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Cristianismo - Os mistérios do Santo Sudário

José Renato Salatiel

Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Durante a Idade Média, filósofos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino tentaram conciliar a herança da filosofia greco-romana com os dogmas da fé cristã. Mais de meio milênio depois, um dos maiores mistérios da Cristandade, o Santo Sudário, reúne em torno de si o mesmo debate entre razão e fé, ciência e religião, que animavam os pensadores medievais.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

O objeto da polêmica é um manto de linho, medindo cerca de 4,5 metros de altura e 1,5 metro de largura. A peça, guardada em cofre na capela real da Catedral de Turim, na Itália, teria envolvido o corpo de Jesus Cristo após a morte na cruz.

A relíquia é a mais importante para os católicos, pois comprovaria a existência e a ressurreição de Jesus, conforme descritas no Novo Testamento. É também um dos mais estudados, polêmicos e misteriosos artefatos da humanidade.

O Santo Sudário exibe a imagem do corpo de um homem nu, de mãos cruzadas e olhos e boca fechadas. O corpo traz marcas de feridas que, segundo especialistas, seriam compatíveis com os flagelos sofridos por Jesus: o açoite com chicote, os pregos nos pulsos e pés, a coroa de espinho e o ferimento de lança no tórax.

Historiadores, teólogos e cientistas das mais diversas áreas – como biologia, química e medicina forense – analisam o sudário há mais de um século. A legitimidade do tecido foi posta à prova por exames de laboratório e técnicas modernas. Para os cientistas, a mortalha não passaria de um item a mais no catálogo de falsas relíquias fabricadas na Idade Média.

No entanto, segundo o mais recente estudo publicado sobre o assunto, O Sinal, do historiador da arte Thomas de Wesselow, nenhuma pesquisa, até agora, foi conclusiva a respeito da autenticidade do pano de linho. A despeito disso, a crença no sudário, para o autor, foi responsável por transformar o Cristianismo na religião mais popular do mundo, com 2,1 bilhões de seguidores.


Fotografia

O Sudário de Turim apareceu pela primeira vez na Europa em 1355, na Baixa Idade Média, período caracterizado por calamidades como a fome e a peste negra, que reduziram a população mundial à metade. Antes dessa data, a história da relíquia é controversa, com escassos registros que comprovariam a sua existência. Em 1578, a peça foi transferida para Turim, onde se encontra até hoje.

Até o século 19, sem recursos tecnológicos que permitissem uma análise mais precisa, não havia como atestar a veracidade do sudário. Céticos acreditavam que se tratava apenas de uma pintura feita sobre o pano.

Em 1898, o Vaticano autorizou um fotógrafo amador, Secondo Pia, a fazer uma foto do manto, por ocasião da uma exposição pública da relíquia católica. Pela primeira vez foi vista a imagem em negativo do rosto que seria de Cristo, descartando a hipótese de que se tratava apenas de uma pintura e dando início a uma era de pesquisas sobre o sudário – chamada sindonologia.

Nos anos 1970 foram feitos os primeiros testes com amostras retiradas do pano e criado o Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim (Sturp, na sigla em inglês). Durante as comemorações de 400 anos da chegada do sudário em Turim, em 1978, o objeto foi exposto à visitação pública e, nos cinco dias seguintes ao término do evento, o tecido pôde ser examinado pelos cientistas.

Integrantes do Sturp concluíram que a imagem é de um corpo real – não uma pintura – e que as manchas são de sangue humano tipo AB. Além disso, o tipo de tecido (comum na época de Jesus) e traços de espécies de pólen oriundas de Jerusalém compõem um conjunto de indícios que apontava a autenticidade do sudário, aumentando assim o mistério em torno dele.


Fraude

Em 1988, porém, surgiu aquela que parecia ser a prova definitiva de que se tratava de uma fraude. Nesse ano, o papa João Paulo 2º autorizou a retirada de retalhos para novos exames, realizados por cientistas das universidades de Oxford (Inglaterra), Arizona (Estados Unidos) e Zurique (Suíça).

Os pesquisadores submeteram os pedaços ao teste do carbono 14, o mesmo usado em arqueologia para saber a idade de fósseis. O resultado apontou que o sudário teria sido confeccionado entre 1260 e 1390, na Idade Média. Sendo assim, não poderia ser a mortalha de Jesus, pois não teria mais do que 600 anos.

Desde então, publicaram-se artigos refutando a metodologia empregada no teste e a qualidade das amostras. Entre as controvérsias, apontou-se que a contaminação por bactérias teria comprometido a datação por carbono 14. Outra hipótese, surgida há 12 anos, atesta que os pedaços de linho examinados seriam, na verdade, remendos feitos na restauração do sudário por freiras, após um incêndio, na Idade Média.

O Vaticano, durante todos esses anos, não discutiu ou sequer se posicionou sobre a autenticidade do manto sagrado. Em 1958, o Papa Pio XII autorizou a devoção católica do manto, que foi exposto pela última vez em 2010, com um público de 2,5 milhões de visitantes em 44 dias.

Para a Igreja Católica, trata-se apenas de uma recordação, pouco importando se o artefato pode ou não comprovar a realidade histórica de Jesus. Os fatos, em resumo, interessam apenas à ciência e não dizem respeito à fé cristã. Como dizia São Tomás de Aquino, “existem a respeito de Deus verdades que ultrapassam totalmente as capacidades da razão humana”, ou, parafraseando o filósofo, ficções que resistem ao escrutínio da ciência.

Direto ao ponto

O Santo Sudário é um dos artefatos humanos mais estudados e polêmicos de toda a história. A peça, guardada na Catedral de Turim, na Itália, desde o século 16, teria sido usada para envolver o corpo de Jesus Cristo após a morte na cruz. Para os católicos, ela atestaria a ressurreição, conforme descrita no Novo Testamento. Mas cientistas acreditam que se trata de uma fraude criada na Idade Média.

 

Em favor dos crentes, nos anos 1970 foram feitos exames comprovando que a imagem exibida do tecido é de um homem crucificado, que as manchas de sangue são reais e que há registros de resíduos compatíveis com o período e a região em que Jesus viveu.

 

A maior prova que contesta a autenticidade da relíquia é um exame de datação por carbono 14, feito com base em amostras e divulgado em 1988. A análise indicou que o pano foi confeccionado entre 1260 e 1390, na Idade Média. Esse teste, no entanto, também foi contestado.

 

 

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