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Biologia

Anfíbios - Primeiros vertebrados a habitar o meio terrestre

Alice Dantas Brites

Os anfíbios são vertebrados tetrápodes (de quatro pés) que pertencem à classe Amphibia. O nome vem do grego Amphibios (amphi, duas, e bios, vida), uma referência à presença de duas fases na vida desses animais: uma fase larval aquática e a fase adulta, que pode ser terrestre.

Já foram descritas mais de 6.000 espécies de anfíbios, que são divididas em três ordens: Gymnophiona, que são as cobras-cegas ou cecílias; Urodela, composta pelas salamandras; e Anura, que inclui os sapos, as rãs e as pererecas. Esses animais podem viver em ambientes aquáticos ou terrestres e são mais abundantes nas regiões tropicais.

Características gerais

Os anfíbios adultos apresentam uma epiderme muito fina, sem escamas, rica em vasos sanguíneos e com glândulas mucosas que mantêm a pele sempre lubrificada. Essas características permitem a realização da respiração cutânea, ou seja, a troca de gases realizada através da superfície da pele.

A maioria dos anfíbios possui glândulas produtoras de secreções venenosas na epiderme. O veneno é liberado quando o animal é ameaçado por algum predador, representando uma forma de defesa contra a predação.

Os anfíbios são animais ectotérmicos (do grego, ektos, fora; e thermos, quente), ou seja, que dependem de uma fonte de calor externa para manter a temperatura de seus corpos. A respiração dos anfíbios pode ser branquial, cutânea ou pulmonar. Também pode ocorrer a combinação de mais de um tipo de respiração em um mesmo espécime.

Transição para o meio terrestre

Os anfíbios foram os primeiros vertebrados a habitar o meio terrestre. Eles evoluíram há cerca de 300 milhões de anos e, em termos evolutivos, situam-se entre os peixes e os répteis.

Uma série de mudanças estruturais e fisiológicas no organismo dos anfíbios permitiu que eles realizassem a transição do meio aquático para o meio terrestre. Entre elas, podemos citar o desenvolvimento e a adaptação dos pulmões - para respirar o ar -, adaptações na epiderme - para permitir a exposição ao ar -, e o desenvolvimento da coluna vertebral e da musculatura - para permitir a sustentação do corpo fora do ambiente aquático.

Porém, a conquista do meio terrestre não foi definitiva. Isso porque os anfíbios, mesmo os que habitam ambientes terrestres, dependem do meio aquático ao menos para sua reprodução. Seus ovos não apresentam uma casca protetora nem anexos embrionários (estruturas relacionadas à adaptação ao meio terrestre), por isso precisam ser mantidos constantemente úmidos. As formas jovens se desenvolvem na água e dela dependem para a respiração branquial (feita por meio das guelras ou brânquias).

Classificação

Como dissemos acima, os anfíbios são divididos em três ordens: Gymnophiona, Urodela e Anura. Os Gymnophiona ou Apoda são representados por cerca de 160 espécies, popularmente chamadas de cobras-cegas ou cecílias. São animais ápodes, ou seja, não possuem membros locomotores e o corpo é cilíndrico e alongado. A maioria das espécies é terrestre e vive enterrada no solo. Os olhos são vestigiais (ou seja, são atrofiados), mas existem tentáculos sensoriais que auxiliam na percepção do ambiente. Os machos possuem um órgão copulador chamado falodeu, que permite a fecundação interna.

Os Urodela, também chamados de Caudata, são representados por cerca de 400 espécies de salamandras. O corpo destes animais é alongado e a cauda é bem desenvolvida. São mais abundantes em regiões de climas frios. Os machos não possuem órgão copulador e a fecundação pode ser externa ou interna. Na fecundação interna, a fêmea captura a massa de espermatozóides liberada pelo macho e a deposita no interior da sua cloaca. Muitas espécies de salamandras não possuem pulmões e apresentam apenas respiração cutânea.

Os Anura são representados por cerca de 4.500 espécies, que incluem os sapos, as rãs e as pererecas. A fauna brasileira é muito rica em anuros, contando com cerca de 600 espécies já descritas. Os anuros não possuem cauda e seus membros posteriores são adaptados para o salto. A fecundação pode ser interna ou externa - e o desenvolvimento é indireto.

Reprodução

Os modos de reprodução dos anfíbios são muito diversos, variando de acordo com a espécie. A fecundação pode ser externa ou interna - e o desenvolvimento pode ser direto ou indireto.

Os anuros possuem desenvolvimento indireto e passam pela metamorfose completa. Sua fase larval é representada pelo girino e são conhecidas 46 fases de desenvolvimento desde a fecundação do óvulo até a transformação da larva em adulto.

Os girinos vivem em ambientes aquáticos, onde respiram através de brânquias e se alimentam de pequenas partículas orgânicas. Eles não possuem pernas, mas apresentam uma cauda alongada. Durante a metamorfose, a cauda vai gradualmente desaparecendo e o as pernas vão se desenvolvendo.

Outro processo que ocorre durante a metamorfose é o desenvolvimento dos pulmões. O final do desenvolvimento origina a forma jovem, que passa a realizar respiração cutânea e pulmonar e apresenta as mesmas características morfológicas dos anuros adultos.

Os anfíbios e o homem

O número de anfíbios vem diminuindo em várias regiões do mundo. Acredita-se que esses animais sejam muito sensíveis a mudanças no meio ambiente, como alterações climáticas, desflorestamento, uso de pesticidas em lavouras, poluição de rios e lagos, entre outras.

Para algumas populações os anfíbios são associados a lendas e tradições folclóricas, porém, para muitas pessoas os anfíbios são animais que causam repulsa e aversão. No entanto, essa visão vem mudando. Essa mudança se dá principalmente frente às descobertas (a) sobre a importância ecológica desses animais e (b) sobre o uso potencial das substâncias secretadas por suas glândulas no desenvolvimento de novos remédios.

Cada vez mais, percebe-se a necessidade de esforços voltados para a conservação desses animais e seus habitats, a fim de preservar a diversidade de anfíbios.

 

Saiba mais


  • Pough, F.H.; Heiser, J.B. & MacFarland, W.N. 1993. A vida dos vertebrados. Atheneu editora, São Paulo.
  • Duellman, W.E. & Trueb, L. 1985. Biology of amphibians. Mc Graw-Hill, New York.
  • Hildebrand, M. 1995. Análise da estrutura dos vertebrados. Atheneu editora, São Paulo.

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