, a rua, a cidade em que vivem.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.