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O livro acessível

Lucila Cano

08/04/2016 06h00

O mês de abril reúne quase todas as datas alusivas ao livro: Dia Internacional do Livro Infantil (2/4); Dia da Biblioteca (9/4); Dia Nacional do Livro Infantil (18/4); Dia Internacional da Educação (28/4).

O Dia Internacional do Livro Infantil homenageia o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, nascido em 2 de abril de 1805 e mundialmente celebrado por obras como “O patinho feio” e “O soldadinho de chumbo”.

O Dia Nacional do Livro Infantil comemora o nascimento de Monteiro Lobato em 18 de abril de 1882. Com personagens bem brasileiros, ligados à terra e ao nosso folclore, Lobato mexeu com o imaginário infantil e até hoje desperta as crianças para a leitura.

Além dessas datas, há, ainda, o Dia Nacional do Braille, em 8 de abril, que marca um avanço significativo no acesso dos deficientes visuais à leitura.

Curiosamente, a data não tem relação direta com o criador do método, o educador francês Louis Braille, nascido em 4 de janeiro de 1809. A homenagem brasileira ao Braille foi oficialmente instituída em 2010 e lembra a data de nascimento (8 de abril de 1834) de José Álvares de Azevedo, o primeiro professor cego brasileiro.

De família abastada, o que lhe permitiu estudar na França, Álvares de Azevedo era cego de nascimento e teve vida curta. Faleceu de tuberculose aos 20 anos de idade. Nesse período, entretanto, pôde aprender o método Braille, que começou a ensinar e difundir no Brasil. Tal contribuição lhe valeu o título de “Patrono da Educação dos Cegos no Brasil” e o registro do Dia Nacional do Braille.

Biblioteca digital

Em 1946, com a criação da Fundação para o Livro do Cego no Brasil (atual Fundação Dorina Nowill para Cegos), a produção de livros em Braille passou a desempenhar importante papel na alfabetização de deficientes visuais.

Agora, a Fundação abre a Dorinateca - Biblioteca Digital Dorina Nowill, que facilita o acesso a livros nos formatos áudio e digital acessível Daisy, além dos arquivos para download ou impressão em Braille.

Para acessar e usufruir os benefícios da plataforma digital, bastam dois requisitos: fazer um cadastro na Dorinateca e ter acesso à internet. Ao acervo que a Fundação já possuía, foram somados mais 100 títulos de literatura nacional, estrangeira e infanto-juvenil. O novo lote também inclui best-sellers e conteúdos para concursos públicos. A partir de agora, inclusive, todas as obras que forem transcritas para o Braille serão adicionadas à Dorinateca.

Dessa maneira, o livro mais uma vez poderá fazer a diferença na vida das pessoas.

Segundo dados do IBGE divulgados pela Fundação Dorina Nowill, mais de 6,5 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência visual no Brasil.

A importância do Braille

A internet complementa o aprendizado do Braille, para que deficientes visuais tenham atividades normais em casa, no trabalho, no convívio social.

Nesse aspecto, a formação de professores é essencial. Para eles, a Fundação Dorina Nowill também realiza cursos presenciais em sua sede, em São Paulo (SP).

O primeiro desafio da inclusão de deficientes visuais está na família, que deve apoiar e incentivar o aprendizado, o estudo e a capacitação profissional. Mas, em sala de aula, os professores devem estar igualmente preparados para ensinar o Braille e sua técnica de leitura e escrita.

O sistema Braille permite a formação de 63 caracteres diferentes. Eles representam as letras do alfabeto, os números, a simbologia científica, a musicográfica, a fonética e a informática, a partir da combinação de seis pontos dispostos em duas colunas e três linhas.

O sistema se adapta perfeitamente à leitura tátil, pois os seis pontos em relevo podem ser percebidos pela parte mais sensível do dedo com apenas um toque. Louis Braille o teria desenvolvido com base no que ouviu falar de um esquema de pontos e buracos inventado por um oficial para ler mensagens à noite e em lugares sem luz.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.