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Almeida Garrett - Homem de letras e expoente cultural

Oscar D'Ambrosio, Especial para a Página 3 Pedadogia & Comunicação

Escritor e dramaturgo romântico português, Almeida Garrett (1799-1854) é um dos principais incentivadores do teatro luso e uma figura de destaque não só como homem de letras, mas também como expoente cultural, já que propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.

Especificamente no teatro, sua primeira obra de destaque foi, em 1838, Um auto de Gil Vicente. Seis anos depois, publicou a peça que é considerada a sua obra-prima: Frei Luís de Sousa, apontada pelo crítico alemão Otto Antscherl a “obra mais brilhante que o teatro romântico produziu”.

O que existe de comum nessas obras é o enfoque na história nacional e uma naturalidade dos diálogos numa época em que os enredos privilegiavam a Antiguidade Clássica. A espontaneidade e a simplicidade também se fazem presentes nas coletâneas Flores sem fruto, de 1844, e Folhas Caídas, de 1853, que são marcos importantes perante a poesia portuguesa escrita até aquele momento.

Algumas características que merecem destaque são a liberdade da metrificação, o vocabulário comum, o ritmo e a pontuação caracterizados pela subjetividade. A poesia popular e até mesmo as cantigas medievais são evocadas, além de textos em que existe uma predominância da subjetividade.

Entre os textos em prosa, Viagens na minha terra, de 1846,  é considerada uma obra-prima por mesclar dois elementos. De um lado, existe a digressão autobiográfica real de uma viagem que Garrett realmente fez de Lisboa a Santarém, em 1843; por outro, uma história que envolve personagens como Carlos, Frei Dinis e Joaninha.

Considerado inaugurador da moderna prosa literária portuguesa, o livro afasta-se da tradição densa da prosa clássica e antecipa, por exemplo, o que faria Eça de Queirós. Componentes jornalísticos e dramáticos também se relacionam, acentuados por uma narração que incorpora, assim como ocorre no teatro, diversos fatores da linguagem oral.

Alguns personagens têm facetas simbólicas bem delineadas. É o caso de Frei Dinis, associados a aspectos positivos e negativos de um Portugal absolutista já ultrapassado; e Carlos, vinculado de diversas formas a uma visão renovadora e liberal. Os insucessos deste último, de alguma forma, indicam para um país ainda abalado por uma guerra civil em busca de padrões mais modernos.

Diferentes análises da obra enfatizam aspectos híbridos na sua construção, que reúne abordagens de vários gêneros, como literatura de viagens, novela sentimental, memória autobiográfica, ensaio sociológico-político, diário íntimo e prosa de ficção. Nesse aspecto, existe a possibilidade de mergulhar na criação por traços geográficos, culturais e políticos, algo bastante inovador num período em que predominavam os romances históricos.

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