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Entre o mar e o sertão

Lucila Cano

06/05/2016 06h00

Um mês separa duas datas importantes para uma reflexão a respeito das ações danosas do homem ao meio ambiente. Em 28 de abril tivemos o Dia da Caatinga e, agora, em 27 de maio, teremos o Dia da Mata Atlântica.

A Mata Atlântica lidera o ranking da devastação. Por se estender ao longo do litoral, área que concentra a maior urbanização do país, tem somente 21,9% de vegetação remanescente do total original de 1,1 milhão de quilômetros quadrados (Dados do Relatório Nacional sobre a Biodiversidade, de 2015).

A Caatinga ocupa 10% do território brasileiro, em áreas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo. Possui apenas 53,4% de vegetação remanescente, uma vegetação frágil e rala em região do semiárido. Se explorada indevidamente, a Caatinga pode chegar ao nível de desertificação, seja por questões climáticas, seja pelo manejo inadequado do solo.

Como os filhos do sertão, a Caatinga surpreende. A despeito dos cuidados que inspira, ainda se mantém mais preservada que outros biomas brasileiros. O Cerrado tem apenas 51,2% de vegetação remanescente e somente 35,6% do Pampa estão preservados, segundo o relatório já citado.

Vida nativa

Em 2014, por ocasião do Dia da Mata Atlântica, o Ministério do Meio Ambiente divulgou informação atribuindo ao bioma o abrigo de 35% das espécies de flora já registradas no país, o que corresponderia a cerca de 20 mil espécies. Entre aves, anfíbios, répteis, mamíferos e peixes, a floresta acolheria mais de duas mil espécies da fauna.

Dois anos depois, torcemos para que informações mais recentes, tanto do ministério, quanto da ONG SOS Mata Atlântica, renovem a esperança de que o reflorestamento e a preservação ainda são possíveis. A organização, que há 30 anos atua em defesa da floresta mais ameaçada do Brasil, atualiza os números da Mata Atlântica todos os anos. Sua ampla divulgação ajuda, inclusive, a formar cidadãos mais conscientes para o exercício da sustentabilidade. Em 2016, por exemplo, é importante sabermos o que tem sido feito em localidades apontadas como as mais devastadas na faixa que liga o Rio Grande do Sul ao Piauí, entre elas Minas Gerais e Bahia, além do próprio Piauí (Dados de 2014).

O manejo na Caatinga

Estimativas indicam que 74,2% do território do Sergipe é suscetível à desertificação. A gravidade dessa situação apontou para uma agenda especial em Aracaju, capital do estado, onde o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), comemorou o Dia Nacional da Caatinga, no final de abril, com uma proposta de práticas de manejo adequadas ao solo da região.

O projeto piloto “Manejo de uso sustentável de terras do semiárido do Nordeste brasileiro”, lançado pelo PNUD e pelo MMA em dezembro de 2015, também conta com o suporte da Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e o governo do Sergipe. Tem por iniciativa lidar diretamente com os habitantes do semiárido sergipano, ensinando a todos novas técnicas de produção agrícola.

A partir da transmissão do conhecimento de técnicos que atuam no projeto, o manejo adequado na região deve impedir a degradação do solo e evitar o seu esgotamento, de modo a garantir a produção sustentável em equilíbrio com a preservação da mata nativa.

A gestão sustentável da Caatinga é um desafio que se impõe para que as populações locais tenham melhor qualidade de vida, tanto no enfrentamento da seca, quanto na lida dos recursos naturais de sua vegetação.

No Sergipe, além das instituições já mencionadas, o projeto de manejo da Caatinga é ainda apoiado pelo Ibama, pelo Fundo Global para o Meio Ambiente, e por organizações locais. Temos, assim, uma somatória de forças que, se bem-sucedida, poderá se estender aos outros oito estados do Nordeste, bem como a Minas Gerais e Espírito Santo, que também compõem o mapa do semiárido brasileiro.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.