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A qualidade da água

Lucila Cano

25/03/2016 06h00

A passagem do Dia Internacional da Água na terça-feira, 22 de março, foi motivo de muitas notícias por parte de instituições ligadas à preservação do meio ambiente. A Fundação SOS Mata Atlântica, que há 30 anos atua na proteção da floresta mais ameaçada do país, divulgou importante estudo sobre a qualidade da água em 183 rios, córregos e lagos de 11 Estados brasileiros e do Distrito Federal.

Segundo a própria Fundação, esse foi o levantamento mais abrangente que já coordenou a partir de dados coletados entre março de 2015 e fevereiro de 2016 em 289 pontos de coleta distribuídos em 76 municípios.

Nenhum dos pontos analisados foi avaliado como ótimo. Isso é bastante desanimador para todos aqueles que, há anos, se dedicam à educação ambiental nas escolas, mas também nas empresas, nas campanhas institucionais e em tantas outras ações em defesa da água, o recurso natural que escasseia à medida que crescem as agressões à Natureza.

Percentuais da qualidade

O levantamento apontou que 36,3% dos pontos de coleta analisados apresentaram qualidade ruim ou péssima. Apenas em 13 dos 289 pontos a água se mostrou com boa qualidade, o que correspondeu a 4,5% do total, enquanto outros 59,2% foram avaliados em situação regular.

O Estado de São Paulo, o mais representado no estudo da Fundação SOS Mata Atlântica, teve 124 rios analisados, a partir de um total de 212 pontos de coleta de água. Os resultados são sofríveis: 41,5% estão sem condições de usos múltiplos, ou seja, não servem para o abastecimento humano, nem para saciar os animais. Também não se prestam ao lazer, à pesca, à produção de alimentos e tampouco para o abastecimento público com geração de energia, por apresentarem qualidade de água ruim ou péssima.

Em São Paulo, apenas 6,1% dos pontos de coleta apresentaram qualidade de água boa. Os demais 52,4% indicaram índices regulares, em estado de alerta.

Já o Estado do Rio de Janeiro não apresenta nenhum ponto com qualidade de água boa entre os 27 rios avaliados. Dos 30 pontos medidos, 22 (73,3%) estão em situação de alerta com condições regulares – desse total, 16 estão na cidade do Rio de Janeiro.

Os outros 32 rios analisados estão localizados no Distrito Federal e nos Estados de Alagoas, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Por meio de uma parceira com a empresa Ypê, que patrocina a iniciativa, o monitoramento da qualidade da água deverá ser ampliado nos próximos anos, com a criação de 10 novos grupos em nove Estados. A meta da Fundação é que o levantamento seja realizado em todos os 17 Estados da Mata Atlântica até 2020.  

Campanha pró-saneamento

Tais indicadores levaram a Fundação SOS Mata Atlântica a abraçar a campanha “Saneamento Já”, com o objetivo de engajar a sociedade em uma petição pela universalização do saneamento e por água limpa nos rios e praias brasileiros.

A petição online está no site da Fundação e pode ser acessada pelo link: https://www.sosma.org.br/projeto/rede-das-aguas/peticao-saneamento-ja/

Os motivos para o leitor assiná-la são fortes e alguns deles já foram lembrados em outros textos desta coluna: Apenas 40% dos esgotos gerados no Brasil são tratados; 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada; 85% dos 111 rios e córregos avaliados pela Fundação SOS Mata Atlântica não apresentam boa qualidade da água; Mais de 70% das doenças que levam a internações hospitalares no país são decorrentes de contato com a água contaminada.

Em tempo: A coleta em rios, córregos e lagos dos Estados com Mata Atlântica é feita por voluntários que formam grupos de monitoramento. Eles recebem capacitação e material da Fundação SOS Mata Atlântica para realizar a análise e disponibilizar os resultados em um banco de dados na internet. Interessados em participar devem entrar em contato pelo site www.sosma.org.br/contato/.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.