Topo

A cara do Brasil

Deputados aguardando para votar pela autorização ou não da abertura do processo de impeachment, na Câmara dos Deputados, em Brasília - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Deputados aguardando para votar pela autorização ou não da abertura do processo de impeachment, na Câmara dos Deputados, em Brasília Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Lucila Cano

22/04/2016 06h00

Assim como eu, muitos brasileiros acompanharam até o fim a votação pela admissibilidade do impeachment da presidente da República em 17 de abril. A transmissão foi longa, mas tratava-se de oportunidade rara, pelo que se impunha decidir. Não dava para ignorar as palavras, as imagens, os votos.

Esta coluna não trata de política, nem pretende, a partir deste texto, imiscuir-se em assunto que não domina. No entanto, o impacto desse evento foi grande, e em variados aspectos, no que toca aos temas que sempre procuro abordar.

Pela primeira vez, pude ver e ouvir todos os deputados (salvo duas ausências por recomendação médica) que nos representam no Congresso Nacional. Ocasião única, que surpreendeu a mim e aos que assistiram à transmissão. É a totalidade desses senhores que rege a maior casa do Legislativo brasileiro, não só aqueles que nos acostumamos a ver nas entrevistas de sempre na televisão.

À parte declaração sem propósito, que mais me pareceu uma aposta no absurdo, para chocar todo mundo, refiro-me à maioria das manifestações. A uma ou outra, risadinhas marotas surgiam entre alguns dos que cercavam o microfone. Em casa, na rua, a cena se repetia, de maneira até mais desbragada. Como se não bastasse o riso, a piada de momento, a malhação prosseguiu no dia seguinte, em comentários, críticas, artigos.

Sem censura

Livres que somos, temos o direito de dizer o que pensamos, de rir e de fazer rir, porque do riso também aprendemos a pensar. Só não podemos comparar nossos parlamentares aos ingleses. Em qualquer quesito, estaríamos em desvantagem, a começar pelo tempo que nos separa.

Esses senhores são a cara do Brasil e, como o país é grande, desigual, carente de cuidados básicos no que de mais básico as populações necessitam, o que eles disseram e como disseram importa, e muito, para estudarmos o Brasil.

Todos puderam se exibir na televisão, para o país inteiro e, em particular, para o seu núcleo eleitoral e familiar. De certo modo, a grande maioria deixou de ser parlamentar “anônimo” para ter o seu minuto de glória, para mostrar que está lá, cumprindo o seu mandato. Sem dúvida, isso deve render votos. Mas, essa é outra história.

Qual o problema de agradecer a Deus, à família, aos eleitores, à entidade de classe a qual pertence? É só no Oscar que pode? Alguém poderá alegar: “Ah, eles não disseram (a maioria) o motivo do voto”. Sim, no Oscar e em tantas premiações (porque a votação foi como um prêmio para os parlamentares: o direito de representar os seus eleitores em uma decisão histórica), ninguém justifica o motivo do prêmio.

Ah, a Educação

Por outro lado, na voz da maior parcela de nossos parlamentares, os verbos saíram em discordância, apenas para registrar o mínimo do que disseram (Mania de falar o plural no singular, só para se mostrar popular, ou desconhecimento de fato?).

Expostos que foram em cadeia nacional de televisão, os mais espertos atentarão para a importância da Educação. Ela faz falta para eles, para seus eleitores, para o Brasil. 

Quanto não ganharíamos, se com uma Educação de qualidade pudéssemos ler, escrever e entender o que dizem e o que escrevem demais brasileiros? Saberíamos escolher melhor, ter opinião, formar opinião.

Mais do que colocar crianças e jovens nas escolas, nossa Educação precisa ser revista e melhorada, para que cada vez mais as pessoas façam do país uma pátria educada. Sejam representantes dos rincões brasileiros, sejam empreiteiros formados nos números, que sem intimidade com as letras, trocam os dóceis por “indósseis”.

Ser simples não significa ser burro. A simplicidade merece respeito. A burrice merece uma volta à escola.

De todas as prioridades, paradoxalmente a Educação é prioridade a longo prazo. Não se resolve de pronto, mas demanda ações imediatas. Precisamos aprender a ler, falar, escrever, pensar, para pensar o Brasil com a grandeza que o seu povo merece.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.