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Raízes negras - Cultura dos escravos contribuiu para a formação do Brasil

Da página 3 Pedagogia & Comunicação

A partir de meados de 1500, aconteceu uma crise de mão-de-obra nas recém instaladas lavouras de cana-de-açúcar do Nordeste do Brasil. Os índios, que foram escravizados para trabalhar nos engenhos, ou eram dizimados por epidemias, ou fugiam ou resistiam à escravidão. Desse modo, os senhores de engenho se viram obrigados a importar o que chamavam de "peças da Guiné", os seja, os escravos das colônias portuguesas no território africano.

Sequestrados na África, cerca de 4 milhões de pessoas aqui aportaram ao longo de 300 anos, até que o tráfico internacional fosse extinto em 1850. Estima-se que outros 4 milhões teriam morrido na travessia do Atlântico, nos porões dos navios negreiros ou assassinados pelos traficantes.



Origens do tráfico de escravos

Quando as primeiras caravelas portuguesas chegaram ao território africano, ainda no século 15, viram que os reis daquelas terras tinham escravos, uma forma de trabalho que fora extinta na Europa medieval. Os escravos africanos, em geral, eram inimigos aprisionados nos conflitos tribais. Vislumbrando a possibilidade de obter mão-de-obra barata para Portugal, onde faltavam braços na lavoura, os navegantes ofereceram ferramentas e armas aos reis e chefes tribais em troca de escravos.

Os principais portos de embarque eram dos negros escravizados para Portugal e Brasil estavam nos territórios que hoje são os seguintes países: Senegal, Benin, Nigéria, São Tomé e Príncipe, Guiné, Angola e Moçambique.

Em 1482, Portugal iniciou a construção da fortaleza de São Jorge de Mina, na costa do golfo da Guiné. Outras tantas seriam construídas em diversos pontos do litoral africano. Essas imensas construções eram centrais de negócios entre países. Com o passar dos séculos, havia fortalezas portuguesas, francesas e inglesas ao longo de toda costa da África.

Navios chegavam com pinga, fumo de corda e búzios do Brasil. E voltavam abalroados com escravos. A política portuguesas de controle na região das fortalezas era a mesma das colônias brasileiras: a violência pura e simples.



Chegando ao Brasil

Assim que desembarcavam no Brasil, os negros sobreviventes da travessia eram batizados e recebiam nomes católicos. Passavam a trabalhar sem descanso e, com sorte, viviam até 10 anos após sua chegada. Tanto o trabalho nos engenhos de açúcar, quanto nas minas de ouro, era muito pesado. A sorte só era um pouco melhor para os homens ou mulheres escolhidos para o trabalho doméstico.

Os feitores cuidavam que não se descuidassem do trabalho e também se encarregavam de aplicar os castigos. À medida que os negros foram se integrando ao novo país, a fuga tornou-se uma possibilidade de vida livre. Nos sertões nordestino, no início do século 17, surgiram os primeiros quilombos - acampamentos onde os negros se refugiavam. O maior deles foi o Quilombo dos Palmares, ao sul da capitania de Pernambuco, atual Alagoas, na Serra da Barriga.

Estima-se que, por volta de 1670, 20 mil pessoas viviam ali. Inicialmente liderados por Ganga-Zumba, logo conheceram a força de Zumbi, guerreiro que militarizou o quilombo e enfrentou o governo senhorial. Contudo, em 1694, Palmares foi destruído e quase dois anos depois Zumbi morria, traído por um companheiro.



Dia-a-dia

Em princípio, nenhum tipo de posse era permitida aos escravos. Só lhes restavam as lembranças e a memória, exercitada por meio de festividades, cantos que marcavam o ritmo do trabalho e um culto disfarçado aos seus deuses originais. As deidades africanas passaram a ser identificadas com os santos católicos, num fenômeno conhecido como sincretismo religioso. Assim surgiram o xangô, em Pernambuco, o candomblé, na Bahia, a umbanda, no Rio de Janeiro e no sudeste do país.

Além da religião, porém, outros elementos culturais dos negros - em especial a música e a dança - foram ganhando terreno na evolução cultural do Brasil. O mesmo se pode dizer a respeito da culinária e até da linguagem, pois são muitas as palavras do português que usamos cuja origem é africana. Desse modo, os negros exerceram uma profunda influência na civilização brasileira.

Convém lembrar que os senhores brancos portugueses, e também os brasileiros, frequentemente não resistiam aos encantos das mulheres negras, de quem se tornavam amantes. Desse modo, a mestiçagem tornou-se uma característica marcante de nosso povo.



A abolição e o depois

A escravatura foi abolida legalmente no Brasil em 13 de maio de 1888. Entretanto, não houve a mínima preocupação em se integrarem os antigos escravos à sociedade brasileira. Ao contrário, como a imigração de trabalhadores europeus aconteceu quase que simultaneamente ao fim da escravidão, os negros tornaram-se marginalizados e se viram, em geral, na mesma situação de miséria anterior à sua libertação.

O preconceito racial e a desigualdade econômica com fundo racial ainda são uma realidade no Brasil. A situação tem melhorado com o passar dos anos, mas ainda num ritmo muito lento. São muitos e grandes os problemas que os negros enfrentam no Brasil de hoje e eles ainda estão longe de encontrar uma solução.