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História geral

Guerra Fria - distensão - Das barricadas de Paris ao governo Jimmy Carter

Gilberto Salomão

Nos últimos anos da década de 1960 o mundo todo explodia num quadro de contestação à ordem vigente. Era a geração do pós-guerra, que vivera sob a ameaça de uma hecatombe nuclear e que já crescera sobre os escombros da Segunda Guerra. Agora, adulta, essa geração buscava afirmar sua busca por novos valores sociais e políticos, fazendo do final dos anos sessenta um dos períodos mais ricos da história em termos sociais.

As manifestações espalharam-se pelo mundo todo: os estudantes, em Paris, criaram barricadas contra o governo de Charles de Gaulle; na América Latina, mais especificamente no Brasil, ocorreram as manifestações mais agudas da luta estudantil e operária contra a ditadura militar; no Leste Europeu, as manifestações se alastravam por diferentes países.

A Primavera de Praga

Na Tchecoslováquia, um dos países da Cortina de Ferro, diretamente sob o domínio da URSS, iniciou-se um movimento liberalizante que teve na figura do presidente Alexander Dubcek seu principal líder. Defendendo o que ficou conhecido como "socialismo de face humana", o movimento, chamado de Primavera de Praga, propunha uma liberalização do regime, maiores liberdades políticas e uma menor dependência em relação aos ditames de Moscou.

Entretanto, o reformismo tcheco ameaçava os interesses soviéticos. Em meio às contestações ao governo norte-americano no mundo todo, Brejnev via uma possibilidade imensa de crescimento da influência soviética no planeta, sendo que, para isso, seria necessário manter cada vez mais rígido o controle soviético sobre as áreas já então sob sua influência.

O risco de uma rebelião ao domínio soviético dentro da Cortina de Ferro era intolerável a Moscou. Assim, em agosto de 1968, tropas do Pacto de Varsóvia invadiram a Tchecoslováquia, prenderam os líderes do movimento, inclusive Dubcek, impondo no poder Gustav Husák, um títere a serviço de seus amos soviéticos.

Nixon

Ante o clima de incerteza e o desgaste de Lyndon Johnson, a reação da população dos EUA, majoritariamente conservadora, foi a de eleger para a presidência o republicano Richard Nixon, de passado altamente conservador. Na biografia do novo presidente constava ter sido o principal auxiliar de Joseph MacCarthy na caça às bruxas dos tempos mais agudos da Guerra Fria.

No entanto, a realidade que esperava Nixon inviabilizava a postura internacional que sua biografia anunciava. Eram tempos marcados pela dramaticidade das contestações à guerra em todo o mundo, tempos nos quais a própria Europa Ocidental, até então uma aliada quase incondicional dos EUA, premida pela pressão de suas próprias sociedades, buscava soluções que apontassem no caminho da paz.

Os acordos Salt

Ao mesmo tempo, a economia da URSS começava a dar os primeiros sinais de desaquecimento, fruto da ineficiência da máquina burocrática que controlava o Estado e dos imensos gastos militares que absorviam a maior parte dos recursos do país e impossibilitavam os investimentos necessários à modernização das atividades produtivas. Com isso, era fundamental para a URSS reduzir a corrida armamentista, o que motivou entendimentos entre as duas potências para a limitação das armas nucleares.

Visando aproveitar-se do crescente desentendimento entre Pequim e Moscou, Nixon buscou uma aproximação com a China. Em 1971, por pressão dos EUA, a ONU aprovava a entrada da China e a expulsão de Formosa. No ano seguinte, Nixon visitou Pequim, conferenciando com Mao Tsé-Tung. Fortalecido com essa aproximação da grande rival da URSS, Nixon, em 1972, visitou Moscou, iniciando um processo de distensão que resultou na assinatura dos acordos Salt (Strategic arms limitation treaty - Tratado de limitação de armas estratégicas).

Por outro lado, essa distensão na relação com as potências comunistas não significou um abrandamento da política dos EUA no seu quintal, a América Latina. Não apenas o governo dos EUA seguiu apoiando ditaduras como a do Brasil, como também patrocinou diretamente o golpe militar no Chile que depôs o presidente socialista Salvador Allende e levou ao poder o regime sangrento do general Augusto Pinochet.

Watergate

Entretanto, Nixon via-se às voltas com graves problemas internos. Em 1972, pouco antes das eleições que o levariam a mais um mandato, o jornal Washington Post iniciou uma série de denúncias que envolviam uma tentativa do Partido Republicano de colocar escutas telefônicas na sede do Partido Democrata, situada no edifício Watergate, em Washington.

A partir daí, as denúncias se alastraram, passando a envolver altos funcionários do governo e o próprio presidente. Mesmo reeleito, Nixon teve que enfrentar uma crescente oposição, além da indignação de uma população ainda ciosa da moralidade pública. Cada vez mais desgastado e sofrendo um processo de impeachment no Congresso, Nixon foi obrigado a renunciar, deixando o poder para seu vice, Gerald Ford.

Durante esse período, enfraquecido interna e externamente, Nixon fora obrigado a negociar a saída dos EUA da Guerra do Vietnã. Ford, enfrentando a perda de prestígio causada pela derrota na guerra e pelo escândalo envolvendo seu partido, não conseguiu reeleger-se presidente, sendo derrotado pelo democrata Jimmy Carter.

Governo Carter

Carter assumiu num momento de repulsa da sociedade americana ao escândalo de Watergate e, ao mesmo tempo, recebendo os ecos da contestação dos anos sessenta. Seu governo foi marcado por uma mudança no discurso e em determinadas atitudes da política externa dos EUA.

No plano do discurso, ocupa um lugar de destaque sua postura em favor dos direitos humanos, o que, na prática, significava um relativo afastamento do governo norte-americano em relação às ditaduras da América Latina e em outras partes do mundo, como o regime iraniano, então dominado pelo xá Reza Pahlevi.

Tal postura acabou revelando-se desastrosa para os interesses dos EUA. Dois aliados fundamentais, Anastácio Somoza, na Nicarágua, e o governo iraniano foram derrubados por mobilizações sociais violentas e fortemente antiamericanas. Na Nicarágua, a Revolução Sandinista colocou no poder um governo nacionalista e com inclinações socialistas, ao passo que no Irã a liderança coube às autoridades islâmicas, tendo à frente o aiatolá Khomeini, colocando o fundamentalismo islâmico pela primeira vez no poder.

Ao mesmo tempo, o governo Carter intensificou as negociações para limitação da produção de armas nucleares com a URSS e em seu governo celebraram-se os acordos de Camp David, iniciando os entendimentos entre os países árabes e Israel, com vistas a colocar um ponto final nos conflitos do Oriente Médio.

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