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Recado das estradas

Lucila Cano

08/01/2016 06h00

De certo modo, já nos acostumamos às notícias do movimento nas estradas durante as datas festivas de um ano que se vai e de outro que se inicia. A imprensa diária cumpre muito bem essa pauta e, pela televisão, nos ilustramos com imagens e cobertura nacional das rotas de tráfego intenso. É o que ocorre no Natal e na passagem de ano. Logo, logo, assim será no Carnaval.

Até o próximo grande feriado nacional, as rodovias estarão menos presentes no noticiário de todo dia. No entanto, muita gente está em férias. É verão e as viagens familiares seguem o calendário escolar dos filhos. A maioria das pessoas, então, opta pela faixa litorânea do país, servida de belas praias e de vias nem tão belas. Essas estão sempre esburacadas, mal servidas de acostamento e, pior, invadem trechos urbanos de travessia constante de pedestres.

Como se não bastasse a má conservação dos caminhos que levam às praias, os motoristas da estação ainda estão sujeitos a mudanças bruscas de tempo, chuvas torrenciais, forte neblina em trechos de serra, animais nas pistas, deslizamentos e inundações.

Dirigir durante o período de férias de verão é um desafio à paciência, à atenção ao volante, ao bom senso e à responsabilidade (com o veículo e com as pessoas, dentro e fora dele).

O que dizem os números

Periodicamente, a Polícia Rodoviária Federal atualiza os números de acidentes nas estradas federais. Infelizmente, não dispomos de números de outras rodovias, estaduais e municipais, com tanta frequência e precisão.

Em comparação ao mesmo período de final de ano de 2014 para 2015, os acidentes graves entre 28 de dezembro de 2015 e 3 de janeiro de 2016 foram 36% inferiores: 267 acidentes contra 415. Entretanto, o número de mortes aumentou 14,8%. Foram 147 mortes e 2.073 pessoas feridas contra 128 mortos e 1.975 feridos no período anterior.

O que poderia explicar isso? Os carros modernos são mais seguros, melhor equipados e, assim, contribuem para a redução de acidentes graves, o que, para mim, parece ser uma boa resposta.

Apesar disso, mais pessoas morreram e o número de feridos também aumentou. Provavelmente havia mais passageiros por veículo envolvido em acidente grave. Certamente, a imprudência ocasionou a maioria dos desastres.

A colisão frontal continua sendo a arma assassina nas mãos de motoristas que não têm paciência de seguir um trecho de ultrapassagem proibida atrás de outro veículo mais lento. A colisão frontal continua provocando queda livre de corpos no asfalto, porque ainda há (e são muitos) quem dispense o cinto de segurança. Isso, inclusive, nos carros com dispositivos sonoros de alerta.

Mas, nem sempre a colisão frontal resulta da irresponsabilidade do motorista. Ela ocorre, às vezes, por algum fator incontrolável, alheio ao condutor do veículo, e, por isso mesmo, toda atenção é necessária, o tempo todo.

Seja por irresponsabilidade, ou não, acidentes graves também geram altos custos com assistência médica para os sobreviventes, muitos deles portadores de marcas irreversíveis.

Um carro, um filho

Há quem diga que a despesa para manter um carro é praticamente igual àquela para manter um filho. São gastos com impostos, combustível e manutenção. Isso, sem falar no seguro, do qual muitos abrem mão.

A manutenção também não é levada muito a sério, embora faça diferença em momentos de apuro, quando um veículo é mais exigido. O bom estado dos pneus e amortecedores, freios seguros, lubrificação adequada, faróis e piscas-alerta em ordem, filtros limpos, correias novas e alguns outros itens básicos garantem viagens tranquilas.

Dá trabalho e custa caro manter um carro (especialmente em nosso país). Mas, para que as férias de todos os anos sejam mais felizes e com menos acidentes graves, ou fatais, seria muito bom que motoristas de fato encarassem seus veículos como filhos. Eles precisam de atenção, paciência, cuidados e limites.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.