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Índia - Contrastes da grande economia emergente

Cláudio Mendonça

As duas estrelas do crescimento econômico mundial da última década brilham no continente asiático: a China e a Índia. São dois gigantes territoriais e populacionais. A China é o terceiro país do mundo em extensão territorial e o primeiro em população. A Índia é o sétimo em extensão e o segundo em população.

Outra semelhança é que os dois países adaptaram as suas economias de forma particular às novas características da economia mundial globalizada e não seguiram fielmente os princípios do neoliberalismo.

Mas entre essas civilizações existem mais diferenças do que semelhanças. São diferenças históricas, religiosas e culturais milenares. Do ponto de vista político a Índia, diferentemente da China, é uma democracia. A maior democracia do mundo

 

  • Estados e territórios da República da Índia

 

O modelo indiano de crescimento

Foi a partir de 1991 que a Índia promoveu alterações significativas em seu modelo de crescimento econômico, na mesma época em que o Brasil deu os primeiros passos para inserir-se na economia globalizada.

O governo indiano realizou amplas reformas econômicas e abriu o país à entrada de grandes investimentos diretos estrangeiros (IDE) associados à indústria nacional e estatal. Nos setores estratégicos relacionados à indústria de base, à extração mineral, à geração de energia, ao refino de petróleo e mesmo à indústria automobilística (Maruti e Tata), garantiu a presença do Estado como acionista majoritário.

Mais ainda, a indústria bélica e de extração de petróleo são monopólios estatais. No entanto, existe uma série de problemas em relação a estes setores tradicionais da indústria indiana. Muitos trabalham no limite, com equipamentos obsoletos e necessitam de maiores investimentos para se tornarem mais eficientes.

Última década

Mas não foi nestes setores mais tradicionais que a Índia conquistou destaque na economia mundial, na última década. Ao sul do território, na cidade de Bangalore, foi formado um grande tecnopólo ligado à produção de software.

Nele estão instalados importantes universidades e centros de pesquisa: o centro de estudos tecnológicos, a Universidade de Bangalore, a Organização de Pesquisa Espacial Indiana, o Instituto Indiano de Administração, o Instituto Indiano de Ciências, o Instituto de Pesquisas Raman, o Instituto Nacional de Estudos Avançados, o centro Jawaharial Nehru para a Pesquisa Científica Avançada, entre outros.

Não é pouca coisa para uma única cidade. Bangalore é uma espécie de Vale do Silício indiano e conta com profissionais de alta qualificação em grande quantidade, trabalhando por salários bem inferiores que os de profissionais de outros grandes tecnopólos espalhados pelo mundo.

Outro setor de destaque na Índia são os call centers (centrais telefônicas que prestam serviços de atendimento à clientes, telemarketing, suporte técnico para grandes empresas multinacionais), a serviço principalmente de grandes empresas norte-americanas.

A terceirização destes serviços empresariais feitas à longa distância tornou-se possível não só devido às novas tecnologias de comunicação, mas também, devido ao fato de que uma parcela significativa da população domina o idioma inglês, herança do domínio colonial britânico.

Mazelas sociais

A Índia tem 1,1 bilhão de habitantes e cresce em torno de 1,6% ao ano. Mais de 17 milhões de pessoas anualmente são incorporadas ao país. As projeções de crescimento demográfico indicam que, em três décadas, haverá mais indianos no mundo do que chineses.

Apesar da grande população e o seu grande potencial de mercado terem, também, sido fatores de atração de volumosos investimentos estrangeiros, a maioria da população está à margem das grandes conquistas econômicas que surpreenderam o mundo na última década.

Os contrastes sociais na Índia são gritantes. O crescimento das grandes metrópoles como Nova Délhi, Mumbai, Calcutá, Madras fez com que se ampliassem o número de favelas e de sem tetos que perambulam e dormem pelas ruas das grandes cidades.

Outra questão social grave pode ser verificada pela diminuição do número de mulheres no conjunto da população indiana. No último censo (2001) foi registrada a proporção de 927 mulheres para cada grupo de 1.000 homens. De fato existe uma preferência pelo filho homem. As mulheres são vistas como encargo econômico, principalmente no momento que estão em idade de se casar.

A família da noiva, segundo a tradição, é obrigada a pagar dote que pode representar parte do patrimônio acumulado durante anos de trabalho ou a realizar pagamentos regulares ao marido ou à sua família.

Assim, são várias as denuncias de infanticídio feminino logo após o parto, praticado pela própria família, ou torturas cometidas pelo marido ou membros de sua família como ameaça à não contribuição regular dos parentes da esposa. Essa tradição criminosa, embora passível de condenação legal - desde 1961 é proibida a exigência do dote -, ocorre por todo o território e nas diferentes castas.

O sistema de castas

A segregação da população indiana é social e religiosa. Ocorre no nascimento, no matrimônio e na vida profissional. Ela se baseia no sistema de castas. Apesar da extinção legal deste sistema em 1947, com a Independência, elas permanecem embutidas nos valores e no cotidiano da sociedade indiana. Na sua estrutura básica o sistema é formado originalmente por quatro castas.

As mais poderosas são os brâmanes (sacerdotes e nobres), os xátrias (guerreiros) que controlam as principais empresas, a mídia e o poder político. Em seguida vêm os vaixás (comerciantes) e os sudras (trabalhadores braçais). Cada casta tem suas próprias normas e vive rigorosamente separada em relação às outras. O casamento só pode ocorrer no interior da mesma casta, assim como simples atividades como compartilhar da refeição numa mesma mesa.

Abaixo destas castas principais estão os dalits (considerados párias, impuros ou intocáveis) que exercem os piores trabalhos e são tratados de forma subumana. Eles têm menor acesso à educação, não fazem parte do sistema de amparo social e não podem freqüentar os templos religiosos.

Recentemente os dalits têm reagido a este sistema de discriminação. Da mesma forma a comunidade internacional e associações de direitos humanos começaram a questionar se o sistema de casta é uma tradição milenar e religiosa, ou uma forma de racismo e instrumento de manutenção dos privilégios das castas superiores.

No âmbito religioso, existe uma tensão entre as comunidades hindus e muçulmanas - os principais grupos religiosos do país. Originária de cerca de cinco séculos atrás, quando invasores árabes se espalharam pela Índia, a divisão religiosa também foi responsável pela separação de partes do país que se tornaram Estados independentes: Paquistão e Bangladesh.

 

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