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História geral

As aventuras de Tintim - Herói não tem poderes sobre-humanos, apenas coragem e da astúcia

Túlio Vilela

No mundo dos quadrinhos, a maioria das criações conhecidas pelo público é de procedência norte-americana e japonesa. Apesar disso, a Europa continental possui uma respeitável tradição na arte dos quadrinhos. Essa tradição é especialmente forte na França e na Bélgica. Um dos mais conhecidos heróis dos quadrinhos europeus é Tintim, o intrépido repórter criado pela imaginação do desenhista belga Hergé (1907-1983).

Dentre os quadrinhos europeus, Tintim só perde em popularidade para Asterix, criação dos franceses Albert Uderzo e René Goscinny (1926-1977). E a popularidade que Tintim possui é impressionante se considerarmos que nenhum novo álbum trazendo uma aventura completa e inédita de Tintim foi lançado após a morte de Hergé.

No início de 2012, estreou nos cinemas As aventuras de Tintim, uma adaptação dirigida pelo cineasta norte-americano Steven Spielberg e produzida pelo neozelandês Peter Jackson. O filme foi um sucesso de bilheteria mundial e, no Brasil, também não fez feio, chegando a ocupar o topo das bilheterias em sua estreia.

Os coadjuvantes

Diferentemente dos super-heróis norte-americanos, Tintim não possui poderes sobre-humanos e conta apenas com sua coragem e astúcia para enfrentar os mais diversos perigos. O herói quase sempre está acompanhado do seu cãozinho Milu. Nas primeiras aventuras, as únicas personagens regulares eram Tintim e Milu, mas depois surgiram coadjuvantes que se tornaram regulares.

Entre eles, o capitão Haddock, um marinheiro beberrão e ranzinza; a dupla de detetives Dupont e Dupond, idênticos na aparência e no jeito atrapalhado; o professor Girassol, cientista brilhante, mas com péssima audição, inspirado no cientista suíço Auguste Piccard (1884-1962); e o vilão Rastapopoulos, um bilionário. Raras são as personagens femininas no universo de Tintim. Uma exceção é Bianca Castafiore, uma cantora de ópera cuja voz era capaz de quebrar copos.

Fortemente influenciado pelos romances de aventura do escritor francês Júlio Verne (1828-1905), Hergé ambientou as aventuras de Tintim em quase todos os continentes, nos mais diversos tipos de cenário: cidades, desertos, selvas, montanhas e mares. Tintim viajou até para a Lua, numa aventura publicada dezesseis anos antes de o astronauta norte-americano tornar-se o primeiro homem a pisar na superfície lunar.

Nasce Tintim

Hergé, cujo nome verdadeiro era Georges Remi, nasceu em Etterbeek, cidade próxima da capital belga, Bruxelas. Sua família era de classe média e muito católica. Estudou numa escola também católica e foi escoteiro. Tanto o catolicismo quanto o escotismo exerceram forte influência sobre Hergé. O interesse pelo desenho surgiu ainda na infância. Em 1924, adota pela primeira vez o pseudônimo Hergé, quando começa a publicar seus desenhos numa revista sobre escotismo, Le Boy Scout Belge.

Nessa mesma revista começa a publicar as aventuras em quadrinhos de um chefe escoteiro chamado Totor, um protótipo de Tintim. Em 1927, Hergé começa a trabalhar no setor de assinaturas do Le XXème Siècle, jornal católico de linha ultraconservadora editado pelo abade Norbert Wallez.

Preocupado com a ascensão de Josef Stalin (1878-1953) na Rússia, o abade encomenda a Hergé uma história em quadrinhos que alerte os leitores dos males do stalinismo. Assim, Hergé cria Tintim, que em sua primeira aventura é apresentado como um correspondente do jornal que viaja para a Rússia.

A estreia de Tintim acontece em 1929, nas páginas do Petit Vingtième, o suplemento infantojuvenil do Le XXème Siècle. Os capítulos dessa primeira aventura de Tintim foram depois reunidos num álbum lançado em 1930 e se chamou Tintim no país dos sovietes.

Tintim gera polêmica

A segunda aventura de Tintim gerou polêmica: Tintim no Congo, também conhecida como Tintim na África. Ambientada no então Congo Belga (hoje República Democrática do Congo), essa aventura fazia uma defesa do colonialismo belga no continente africano, apesar de todas as atrocidades cometidas pelo governo colonial em relação aos nativos. Essa versão foi posteriormente revisada.

O terceiro álbum, Tintim na América, cuja história é ambientada nos Estados Unidos, foi lançado em 1932 e atraiu críticas por seus estereótipos racistas e antissemitas. Uma curiosidade: trata-se da única vez em que uma personalidade do mundo real aparece numa história de Tintim, pois um dos vilões é o gângster Al Capone (1899-1947), que comandou o crime organizado em Chicago durante a Lei Seca.

O capitão Haddock

O amadurecimento de Hergé como autor teve início com a quinta aventura de Tintim, O Lótus Azul. Publicada em capítulos de 1934 a 1935, a primeira edição na forma de álbum foi lançada em 1936. Nessa aventura, Hergé tece críticas tanto ao colonialismo britânico na Ásia quanto ao expansionismo japonês, denunciando as atrocidades cometidas pelos invasores japoneses contra a população chinesa.

Outra aventura de Tintim que merece destaque é O Cetro de Ottokar, publicada em capítulos de 1938 a 1939 (a primeira versão em álbum é de 1939). A aventura se passa num fictício reino dos Balcãs. O líder da conspiração contada na história é Müsstler, cujo nome parece ser uma combinação dos sobrenomes de dois ditadores da época: Benito Mussolini, da Itália fascista, e Adolf Hitler, da Alemanha nazista.

Para evitar problemas com a censura e com os nazistas, Hergé deixa de lado os temas políticos e se dedica à criação de aventuras mais “inocentes”. Surge um dos mais populares coadjuvantes da série: o capitão Haddock faz sua primeira aparição em O Caranguejo das Tenazes de Ouro (relançado no Brasil com o título de O Caranguejo das Pinças de Ouro), publicada pela primeira vez em capítulos de1940 a 1941 (a primeira versão em álbum é de 1941). Em A Estrela Misteriosa, publicada em capítulos de 1941 a 1942, o fragmento de um meteorito cai no Mar do Norte e uma expedição em busca desse fragmento é realizada.

O editor Raymond Leblanc resolveu apoiar Hergé e lança em 1946 a revista semanal Tintin que trazia quadrinhos de Tintim e de outras personagens. No Brasil, três editoras publicaram os álbuns de Tintim em diferentes épocas. Além disso, uma popular série de desenhos-animados produzida no Canadá é exibida desde meados da década de 1990 e regularmente reprisada pela TV Cultura de São Paulo e pelo Canal Futura.

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