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Era Bush - Dos atentados terroristas a uma enorme crise financeira

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

As eleições norte-americanas de 2008 marcam o fim da "Era Bush" (2001-2009), que começou com o maior ataque terrorista cometido em solo americano e termina com uma crise financeira histórica, comparável, para alguns, com o crack da bolsa de 1929.

Neste período conturbado, nenhum dos presidentes dos Estados Unidos foi tão odiado ou tão polêmico quanto o presidente George W. Bush, cuja política conservadora agrada uma parte expressiva do eleitorado do país, mas é vista com desagrado por seus opositores.

As intervenções militares no Oriente Médio, por exemplo, que assumiram em sua gestão um caráter religioso, e a arrogância na condução da política externa, lhe renderam o apelido de "xerife" do mundo ocidental.

Em vida, nenhum outro governante da maior potência econômica e militar do planeta teve a administração retratada em tantos filmes - como o recente "W" de Oliver Stone - e livros. A maior parte das obras, com críticas negativas aos seus dois mandatos.

Mas que fatos e que agenda política fizeram de George Bush um presidente tão polêmico, dentro e fora dos EUA?



11 de Setembro

Bush tomou posse em janeiro de 2001, sucedendo o democrata Bill Clinton, depois de uma vitória apertada contra Al Gore e em meio a denúncias de fraudes nas urnas, no Estado da Flórida.

Filho do ex-presidente George H. W. Bush e herdeiro de uma dinastia de políticos e empresários ligados à indústria petrolífera, Bush, até iniciar a vida política, possuía uma biografia medíocre, marcada pela dependência de álcool superada por uma conversão religiosa.

Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, que vitimaram mais de 3 mil pessoas, a maior parte após a colisão de dois aviões com as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, mudou sua história e a dos EUA.

Imediatamente após os atentados, o presidente elegeu os terroristas como inimigos oficiais do mundo livre, manipulando um clima de medo comparável ao da Guerra Fria e o perigo "vermelho" representado pelos comunistas, durante o período do marcartismo.

Para ele, a cruzada contra os terroristas islâmicos tornou-se uma espécie de "guerra santa" que justificaria uma política intervencionista, com campanhas militares dispendiosas em dólares e vidas humanas, além de acusações de violações dos direitos humanos e liberdades civis.

As investigações da polícia federal e do serviço secreto norte-americanos responsabilizaram a rede terrorista Al Qaeda, de Osama Bin Laden - cuja base de operações se localizava no Afeganistão - pelos atentados. Na ofensiva, tropas americanas tomaram a capital Cabul e derrubaram o governo dos talibãs, mas até hoje o Afeganistão é uma zona de conflitos. Bin Laden continua foragido, apesar das promessas de captura pelo governo Bush.



Guerra no Iraque

Com propósitos mais duvidosos, em 2003 os EUA invadiram o Iraque, apoiados pelo Reino Unido, sob a alegação de que a ditadura de Saddam Hussein produzia armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas.

Na época da guerra, Bush estava com a popularidade em alta, inclusive com apoio da maior parte da imprensa dos EUA, o que favoreceu a ofensiva contra o país. Porém, os planos de uma guerra rápida não se concretizaram. A transição de poder e as resistências locais prolongaram a investida e tornaram o Iraque uma espécie de novo Vietnã, a traumática guerra que durou de 1958 a 1975.

Passados cinco anos, a Guerra do Iraque teve um custo de milhares de vidas, civis e militares, e bilhões de dólares, além de gerar um impasse quanto à estratégia de retirada das tropas, assunto que divide os partidos democrata e republicano na atual sucessão presidencial.



Prisão de Guantánamo

Bush foi reeleito em 2004 com 51% dos votos e uma imagem que, aos poucos, se tornaria mais desgastada diante a opinião pública em seu segundo mandato.

Contribuíram para isso fatos como a demora na ajuda a meio milhão de desabrigados na passagem do furacão Katrina por Nova Orleans, em agosto de 2005, a recusa na assinatura do Protocolo de Kyoto para redução de gases poluentes e acusações de tortura e violações de direitos humanos.

Neste sentido, o maior símbolo dos excessos da campanha antiterrorista de Bush, para seus críticos, é a prisão de Guantánamo na base militar norte-americana em Cuba, que abriga prisioneiros, a maioria de origem árabe, acusados de ligações com grupos extremistas.

A manutenção de prisioneiros sem julgamento e as acusações de maus tratos mobilizaram entidades internacionais de direitos humanos. A recente determinação de soltura de um grupo, este ano, marca os primeiros passos para a interdição completa da prisão.



Legado

A recente crise que atingiu o mercado financeiro internacional fecha de maneira dramática a Era Bush e pode ser decisiva nas eleições de novembro, favorecendo o candidato democrata Barack Obama, que pode se tornar o primeiro presidente negro dos EUA.

Apesar da popularidade em baixa, Bush ainda tem um forte apelo entre parte da população classe média, branca, cristã e conservadora dos EUA, a quem sempre agradou com sua política beligerante e oposições a leis em favor do aborto e do casamento gay.

O que prevalecerá de seu legado, se o pior presidente da história norte-americana ou um homem que teve pulso firme em tempos difíceis, será avaliado nas urnas em novembro e, no futuro, pela História.

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