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Um jeito de ser voluntário

Lucila Cano

18/11/2016 06h00

O tema do voluntariado é inesgotável. Se de um lado somos constantemente surpreendidos por ações de violência, abandono, desrespeito e tantas mazelas mais, de outro sempre há um movimento em defesa das boas causas. E elas são inúmeras.

É certo que cada um se aplica ao que sabe mais, ou gosta mais, toda vez que se propõe a exercitar o seu espírito voluntário. Assim, a gama de ações em benefício do próximo é ampla e abrangente. Numa sociedade tão diversa quanto a nossa, precisamos dessa ação guarda-chuva.

O sentido da solidariedade que dá vida ao voluntariado cada vez mais motiva grupos a formar pessoas para o trabalho, o estudo e a superação de desafios na vida pessoal e profissional.

Porque, sabemos todos, uma coisa puxa a outra. O indivíduo valorizado recupera a autoestima e busca se melhorar sempre que lhe dão uma oportunidade. É bom para ele, para a família, para toda a sociedade.

Ação entre jovens

Para quem ainda enxerga o voluntariado como coisa de gente aposentada, pessoas mais velhas, com mais tempo disponível, é bom saber que os jovens se mobilizam também e em torno de causas muito interessantes.

Em São Paulo, por exemplo, um grupo de estudantes da Escola Politécnica da USP criou o projeto Matemática em Movimento. Do que se trata? Ensinar Matemática para alunos do Ensino Médio de escolas públicas.

O projeto surgiu em meados de 2011, após esses estudantes serem aprovados no vestibular. O esforço reconhecido os motivou a ajudar outros jovens com menos condição de estudo, e dar a eles a oportunidade de fazer da Matemática o fio condutor para muitas conquistas. Ingressar na faculdade é uma delas.

Tudo começou com sete amigos que idealizaram compartilhar sua experiência e seu conhecimento com outros jovens em aulas nas manhãs de sábado. Junto com os exercícios de Matemática viriam adendos, como trabalhar o raciocínio, desenvolver atividades, fazer passeios.

Em praticamente cinco anos, o Matemática em Movimento somou mais de 70 voluntários e continua disposto a crescer. Em outubro, abriu seleção para aumentar o time de professores informais para o ano de 2017. Entre os alunos, mais de 80 já foram ajudados a transpor as dificuldades do Ensino Médio.

Parece pouco, mas não é. Cada jovem que descobre que a Matemática não é bicho de sete cabeças torna-se um entusiasta e motiva outros colegas para o estudo. O efeito multiplicador de quem descobre o prazer de estudar é grande. As competições de Matemática pelo país são um bom exemplo.

Professores fazem a diferença

Tanto no primário quanto no curso ginasial (no meu tempo era assim: primário, ginásio, colegial e faculdade), tive ótimos professores de Matemática. Era uma boa aluna e gostava muito da matéria. Depois, os professores que me cativaram eram de outras áreas e acabei me interessando mais pelas letras.

Professores fazem a diferença, sem dúvida. Por isso, todos os cursos de atualização de professores e formação consistente para quem deseja seguir a carreira são vitais. Só vai gostar de estudar quem tem um professor que gosta de ensinar.

Com o seu projeto de voluntariado, os jovens do Matemática em Movimento estão dando a maior força para mudar a relação de outros jovens com o aprendizado. As aulas são gratuitas e há um processo seletivo para novos alunos. Para informações, o site do grupo é: www.matematicaemmovimento.com.br

Imagino que, a exemplo do Matemática em Movimento, deva haver outros grupos de voluntários fazendo muita coisa boa Brasil afora. Todos nós temos ao menos uma habilidade na qual nos saímos melhor. O caminho do voluntariado é oportunidade única para partilhar um pouco dessa riqueza com demais pessoas. Quando ensinamos alguém, estamos ajudando a nós mesmos, porque é preciso se preparar, estudar ainda mais para ensinar.

Para quem ainda não pensou nisso, fica a sugestão. Qualquer matéria é desafiadora e parece muito difícil quando falta motivação.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.