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Inúmeras possibilidades

Lucila Cano

30/12/2016 06h00

Para encerrar um ano bem e iniciar outro com esperanças renovadas na capacidade humana de se reformar e trilhar caminhos mais solidários e mais sustentáveis, selecionei dois projetos inspiradores.

Um deles exemplifica o velho ditado “querer é poder” no seu sentido mais completo. O outro partiu de uma empresa, reconhecida de longe por seus programas sociais, que demonstra não se acomodar com o que já fez.

Estudar para cuidar

Em 23 de dezembro, antevéspera do Natal, a Universidade Federal de Minas Gerais diplomou perto de 130 alunos. Entre eles, dois índios da etnia Pataxó se formaram médicos.

Amaynara Pataxó, de 27 anos, deve se dedicar agora aos habitantes da aldeia Carmésia, no Vale do Rio Doce, onde nasceu. Ao site G1, que publicou extensa matéria sobre ela e Vazigton Guedes Oliveira, seu colega de turma, ela se declarou “a primeira médica Pataxó de Minas Gerais”.

Vazigton é natural de Cumuruxatiba, distrito de Prado, no sul da Bahia, e também é o primeiro índio Pataxó a se formar em Medicina entre os cerca de quatro mil moradores da aldeia. Além do diploma, ele também leva consigo o sentimento de que é preciso retornar para ajudar.

Amaynara e Vazigton não são os primeiros índios que passaram pela universidade. Entre 2010 e 2013, a Federal de Minas Gerais recebeu 46 alunos de origem indígena, que ingressaram nos cursos de Enfermagem, Medicina, Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Agronomia e Odontologia.

Outras universidades federais também participam do Programa de Vagas Suplementares para Estudantes Indígenas, abrindo novas perspectivas de vida para os integrantes da parcela mais esquecida do povo brasileiro.

Crer para ver

Há 20 anos, a Natura, multinacional brasileira de cosméticos e produtos de higiene e beleza, criou a linha “Crer para Ver”. Desde então, produtos como cadernos, camisetas e canecas, quando vendidos pelas consultoras da marca, revertem parte do seu valor para projetos sociais.

Com base no sucesso dessa iniciativa, a empresa anunciou um programa de benefícios sociais nas áreas de saúde e educação voltado para as Consultoras Natura, uma rede de 1,4 milhão de pessoas no país, e seus familiares.

O acesso à educação poderá ser presencial e online, por meio de bolsas de estudo financiadas com parte dos recursos obtidos justamente com a venda dos produtos da linha Crer para Ver.

Para tanto, a empresa fechou parcerias com a Universidade Estácio, para o ensino superior; a Prepara Cursos, para o ensino profissionalizante; e a plataforma online Geekie Games, para o ensino preparatório para o Enem.

No âmbito da saúde, parceria firmada com o Saútil, um portal de internet e serviços de saúde, oferecerá às consultoras um programa de informações personalizadas de saúde, uma central de atendimento e um aplicativo exclusivos, além de descontos em farmácias conveniadas e em clínicas para consultas e exames.

Esse pacote de benefícios resulta de um estudo inovador, encomendado pela Natura à Consultoria HMetrics. Concebido a partir de uma adaptação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado para medir a qualidade de vida nos países, o IDH-CN (CN de Consultora Natura) avalia o desenvolvimento humano das consultoras em três dimensões: trabalho, saúde e conhecimento.

De posse desse estudo, a empresa pode acompanhar o desenvolvimento das consultoras e de seus familiares, proporcionando-lhes não apenas a geração de renda, mas a possibilidade de crescimento pessoal.

Saúde e educação fazem toda a diferença, seja na aldeia indígena, seja no meio urbano. Em outras palavras, tanto o esforço individual dos índios Pataxós quanto a noção de responsabilidade social que a Natura agora estende às suas consultoras são dois exemplos inspiradores para um ano que se inicia. Que ele nos permita inúmeras possibilidades de desenvolvimento sustentável, responsável e solidário.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.