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Ataques à Faixa de Gaza - Impasse entre Israel e Hamas aumenta tensão no mundo árabe

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

O ano de 2008 termina em meio a uma nova crise no Oriente Médio. Os ataques de Israel à Faixa de Gaza, que já deixaram mais de 360 mortos desde o último dia 27 de dezembro, são considerados a maior operação militar na região em mais de 40 anos. O objetivo do governo israelense é recuperar o prestígio político e militar nos territórios ocupados, enfraquecendo a influência do Hamas, grupo islâmico que controla Gaza.

A nova ofensiva, ironicamente, teve início com acordos de paz intermediados pelo presidente dos Estados Unidos, George Bush, que previa uma solução definitiva para os conflitos armados até janeiro de 2009, quando encerra seu mandato na Casa Branca. E, ao que tudo indica, a investida de Israel "mira" outro armistício, em condições que lhe sejam mais favoráveis.

O cenário foi agravado quando o Hamas derrotou o Fatah - partido do líder Yasser Arafat, morto em 2004 - nas eleições palestinas em 2006. Diferente do rival, o Hamas não reconhece o Estado de Israel e renunciou acordos já firmados do país com a ANP (Autoridade Nacional Palestina).

Desde então, duas situações contribuíram ainda mais para desestabilizar o cessar-fogo de seis meses que terminou em 19 de dezembro:
1) o embargo financeiro imposto por Israel, Estados Unidos e União Europeia aos palestinos, em represália ao Hamas;
2) a "guerra psicológica" às comunidades judaicas localizadas na fronteira com Gaza, alvos de constantes ataques com mísseis de curto alcance do movimento islâmico.

Com a proximidade das eleições para o Parlamento israelense, marcadas para fevereiro, o fim da trégua também tem uma conotação política. Segundo especialistas, Israel quer fortalecer sua posição no Oriente Médio, prejudicada com a derrota em confrontos com a milícia Hizbollah no Líbano, há dois anos.

O problema é que a força excessiva das investidas militares e a ação dissimulada, que não permitiu que civis palestinos se prevenissem dos ataques, causaram uma forte reação internacional contrária a Israel. O governo israelense afirma que pretende destruir a infra-estrutura bélica criada pelos fundamentalistas, porém, as investidas contra as áreas urbanas de Gaza deixam claro que as retaliações serão mais duras daqui por diante.



Centro da discórdia

A Faixa de Gaza é um território estreito de 360 quilômetros quadrados (aproximadamente um quarto da cidade de São Paulo) situado às margens do Mar Mediterrâneo. Com 1,5 milhão de habitantes, é uma das maiores densidades populacionais do planeta.

Diferente do vizinho Israel, gigante econômico e militar com 7 milhões de habitantes, Gaza é uma região muito pobre - a maioria vive com US$ 2 ao dia - e de maioria mulçumana.

No final dos anos 90, Israel transferiu a administração dos territórios palestinos de Gaza e Cisjordânia para a ANP e, em 2005, retirou tropas e colonos judeus da Faixa de Gaza. Contudo, manteve o controle das fronteiras e espaços aéreo e marítimo, alegando questões de segurança e praticamente isolando os refugiados. Isso não impediu o crescimento da liderança dos radicais islâmicos, que barram as iniciativas de diálogo para pôr fim às disputas pela terra.



Antecedentes

A origem dos conflitos entre árabes e judeus no Oriente Médio remonta ao século 19. Na época, sob domínio do Império Otomano, a região recebeu judeus que reivindicavam a criação de um Estado independente.

O argumento de palestinos e israelenses pela posse dos territórios é, basicamente, o mesmo: o direito por ancestralidade histórica, religiosa e cultural à terra sagrada para as três principais religiões monoteístas do mundo, o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo.

No começo do século 20, o Reino Unido assumiu o controle do Oriente Médio e fez concessões para que os judeus tivessem direitos sobre a Palestina. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a ONU (Organizações das Nações Unidas) decidiu pela partilha entre dois estados, um judeu e outro palestino. Foi o que permitiu a criação do Estado de Israel em 1948, rejeitado imediatamente pelos árabes.

Desde então, Israel travou batalhas contra os vizinhos Líbano, Síria, Egito e Jordânia. Um marco decisivo na conquista de espaço foi a Guerra dos Seis Dias, em 1967, que garantiu o domínio de Gaza e Cisjordânia, atualmente área em que os palestinos lutam para criar o Estado independente prometido.



Futuro

Os tanques israelenses posicionados na fronteira com Gaza, a um passo de uma invasão terrestre que prenunciaria um massacre, mantêm o impasse que coloca Israel no centro das atenções do mundo.

Se o governo israelense recuar, o Hamas sairá vitorioso e mais influente junto ao mundo árabe. No caso de impor uma derrota ao grupo palestino, os judeus terão que, na prática, ocupar novamente a área. Além disso, ficarão sujeitos a retaliações de outros povos mulçumanos. Poderá enfrentar, inclusive, uma nova revolta popular (a chamada Intifada).

Outra questão delicada que Israel tem pela frente é a construção de uma bomba atômica pelo Irã, país rival cujo presidente, Mahmoud Ahmadinejad, tem resistido às pressões do Ocidente para abandonar o programa nuclear.

Com relação ao aliado mais importante do Estado judeu, os Estados Unidos, tudo leva a crer que o presidente eleito Barack Obama deva continuar a tradição de apoio irrestrito, mas as estratégias de conciliação no Oriente Médio devem pautar uma nova condução da política externa norte-americana.

Num cenário mais otimista, a guerra termina em breve com um novo tratado de paz, o que interessa a ambos os lados. De qualquer modo, uma coisa é certa: a tranquilidade para milhares de famílias que vivem no meio do fogo-cruzado ainda é um sonho muito distante.

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