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Importância do ecodesign

Lucila Cano

29/04/2016 06h00

Aos poucos, o conceito de sustentabilidade vai se materializando em ações práticas, mais fáceis de serem entendidas e adotadas pelas pessoas.

Uma medida recente da Abiplast, a Associação Brasileira da Indústria do Plástico, pode contribuir de maneira significativa para ampliar a conscientização de duas pontas do processo de consumo: quem produz e quem recicla.

Em meados de abril, a Abiplast realizou um evento com representantes do setor e lançou a “Cartilha de Reciclabilidade de Materiais Plásticos Pós-Consumo”, destinada a explicar a fabricantes e recicladores como um novo padrão de embalagens pode agregar benefícios e valor para toda a cadeia produtiva.

Em outras palavras, e numa explicação simplificada, a composição de matérias-primas e os tipos de embalagens influem decisivamente no aproveitamento ou, em caso contrário, na inviabilidade da reciclagem. Portanto, o desafio que se impõe para um avanço na reciclagem e reutilização de materiais plásticos para novos produtos passa pela economia de recursos naturais, o cumprimento das metas previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, a obediência às normas técnicas (ABNT) e a competitividade. Esse é um campo fértil para o design ecológico, ou ecodesign.

O plástico em nossas vidas

É impossível dissociar o plástico de nossas vidas. Como diz José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast, no texto introdutório da cartilha, o plástico tornou mais leves os carros e os aviões; reduziu desperdício de alimentos no varejo e em casa; viabilizou seringas descartáveis, bolsas de sangue e de soro, além de uma infinidade de outros usos.

No entanto, o descarte inadequado faz do plástico um vilão, com razões de sobra para condenar sua presença pós-consumo no meio ambiente. Para nós, consumidores, a separação e a correta destinação do plástico nos pontos de coleta das empresas de reciclagem é um passo. Outro, como propõem a Abiplast e os especialistas do setor, é a adoção do ecodesign pela indústria, de modo a reduzir o uso de recursos não renováveis e minimizar o impacto ambiental do plástico.

Alguns dos avanços creditados ao ecodesign e mais visíveis ao consumidor são as embalagens compactas para produtos mais concentrados; a redução da altura das tampas, gramatura e gargalos das garrafas de refrigerantes; os refis e as etiquetas moldadas.

As embalagens para produtos concentrados ocupam menos espaço no transporte, o que reduz a emissão de CO2. Também demandam menos plástico na fabricação do recipiente.

Garrafas de refrigerante mais leves reduzem em 17% o volume de plástico em sua composição. Pós-consumo, podem ser retorcidas e ocupam menos espaço no descarte.

Os refis reforçam a reutilização da embalagem original de um produto, o que diminui custos de fabricação, venda e transporte.

Por sua vez, as etiquetas plásticas moldadas (chamadas pela indústria de in-mould label) são produzidas do mesmo polímero do recipiente, o que redunda em melhor qualidade da reciclagem.

Questão de qualidade

O conceito do ecodesign é também muito importante para garantir a qualidade da reciclagem e o reuso de materiais reciclados. Para tanto, o ecodesign influi no desenvolvimento de processos de fabricação mais eficientes.

Misturas de materiais plásticos diferentes na mesma embalagem podem dificultar a reciclagem pós-consumo. A quantidade de tinta de impressão é outro obstáculo. Informa a cartilha que já existem tintas à base de água, que são removidas na reciclagem. Por outro lado, quanto maior a presença de contaminantes coloridos no plástico reciclado, menor é o seu preço de mercado e a sua reutilização na fabricação de novos produtos.

A reciclagem precisa ser otimizada para garantir a reutilização do plástico reciclado. As múltiplas aplicações do ecodesign favorecem a criação de um padrão de qualidade na indústria, para melhor proveito de todos.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.