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Antártida - Aspectos do continente gelado

Mariana Aprile

Imagine 14 milhões de quilômetros quadrados permanentemente cobertos de gelo, como um gigantesco deserto branco e muito frio. Essa é a paisagem antártica. O continente antártico rodeia o Pólo Sul e é o único lugar da Terra sem história, mitos ou lendas, pois jamais existiu população humana nativa lá.

Apenas no ano de 1818 o capitão inglês William Smith chegou à Antártida como primeiro representante da humanidade. Atualmente, a população do continente é formada por pesquisadores de todas as partes do mundo, inclusive do Brasil, e também por turistas. É possível fazer breves passeios na região, que não é das mais hospitaleiras, enquanto os cientistas alojam-se em suas bases de pesquisa e lá permanecem por anos, enfrentando muitas vezes condições extremas.

Características da Antártida

Se você procura por algum lugar na Terra muito bonito, quase intocado pelo ser humano, alto, gelado, isolado, deserto e varrido por ventos intensos, o seu destino só pode ser a Antártida. Lá, a velocidade dos ventos pode chegar a 320 quilômetros por hora (dado registrado pela estação francesa Dumon't d'Urville em 1972) e a temperatura 70°C abaixo de zero.

A precipitação pluviométrica anual, porém, é comparável à dos desertos mais secos do planeta (20 milímetro por ano no platô antártico, localizado no interior do continente). O oceano antártico também é famoso por sua hostilidade e violência. Todos esses superlativos meramente confirmam o poder da natureza, no seu lado mais primitivo e selvagem.

Para se ter uma idéia, a pele exposta ao ar da Antártida pode congelar em segundos. Se você jogar água fervente para o alto, ela também congelará imediatamente e irá se partir em cristais de gelo bem pequenos emitindo o som de sininhos - essa é uma "brincadeira" que os pesquisadores e turistas costumam fazer por lá.

Icebergs

A beleza das paisagens descrita pelos cientistas que vivem na Antártida, bem como por turistas, parece coisa de outro mundo.

Os icebergs adquirem inúmeras formas, pois são esculpidos por um mar revolto e pelo vento forte. Também apresentam cores variadas. Isso mesmo! São coloridos, exibindo vários tons de azul, verde, cinza, e até rosa - de acordo com a incidência da luz solar no gigante branco.

Quando a fúria da natureza antártica dá uma trégua e o mar se acalma, formam-se espelhos de água tão perfeitos que se alguém virar uma foto de ponta-cabeça, quase não vai notar a diferença entre o objeto fotografado e seu reflexo.

Curiosidades sobre a Antártida

Muitos cientistas, como o Dr. De Porter (membro do Conselho da Coalizão Antártica e Oceano Sul, a ASOC), concordam que o continente antártico mais parece outro planeta, pois, além da paisagem infinitamente branca e desértica, ali ocorrem fenômenos muito peculiares.

Um dos mais curiosos é o "whiteouts" ou ausência de sombra. Isso faz desaparecer a noção de profundidade (se algo está longe ou perto). O ar puro reage com os raios solares e provoca miragens dos mais variados tipos - uma das mais bonitas é uma auréola em volta do Sol.

Há momentos em que se pode observar um espetáculo de cores no céu, como se ele estivesse em chamas - a aurora austral. As cores características desse fenômeno são o verde, quando ele acontece nas camadas mais superiores da atmosfera, e o vermelho, se for em altitudes menores. Isso ocorre porque o Sol emite raios de partículas eletricamente carregadas (vento solar) em todas as direções.

Elas são captadas pelo magnetismo da Terra (mais forte nos pólos). Então, formam-se correntes elétricas que colidem com os átomos de oxigênio e nitrogênio do ar atmosférico - isso é um processo muito semelhante à ionização dos gases que acende as luzes fluorescentes, mas nesse caso o gás ionizado é o flúor. Esse fenômeno também acontece no Pólo Norte, mas lá ele á conhecido como aurora boreal.

Na Antártida não chove, nem tampouco neva. Em vez disso, muitas vezes o vento forte arranca pequenos pedaços de gelo do chão e os carrega consigo através da superfície - isso atrapalha bastante a visão humana, pois objetos muito próximos (com distância inferior a um metro) ficam invisíveis na nuvem branca que se forma.

Clima da Antártida

Na Antártida, não é o relógio e o calendário que determinam os compromissos, mas sim as condições do clima. O rigoroso inverno não permite que os pesquisadores saiam dos abrigos, pois lá fora encontrariam a morte por hipotermia (fenômeno que ocorre quando a temperatura do corpo fica muito baixa). Os seres humanos não são equipados biologicamente para viver no frio antártico.

Um indivíduo nu, sobreviveria por menos de vinte minutos, a zero grau: imagine então a -70°C, temperatura de inverno na Antártida, o que aconteceria. Como lá o frio é intenso, a maior parte da energia dos alimentos é utilizada para a produção de calor corpóreo. Isso quer dizer que, quanto menor for a temperatura externa, maior quantidade de alimento o organismo humano precisa para sobreviver.

Fauna e flora

São poucos os organismos que resistem à fúria do clima antártico. As plantas consistem em algumas algas e líquens e duas espécies de angiospermas. Quanto à fauna permanente, é formada apenas de invertebrados. Os mamíferos e aves não são bobos e fogem do rigoroso inverno antártico - nem eles agüentam tanto frio!

O que acontece é que esses animais vão à Antártida apenas no verão e depois vão embora para lugares mais quentes. As baleias, por exemplo, visitam a Antártida para se alimentar e depois vão para águas mais quentes, nos trópicos, para procriar. Esses animais, que apenas visitam o continente durante o verão, são denominados fauna migratória antártica.

As baleias corcundas (Megaptera novaeangliae), o cachalote (Phyester macrocephalus), a Sei (Balaeonoptera borealis), a baleia Fin (Balaeonoptera physalus), o Minke (Balaeonoptera acutorostrata), e a baleia Azul (Balaeonoptera musculus) são freqüentadoras assíduas do oceano antártico.

Muitas espécies de focas também são visitantes regulares da região Antártida. Lobos marinhos, elefantes marinhos, focas leopardo e focas Weddell. Entre os habitantes mais conhecidos da Antártida e de regiões próximas, como a Patagônia e a África do Sul, encontram-se os pingüins. O magnífico pingüim imperador (Aptenodytes fosteri), o maior de todos, tem 42 locais de reprodução espalhados pela Antártida.

Também se encontram ali o pingüim rei (Aptenodytes patagonicus), o pingüim de Adelle (Pygoscelis adeliae), e o pingüim real (Eudyptes scleegeli). Muitas espécies de albatroz, da mesma forma, são visitantes regulares da costa antártica.

Questões ambientais

Mesmo de vindos de longe, a Antártida já se ressente dos impactos ambientais causados pelo ser humano. Resquícios de partículas atômicas já foram encontradas no gelo, devido a testes nucleares realizados em outras partes do mundo. Freqüentemente se detectam substâncias químicas, como pesticidas por exemplo, na pele de focas e aves - que, como são animais migradores, carregam os venenos criados pelos homens para onde forem.

A Antártida é também a região mais afetada pelo buraco na camada de ozônio da atmosfera. O buraco fica bem em cima dela e tem cerca de 7 milhões de quilômetros quadrados. Na Antártida, no mês de setembro, quase a metade do ozônio é sugado da atmosfera. Como já se sabe, o ozônio é um escudo protetor contra os raios ultravioletas do Sol. Isso quer dizer que a Antártida fica completamente desprotegida da ação desses raios.

Segundo Maria Lúcia Arruda de Moura Campos, doutora em oceanografia química, não há ausência de ozônio no buraco, mas apenas uma parte da camada fica mais fina. Acontece que no inverno, há acúmulo de cloro, na forma de Cl2. Esse acúmulo se deve aos vários anos de uso do gás clorofluorcarboneto (CFC). Mesmo com a diminuição do uso desse produto, os átomos de cloro ainda perduram, pois têm um período de vida muito longo.

Vórtex polar

Então, quando chega a primavera antártica, com a chegada da luz solar, os átomos se desprendem formando cloro na forma atômica, o Cl, que é uma espécie de ladrão de ozônio. Por isso a espessura da camada diminui muito durante a primavera.

Outra característica única da Antártida que contribui para o buraco é que, por ser uma região extremamente fria, apenas lá ocorre a formação de um vórtex polar (uma espécie de furacão invisível, do solo antártico para a atmosfera). Isso forma nuvens estratosféricas polares - nuvens cheias de cristais de gelo.

Essas nuvens são as bases das reações químicas que transformam o cloro num agente catalizador de oxigênio, e destrói a molécula de ozônio (que tem três átomos de oxigênio. O cloro rouba dois, e desestrutura a molécula).

 

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